Capítulo 17 - drivers license

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"Sim, hoje eu dirigi pelos subúrbios. Porque como eu poderia amar outra pessoa?"
Olivia Rodrigo - Drivers License

...

Procuro Amy por todos os lugares e não a encontro. Já estava um pouco tarde e eu não consegui de fato curtir a festa como achei que iria curtir. E eu não poderia ir embora sem antes falar com ela, afinal viemos juntos.

Direciono ao andar de cima, único lugar que não havia procurado ainda. Não havia muitas pessoas aqui na parte de cima, na verdade bem poucas.

Abro uma das portas que havia e escuto um barulho de torneira ligada e alguém chorando.

- Olá, Amy? - pergunto na esperança de que ela estivesse ali também.

- Dam? - ela responde com a voz um pouco fraca.

Ela era a única que estava ali, chorando enquanto lavava o rosto. Vou onde ela se encontra e a apoio para que não caia.

Amy havia bebido demais por algum motivo que eu ainda desconhecia, e estava chorando, eu precisava muito saber o que tinha acontecido. Ela não é de beber dessa forma exagerada, e ainda mais numa situação totalmente fora de sua zona de segurança.

Caminhamos até quase chegar à porta e ela pediu para esperar um pouco que estava ficando tonta. Sentei-me com ela para esperar um pouco e ela simplesmente apagou.

Tentei a levantar segurando em seus braços, mas sem muito sucesso. Sentei-me então no chão e escorei a sua cabeça em meu colo para que repousasse sem machucar. A única maneira agora de sair dali era esperar ela retomar um pouco a consciência, pelo menos a ponto de conseguir se arrastar.

Infelizmente iria ter que esperar que isso acontecesse ali mesmo no chão gelado, observando a cortina cinza que cobria a janela, que se estendia de ponta a ponta na parede, que por sinal também tinha uma cor em tons de cinza. Muito mórbido.

Alguns minutos se passaram e finalmente ouço a porta do quarto abrir e um rastro de luz entrar junto com a sombra de alguém. Era o Thomas.

- O que houve com vocês? - disse se aproximando parecendo assustado. Não respondi, apena baixei a cabeça e olhei para Amy. Eu estava exausto.

Acredito que de início ele não havia percebido que eu estava acordado e bem, só depois de se aproximar percebeu que Amy era a única que estava desacordada. Seus ombros relaxam um pouco enquanto observa atentamente para ela.

- Eu sei que temos nossas pendências, Adam. Mas o importante no momento é ajudar a Amy, então por favor vamos deixar para resolver nossos problemas uma outra hora. - disse sem pressa, como se estivesse calculando minunciosamente cada palavra que saia de sua boca. Sua voz era suave e quase como se estivesse rouca. - O que houve com ela?

Ele tinha razão nesse momento. Eu não poderia me colocar ou colocar a nossa situação acima do bem estar da Amy. E mesmo não sendo próximo dele na atual realidade, eu sei que ela é e ele se importa.

- Acredito que ela pesou na mão na hora de ingerir álcool. - Respondi após alguns segundos de silêncio. - Não deve estar nem um pouco acostumada.

- Nossa, mas porque que ela bebeu tanto dessa maneira? - ele pergunta, mas não é como se fosse uma pergunta que precisasse de uma resposta naquele momento. Soa mais como se fosse um pensamento alto. - Vamos, eu te ajudo a levar ela até o carro.

Eu não queria a ajuda do Thomas, não queria parecer que eu estava cedendo atenção demais a ele, mas ainda assim eu estava aliviado por alguém ter aparecido.

Quando ele falou "eu te ajudo a levar ela até o carro" eu imaginei que nós dois levaríamos ela, mas ele simplesmente a colocou em seus braços, eu apenas carreguei sua bolsa e abri passagem até o carro. Abri a porta do banco traseiro e ele a colocou deitada sem nenhum esforço. Talvez eu precise fazer um pouco mais de exercícios?

- Pronto. - disse ele virando para me olhar. - Você também bebeu? Porque você vai dirigir e não seria...

- Não, eu não bebi. - Interrompo antes que ele pudesse terminar de falar.

O silêncio que se forma após eu pronunciar as últimas palavras é absurdo. Mesmo com o barulho distante da festa eu consigo ouvir claramente o som de alguns grilos cantando, das folhas secas sendo carregadas pelo vento e até mesmo dos batimentos do meu coração, que estavam por algum motivo acelerando exponencialmente.

Dou alguns passos em direção ao carro para fechar a porta, e sinto um toque gelado na minha nuca, que me faz dar um pequeno salto de susto. Era a mão do Thomas.

- Calma, você esqueceu de tirar a etiqueta. Vou apenas puxar para você. - disse ele enquanto tentava puxar a etiqueta de minha camiseta.

Como que eu não senti esse pedaço de papel durante todo esse tempo? Como ninguém percebeu antes que ela estava aí? Ou melhor, como A AMY perfeccionista e detalhista não percebeu e me alertou?

Meus pensamentos são espalhados na minha mente como fumaça se espalha no ar com o vento quando eu senti um toque macio na minha nuca. Automaticamente fico gelado e sinto os pelos do meu corpo levantando-se um por um, como se eu estivesse recebendo uma corrente elétrica de alta tensão. Os lábios de Thomas estavam tocando a minha nuca naquele momento e eu quase não consigo segurar minhas pernas.

- Desculpa, não conseguia tirar com a mão. - disse me mostrando a etiqueta.

Foi nesse exato momento que eu me perdi. Me perdi em meus pensamentos, me perdi no tempo, naquele exato momento. Eu não sabia quem eu era ou o que estava fazendo, não sabia o que falar ou se tinha que falar. Minha cabeça estava tentando processar alguma coisa, mas parecia que eu estava lendo um livro em mandarim. Tinham memórias, conversas e sorrisos, tudo misturado em um lugar só. Como se eu tivesse uma caixinha na cabeça onde elas estivessem todas guardadas e sete chaves, e essa caixinha tivesse sido aberta sem que eu percebesse.

- Adam? Você está bem? Parece pálido. - Pergunta Thomas tentando me tirar de meus pensamentos.

Demoro alguns segundos para conseguir colocar minha cabeça no lugar novamente.

- Como? - pergunto. Não é como se eu não tivesse escutado o que ele falou. É mais um modo de reagir quando se está distraído o suficiente para não ter tido tempo de raciocinar uma resposta plausível.

- Perguntei se está tudo bem contigo. - Repete ele.

- Hum. Sim, estou bem. - Digo me perguntando se eu deveria dar alguma explicação, e acho melhor não. Sem aberturas para diálogos profundos. - Bem, eu vou indo levar a Amy para casa.

- Não precisa de ajuda? - pergunta.

Mas o que ele estava querendo? Que eu pedisse ajuda para ligar o carro?

- Não, obrigado. Agradeço a ajuda também. Avisarei a ela que você a ajudou. - disse e caminhei para entrar no carro.

- Dirige com cuidado, Dam. - disse antes que eu entrasse no carro.

Não sei descrever exatamente qual foi a minha expressão facial naquele momento. Eu estava cansado, confuso e nervoso, então talvez ela não tenha sido das melhores. Acho que eu acenei em sinal positivo com a cabeça, mas eu não vou afirmar com toda certeza isso.

Uma pequena sementinha foi plantada na minha cabeça hoje. Não, ela não foi plantada, acredito que ela sempre esteve ali. Mas hoje ela foi regada. Talvez o solo não esteja tão rico para que ela consiga se desenvolver, e é melhor assim mesmo.

enquanto houver razões (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora