Capítulo 7

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Arizona

A minha mãe morreu nessa madrugada. Da última vez que ela conseguiu falar alguma coisa, me contou sobre um filme que assistiu na tv. Que tinha uma menininha loira que a lembrava de mim. Minha mãe passou a vida me ensinando a ser forte, quando ela descobriu que estava doente a alguns anos começou a me dizer que eu deveria ser corajosa, que eu poderia conquistar o mundo se quisesse, que, eu poderia me casar, estudar, trabalhar, ter filhos, conhecer o mundo, que eu poderia fazer qualquer coisa eu só não poderia desistir. Mas, no momento, eu quero desistir.

Já decidi que vou voltar para cá, de onde eu não deveria ter saído. Vou terminar esse mês para pagar o que estou devendo para Callie já que ela adiantou meu salário ainda faltando duas semanas para o dia do pagamento e vou voltar para o interior. Ir para a capital foi um erro, conhecer a Callie foi um erro, aceitar aquele emprego foi um erro. Ontem eu fiquei preocupada com uma bêbada que está sofrendo por uma mulher morta a 21 anos enquanto pessoas estão passando por coisas reais, eu estou passando por uma coisa real.

Como Addison disse que faria, me mandou uma mensagem pelo celular da Callie. Pela manhã, agora imagino que seja a própria dona do celular, mandou outra mensagem, mas nem me dei ao trabalho de responder.

“Arizona, aqui é a Addison. Esse é o número de celular da Callie caso precise de algo ou para conversar. Boa noite.” ~ Callie 00:21

“Bom dia, Arizona. Está tudo bem? Addie me disse que você ligou ontem, eu estava um pouco indisposta por isso não atendi. Se precisar de algo ou acontecer algo pode mandar mensagem por aqui ou ligar. Como está a sua mãe? Melhoras?” ~ Callie 08:03

Não quis que fosse feita autópsia então o corpo foi liberado para velório, decidi fazer hoje mesmo. Odeio olhares de pena e sei que são inevitáveis em velório. Cidade pequena onde todo mundo se conhece parece que tudo para quando alguém morre, vi muitos rostos conhecidos que vinham me cumprimentar com palavras que acreditam ser as mais reconfortantespara o momento. Me conforta saber que minha mãe foi amada por tanta gente.

April não saiu do meu lado um segundo, esteve lá quando recebi a notícia, quando levaram o corpo, quando o velório iniciou até o momento que o enterro aconteceu.

- O que pretende fazear agora? – April me abraçou por trás na cama formando uma conchinha.

- Sinceramente April, eu não sei. Vou voltar a morar aqui. Vou me despedir daquela mansão idiota com aquela chefe idiota. Eu deveria ter ficado aqui com ela – volto a chorar intensamente – Eu aceitei aquele emprego horrível, com uma chefe doida pra caramba que construiu vários cômodos pra uma mulher morta, e o pior é que ela está me deixando perturbada. Eu tenho sonhado com essa mulher, April. E nos meus sonhos eu sou essa mulher. Eu acabei de perder minha mãe e eu odeio a Callie, odeio aquela droga de casa, eu só quero sumir, April.

No fundo nada disso era verdade, eu gosto daquela casa, dos outros funcionários e bem, Callie não é tão ruim quando não faço nada errado.

- Ari, você voltar para cá está fora de cogitação. Alugue essa casa e se realmente quiser sair da mansão da senhora Torres você sabe que tem meu total apoio, eu nem queria você lá para começo de conversa. Mas depois você pensa sobre isso maninha. Vai ficar tudo bem eu prometo.

Ela me deu um beijo e depois de alguns minutos percebi que ela dormiu. Já estamos a dois dias sem dormir devido a tudo. Levanto e vou até a cozinha, estou longe de estar com sono e preciso avisar Callie que ainda vou passar mais um dia aqui, já que antes o combinado foi que eu iria embora na noite de hoje.

“Eu me demito” ~ Arizona 21:34

“Do que você está falando? Aconteceu alguma coisa?” ~ Callie 21:36

Em outra vida - CalzonaOnde histórias criam vida. Descubra agora