• 34 •

7 2 1
                                    

Os gritos de medo foram a reação mais básica entre os doze.

Sem nenhuma exceção pudemos deixar o terror nos dominar diante da fênix que se aproximava do príncipe.

Imaginei tudo e qualquer coisa numa aula dada pelo Palácio mas lidar com um animal daquele tamanho e porte  foi o ápice para a loucura tomar conta de minha mente.

Calmamente, como se fosse até um bom cachorro, a fênix sentou no chão pelas patas dianteiras. Sage levantou assim que os burburinhos cessaram, e se pôs a falar sobre como poderíamos dividir uma vida com um animal tão raro quanto aquele.

— Não deixei que lhes fosse apresentado todo o Palácio para que momentos como esse fossem preservados. Este é Órion, o pai fênix. — ele sussurrou algo para o servo que estava ao seu lado antes de finalmente voltar a falar conosco os tópicos da aula. — Enquanto os estudiosos escondem fênix em simples livros do Egito Antigo e unicórnios em livros infantis, nós fazemos questão de abrigar todos esses seres míticos num lugar só.

Os burburinhos voltaram com toda força no salão. Éramos apenas nós, os doze escolhidos, os servos que estavam ao nosso redor e Sage. Mas as vozes se espalhavam como ondas no grande salão.

O sorriso de Sage se abriu diante de nós deixando apenas o ar do mistério. O servo com quem o princípe havia falado antes retornou com as expressões leves demonstrando satisfação.

Era aquilo mesmo. Sage apenas acenou com a cabeça para o servo que saiu contente pelo salão.

— Acho que chegou a hora da aula prática.

Sage fez com que nós fôssemos até a ponta janela alta e se juntou ao grupo sendo o primeiro da fila.

— KLAUS!

Não demorou nenhum meio segundo para o vento nos invadir. Estávamos todos eufóricos sentindo uma força sendo puxada para cima.

Asas com escamas apareceram diante de nossos olhos. Já não bastava a fênix que apareceu para que o princípe a montasse, um animal tão impetuoso quanto seu dono, seu aspecto reptiliano foi a característica que mais me deu medo.

Quase engasguei quando Sage nos mandou subir no Dragão à nossa frente.

Suas narinas dilatadas empurravam ar quente de volta para a superfície e me perguntei quem teria tamanha coragem de montar naquele animal.

Eu confiava em Sage, com todas as minhas convicções mas aquele passo parecia audacioso demais até para mim.

Em meu interior uma voz parecia me encorajar, me incentivar à algo a mais, porém enquanto eu andava a fim de me aproximar daquele ser perto da janela, o irmão mais velho da família Piazza ousou dar os passos necessários para subir no Dragão.

Ele era alto e seu corpo forte garantia precisão nos movimentos necessários para que ele sentasse.

O animal que cobria mais que a metade das grandes paredes do grande salão não se moveu. Apesar de sua face ser expressiva, forte, impetuosa, naquele momento ele parecia estar calmo o suficiente para aguentar os cochichos de nós jovens enquanto subíamos seu dorso.

Matthew estava atrás de mim, naquela confusão toda, por causa do medo, as meninas sentaram primeiro, cautelosamente no meio das costas da grande fera. E eu como era a última, e provavelmente a mais temerosa, segurei nas mãos de meu amigo para que juntos subíssemos.

Depois que nós já estávamos sentados Sage alçou vôo na fênix de extremidades claras e rodopiou no ar com ela enquanto dávamos a volta no Palácio.

O trajeto do Dragão não envolveu nenhuma aventura extra, como o princípe estava a fazer à nossa frente, mas quando nosso meio de transporte precisou estar acima da torre para ganhar ainda mais velocidade na descida para o penhasco meu medo ressurgiu.

Apesar de minhas aventuras na lira e no tecido eu tinha medo de altura, principalmente naquilo que eu não tinha controle, como era o caso. Meu corpo tremeu enquanto o ar forte me tocava com ímpeto, senti toda a força da gravidade nos puxar com cada vez mais afinco para o chão. E foi ainda mais assustador sentir a falta de controle que tínhamos quando o chão se aproximava com velocidade e os gritos eram mais altos que o som dos ventos nos meus ouvidos.

