Capítulo 2🏍Gisele Prata🏍

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Florianópolis;

Antes de pegar a estrada, passo no hostel onde mantive um quarto nesses cinco anos que estudei na UFSC. Estaciono em frente ao prédio antigo. Está entardecendo, nesse horário costuma ter pouco movimento de universitários. Isso é bom, assim evito a especulação de curiosos. Entro no elevador antigo. Desço no terceiro andar. Atravesso o corredor estreito. Aceno a cabeça para um carinha que aguarda sua vez na porta do banheiro. Paro em frente ao quarto de número 28 que fica já no fim do corredor, tiro a chave do bolso e entro.

No meio do pequeno cômodo de piso de madeira dou um giro de 360 graus. Nunca fui de acumular coisas, então o pouco que faço questão de levar cabe em minha mochila surrada. Pego meu outro par de botas, algumas camisas e pequenos objetos pessoais. Jogo minha jaqueta de estimação no ombro, seguro o capacete e me preparo para sair, mas paraliso com a mão na maçaneta da porta quando ouço o início de uma discussão no corredor. Encosto na porta ao ouvir vozes conhecidas...

_ Já te falei para não aparecer aqui sem avisar, Gisele! Estou com companhia. Não posso te dar atenção agora. _ O brutamontes parece discutir com Gi no corredor.

_ Não pode me tratar assim, Guto! Prometeu ficar comigo e me apoiar. Mas agora que conseguiu o que queria me troca pela primeira piranha que cruza seu caminho? Seu canalha!__ Ouço o som de pancadas na porta ao lado. Parece que Gi está forçando a entrada no quarto do grandalhão que saiu no braço comigo no outro dia no Hunter's.

Não sei como uma garota tão bonita e inteligente como a Gi é capaz de se envolver com um tipo desses.

Ela continua insistindo e o ignorante gritando. Juro que se esse covarde tentar agredí-la, vou acabar voltando para a cadeia, mas terminarei o que comecei lá no Hunter's!

__ Se suspeitarem de mim, não vou segurar essa bomba sozinha!__ Ela ameaça.

__ Cale essa boca Gisele!

__ Estou falando sério, Guto! Entrei em seu jogo e fiz seu trabalhinho sujo. Mas Bento está preso agora! Não vou segurar essa barra sozinha!

__ O que foi? Está com pena do almofadinha? Não deveria. Vi como ele te tratou lá no Hunter's!__ Ouço o riso de escárnio de Guto.

__ Como fui burra em te dar ouvidos. Você é um completo imbecil!

__ Veja como fala comigo sua biscate!__ Ouço um gemido de Gisele. Ele deve estar a machucando. Minha mão aperta na maçaneta, mas acaba congelando ao ouvir o fim da discussão.

__ Eu só queria deixá-lo um pouco sonolento para passar mais uma noite com ele. Tenho certeza que depois disso ele voltaria atrás e me levaria com ele para a fazenda da família rica.

__ Acontece que eu não tenho culpa do seu amado ser um completo idiota e sair por aí dopado de moto em alta velocidade. Não é minha culpa ele ter atropelado aquele homem.

__ É sim! Você que me deu aquela droga para jogar na cerveja dele. O que era aquilo, Guto? E se fizerem exame nele e ele suspeitar de nós?

__ Fale baixo, sua idiota! Você vai acabar entregando a gente com essa boca grande...

Não termino de ouvir a discussão. Acho que Guto acabou cedendo e deixando Gisele entrar em seu quarto, pois as vozes ficam abafadas.

Dane-se Gisele! Esses dois se merecem!

Desabo na cama.

Bartolomeu que estava certo em suas suspeitas. Fui drogado por essa vadia que pensei ser minha amiga. Tudo bem que nas últimas semanas ela estava muito diferente. Seu comportamento mudou completamente desde o dia que resolvemos sair juntos como um casal. Mas Gisele sempre soube do meu jeito desgarrado. Nunca iludi ninguém com promessas falsas.

Não sou o tipo que finca raízes. Deixei claro para ela não criar expectativas ao meu respeito. Gisele concordou. Disse que também queria só se divertir. Mas de repente ficou grudenta, começou a cobrar exclusividade e atenção. Até que cismou que tinha que vir atrás de mim para conhecer a fazenda de minha família.

Jogo o corpo para trás, me deitando na cama. Ergo o antebraço e fecho os olhos, relembro os fatos daquela noite...

Tinha acabado de ter uma discussão no telefone com meu irmão mais velho. Expus minhas intenções a Bartolomeu. Deixei bem claro que agora que havia terminado a graduação em História, pretendia pegar minha parte por direito da fazenda e ganhar o mundo. Queria viajar pela Europa, África e Ásia como mochileiro. Conhecer outros países e ter contato com novas culturas sempre foi minha grande paixão. Mas Bartolomeu foi contra de primeira. Disse que se eu queria fazer isso, teria que trabalhar para conquistar meu próprio dinheiro, porque eles não tinham intenções de vender a fazenda e nossa mãe ainda está viva. Eu não poderia requerer minha parte agora. O pior é que Bruno apoiou a decisão de Bartolomeu. E eu como minoria não tive muito o que reclamar.

Revoltado por meus irmãos estarem atrapalhando meus planos, resolvi dar uma volta de moto para espairecer a mente. Parei no Hunter's, bar frequentado pela maioria dos universitários da cidade, para tomar uma cerveja antes de voltar. Mas Gisele, que é garçonete do estabelecimento e minha colega de faculdade, começou com o mesmo papo insistente. Encheu minha cabeça com uma história de que eu era a única pessoa que poderia levá-la desse lugar, pois a família queria que ela permanecesse aqui depois de formada. Gisele é ambiciosa. Não a recrimino. Porém seus métodos são bem tortos, posso ver agora.

Depois de lhe dar um fora, para fazê-la entender que não pretendo levá-la comigo e muito menos de que não haverá segunda vez entre nós, ela se afastou do balcão fazendo biquinho. Me senti desconfortável pela forma dura e fria que falei, mas acho que se tratando de uma situação como essa é preciso ser sincero. Não sinto nada por Gisele e é melhor que não crie expectativas. Não queria que a garota sofresse, afinal fomos bons amigos por esse tempo que estive estudando no Sul.

Algum tempo depois notei que Gisele conversava com uns caras de outra mesa. Olhei de lado e notei que Guto era um deles. Eles conversavam e me olhavam tentando ser discretos, mas falharam. Assim que terminei minha cerveja, deixei o dinheiro no balcão e comecei a sair. Foi aí que tudo começou. Guto tentou me provocar com xingamentos e ameaças. No início, não dei muita ideia, pois estava de saco cheio de tudo. Mas ele insistiu nas provocações embarreirando meu caminho e me empurrando. Acabei cedendo e desferi o primeiro soco que gerou uma briga acalorada. Até que o dono do bar nos colocou para fora.

Gisele foi tão cínica que ainda se fez de amiga, gritando meu nome, tentando separar a briga e correndo para fora do Hunter's quando fui lançado ao chão. Me levantou, secou o sangue que escorria do canto de minha boca, e quando reclamei que minha cabeça doia, ela foi lá dentro pegou um copo d'água e me ofereceu um analgésico. Na certa, mais algum tipo de droga para me apagar. E eu ingênuo, aceitei e tomei. Agora estou sendo acusado de um crime ao qual nem me lembro direito como ocorreu...

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Fazenda 3 Irmãos-Um bad boy apaixonado. Vol.3Onde histórias criam vida. Descubra agora