I can't.

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Olivia me encarou com seu olhar cortante, e eu não pude deixar de sentir um enorme frio na barriga. Eu não pude deixar de sentir uma insegurança do tamanho daquele prédio em que estávamos. Eu sabia que depois de colocar todos os pingos nos i's não teria mais volta, e o fato de não fazer a menor ideia do que aconteceria em seguida me apavorava.

Olivia limpou a garganta, me chamando a atenção.

- Eu não tenho a noite inteira, Theodora. – Ela disse de maneira seca e eu me ajeitei na cadeira em que estava sentada.

- Não sei por onde começar... – Disse antes de respirar fundo. Um nó se formou em minha garganta e eu sorri claramente nervosa. – Eu só peço que me ouça com atenção e que seja maleável, ok? – Completei, vendo a mulher em minha frente assentir.

Seus olhos estavam fixos em mim e eu não tinha mais para onde ir, seria ali e naquele exato momento.

- Eu nunca quis usar o dinheiro do meu pai pra nada que envolvesse a minha carreira, e eu não sei se sabe disso, mas eu nunca quis nada vindo dele. Meu nome me ajudou, claro, meu pai sempre teve contatos em todos os lugares e eu sei que se não fosse por isso eu não teria conseguido tão rápido um contrato em uma gravadora do porte da Republic. – Falei, vendo Olivia assentir. – Mas meu nome não me isentou de passar por uma situação tão batida no meio musical. – Completei, vendo a mulher apertar os olhos, esperando que eu continuasse. – Eu gosto de mulheres, Olívia. E eu não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Nem a minha empresária... – Hesitei, sentindo minhas mãos suadas. – Quando aquelas fotos saíram, as fotos em que eu apreço beijando outra mulher, as coisas mudaram. Antes era tudo sobre as minhas músicas, composições, era tudo sobre minha voz e sobre o barulho que meu nome estava fazendo. Então algumas fotos surgiram e agora eu não passo de uma marionete. – Naquele momento a raiva já era nítida em meu tom de voz.

Eu me contorci em meu lugar, impaciente, sentindo os olhos de Olivia me observarem.

- Ele não é meu namorado! – Falei irritada. – Nada daquilo é real, nunca foi. Eu não suporto essa situação, eu não suporto ver aquele vídeo clipe em todos os lugares, eu não suporto as manchetes. – Meus olhos marejaram. – Mas eu não posso fazer nada porque eu assinei a porra de um contrato. Eu estou presa nisso, presa em uma mentira. Eu preciso sorrir e atuar, fazendo as pessoas acreditarem que ele é o amor da minha vida, e nada mais importa a não ser essa merda de relacionamento. Eu perdi minha voz, minhas músicas perderam o sentido, e eu não vejo mais meu nome sem que o dele esteja do lado. – Eu sentia um misto de tristeza e raiva, enquanto tentava decifrar as expressões de Olívia, que não esboçava nenhuma reação.

Tomei a liberdade de ir até o seu pequeno bar e encher um copo com uísque para mim, tomando todo o líquido do copo de uma vez, sentindo a queimação descer por minha garganta.

- Às vezes eu só queria deixar tudo para trás e sumir. – Falei, encarando Nova York pela enorme janela.

Olivia me olhava, ela não havia tirado seus olhos de mim desde o momento em que eu abri minha boca, mas seus olhos não me diziam nada. Eu não conseguia imaginar o que se passava dentro dela. Eu estava no escuro.

Sem saber o que aconteceria dali em diante, fechei meus olhos com força, sentindo uma enorme vontade de chorar.

- Theodora. – Ela disse em um tom calmo e firme, se levantando, vindo até mim. – Como tudo isso foi acontecer? – Ela perguntou quase que para si mesma, parando ao meu lado.

- Eu não sei. – Disse um pouco mais baixo. – Eu deveria ter lido o contrato direito, deveria ter lido mais vezes, eu deveria... – hesitei, sentindo-me frustrada. – Eu não podia continuar a viver a vida como eu estava vivendo. – Confessei, me virando para Olívia, que tinha seus olhos perdidos na vista para a cidade.

Song Like You.Where stories live. Discover now