Como se nada estivesse acontecendo, Sage foi o primeiro a saltar no chão, arrumando seu belo traje branco, nos encorajando a descer com um belo sorriso nos lábios.

O príncipe pelo menos havia se divertido com aquilo.

Minhas pernas estavam bambas.

Nós meninas fomos as últimas a descer, os meninos, os que puderam demonstrar coragem, nos ajudaram a descer pegando-nos pela cintura e nos pousando com firmeza no chão.

Após dez minutos de descanso pudemos sentir nosso corpo responder ao solo. Eu já estava sentada naquela altura, vendo Dove e uma de suas amigas expulsando todo o café da manhã atrás de uma das grandes rochas que nos cercava.

Estiquei meu corpo num alongamento simples usando dos mantras sagrados para tirar aquelas imagens de minha mente. Senti a presença de alguém se aproximar e eu soube que Dove estaria se recuperando quando Matthew sentou ao meu lado.

Ele continuava com a cara de sempre. Sua atenção, apesar de seu rosto estar voltado para mim, se fixava no príncipe que conversava com uma das outras meninas que estavam passando mal, e ele não escondia em seus olhos escuros nenhum receio do que provavelmente viria por aí.

Bem diferente de minha pessoa.

— Você já parece um deles. — falei encostando minha cabeça em seu ombro.

Ele apertou meus dedos entre os seus e eu pude sentir a mesma segurança que eu encontrava nos olhos de Ariel. Parecia que Matthew realmente já era um deles.

Senti sua respiração relaxar ao meu lado, e seu corpo adotar uma postura melhor. Ele tocava as pontas dos meus dedos que estavam avermelhados por causa do frio até finalmente tomar coragem para responder.

— Eu sonhei com isso aqui desde pequeno. Meu pai se tornou um original da cidade antes de se casar com minha mãe e eu cresci vendo eles passarem para as missões, sabe. Eu aprendi que não era preciso eu estar com um uniforme da guarda para ser um deles. E se eu estou aqui hoje é porque isso é verdade.

Fechei os olhos sentindo meus pêlos se arrepiarem conforme suas palavras, imaginei-me novamente na sala da minha casa, aos meus 16 anos, treinando todos os tutoriais que eu encontrava na internet durante as madrugadas para alcançar o en dehors perfeito.

Compreendi ele perfeitamente enquanto ele detalhava o que tinha feito ao longo de sua juventude, principalmente sobre crer que um dia estaria ali, fazendo parte dos escolhidos.

As meninas se juntaram a nós depois de um tempo e pudemos compartilhar as experiências que tinham nos marcado ao longo da vida.

Dove se mostrou ainda mais aberta do que eu. Revelando o quanto ela não acreditava nos benefícios internos de ser membro do Reino.

Fiquei ainda mais intrigada depois de ouvir que nem todos os moradores de Sarin faziam parte da nobreza, ainda que fossem súditos do mesmo Rei.

Nossa conversa fluiu bastante. Soube pela amiga de Dove que apenas os moradores de Hasse estavam protegidos completamente e ainda assim podiam se afastar do Reino e pertencerem a outro Rei.

Ela não entrou em detalhes ao falar ele em suas palavras, porém minha mente trabalhou com aquela pequena fagulha de dúvida que surgiu com a citação de um suposto outro rei.

Perguntei a Matthew se os outros países também estavam envolvidos nessa divisão de terras e domínio mas não tive nenhuma resposta concreta da parte deles.

Ou seja, de alguma maneira aquele assunto não podia ser tocado tão abertamente.

Com falsas crises de tosse, risos e olhares amigáveis, os irmãos Miller e Talia me fizeram levantar como se soubessem que o princípe começaria a aula.

Eu que estava tão relaxada, me sentindo inclusa na amizade do Palácio, senti uma pequena onda de temor me circular.

Não demorou muito para Sage voltar a sorrir e uma onda de mistério nos inundar.

Por Trás das NuvensOnde histórias criam vida. Descubra agora