tentativa um

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Sempre gostei de olhar pro céu. Há um quê de imensidão e possibilidades quando se olha diretamente pro infinito. Gosto de como as luzes refletem dum jeito que o torna menos sombrio, mais azul e brilhante pelas manhãs. Mas gosto ainda mais da escuridão da noite.

Gosto porque pequenos pontos cintilantes numa imensidão negra me lembra o que é necessariamente ter esperança. Elas brilham tão felizmente num céu tão vasto e bonito, tão escuro e infinito. Tão silencioso tal que se torna estrondoso. Acende em meu peito uma vontade de brilhar também.

O despertador tocou, tirando-me de meus devaneios de insônias. Infelizmente é segunda, infelizmente a vida volta ao normal, infelizmente precisamos seguir em frente, seguir a maré, mesmo quando temos uma vontade colossal de estagnar. De afundar.

Sempre me perguntei se seguir a maré não é equivalente a estagnar ou afundar, afinal, não mais eu quem me controla. É autômato. Enquanto questiono o significado da vida e sinto a tristeza me assolar, continuo me preparando para mais um dia na faculdade. Na faculdade a qual eu sou invisível. Tênis, ok. Camiseta, ok. Calça, ok. Bolsa, ok. Chaves, ok. Vitamina, ok.

Parece que eu não tenho mais no que me alongar antes de marchar em direção ao inferno. Ironicamente, o inferno em questão é de frente para o meu prédio, ou seja, eu dou menos de 200 passos para chegar nele. Viva!

Não vejo sentido em continuar num lugar que não me agrada em qualquer que seja o aspecto. Não vejo muito sentido em fingir paixão para com os outros ou fingir interesse em conversas banais. Elas não me interessam, não há nada que desperte uma gota de devoção em mim. Entretando eu continuo vindo e continuo nesse contínuo leve e traz da correnteza.

Idiota eu era, porque mal percebi você chegando. Não percebi quando você se sentou ao meu lado. Não percebi quando você sorriu para mim do seu jeito meigo e doce. Idiota eu, porque sequer notei o brilho nos seus olhos cor de carvão. Eram estupidamente lindos, tanto quanto diversas estrelas cintilantes. E então você falou.

Uma única palavra, uma única vez e eu senti o mundo parar. Por um milésimo de segundo ou uma eternidade, não seria capaz de dizer, mas ele parou.

— Oi.

Céus, eu estou nos céus. Foi o que pensei naquele momento, pois uma voz tão bela e angelical havia sido dirigida a mim. Oi, oi, oi, oi, oi, oi, oi... Não pararia de repeti-la em minha mente nem se quisesse e com essa repetição infinita você sorriu, levou a mão ao centro do corpo com os dedos no formato dum "o" e levantou o mindinho movendo a mão em círculo.

"Oi" você me disse novamente, em libras. E eu pensei, por deus, se eu pudesse me apaixonar que fosse por esse ser que estava em minha frente com esse sorriso tão lindo no rosto.

— Oi. — Eu finalmente te respondi

— Ah! Então você fala. — Havia surpresa e algo em seus olhos que eu não pude reconhecer, não conhecia o suficiente para isso.

— Perdão. Falo, sim. Meu nome é Akira.

— Que nome diferente! Qual a origem? O que significa? — você perguntou tantas coisas seguidas com tamanho entusiasmo que me contaminou.

E eu odiava conversa fiada. Então eu te expliquei sobre minha descendência, expliquei sobre meus pais e sua viagem ao Brasil. E você ouviu.

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⏰ Última atualização: Apr 19, 2021 ⏰

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