Como Um Domingo De Anos Atrás; MYG

🌺Domingos de Você

O tempo em dias de domingo parecem mudar.

O tempo se permeia em uma atmosfera distoante da outra à cada semana: as vezes, idílica, em prelúdio a semana que me trará a esperança de uma infância já passada, com um toque de paz etérea. Quase um sonho com contagem regressiva.

Já em outros, possuí a escuridão de dias abstantes do sol; com um nublado diferente dos que me fazem querer pintar um quadro na branquitude pacífica e plácida do céu enevoado.

É em dias assim que você vira reminiscência, um fantasma camarada que me recebe de braços abertos no domingo, voltando para mim com uma ternura gasta e já inexistente.

Me arrasto da cama, sentindo a superfície gélida do chão em meus pés, sendo esta a prova de que quem convive 24 horas com o mundo se transforma em gelo, enregelado em tristeza pelo caos cheio de tragédias que o mundo passa por pura ignorância humana.

Você, antes de ser tudo, para mim era gelo. Julguei sua superfície, vendo-o pela fachada de vidro da floricultura em um domingo de atmosfera idílica com o aroma doce das flores como background das minhas indagações.

O que você possuia, Yoongi? Tinha tanto dentro de si, que o pouco que vi me arrebatou de primeira, me cativou ao ponto de me ater ao seus horários diários, especialmente os de domingo, fazendo honras às palavra da raposa ao Pequeno Príncipe.

Sua ausência possuia a escuridão já citada aqui, mas, nesse dia em específico, você fez a questão de esgueirar-se por entre as flores, se metamorfoseando-se na mesma tela do céu, e, então, eu quis te pintar.

"Boa tarde, moça" ri fraco da palavra dirigida à mim, tão formal, dando brechas do seu nervosismo por estar conversando comigo. Ou minha loucura estava tão alta quanto as nuvens no céu.

"Boa tarde. No que posso te ajudar?" Ditei a típica fala já decorada de sempre, querendo dizer, saber seu nome.

Seus olhos, tão peculiares a mim, me pareciam únicos. Séria estrangeiro, ou somente um felizardo que havia ganhado os olhos profundos e gatunos de uma descendência já passada?

Eu tinha indagações, mas me atei a desvendar os seus desejo pelas flores em volta de nós.

"Humm..." você coçou a cabeça, indeciso."poderia me indicar alguma? É para alguém que não conheço muito, então não sei qual escolher."

Me senti um pouco triste, parabenizando a destinatária das flores em silêncio, mas também notando sua voz. Até aquele momento não tinha notado a rouquidão gostosa que era, aquele timbre tão bom que acariciaram meus ouvidos de um jeito tão estranhamente suave. Era a vontade de descobrir mais de ti. Não soube como regir, mas me fiz voltar ao normal.

Saí de trás do balcão, me afastando das sempre-vivas¹, indo até a minha flor favorita dentro de um vaso de água - outras dela estava espalhada em cada canto da loja. Pude te sentir, te ver me seguindo; os cabelos escuros balançando com aquela aparência de recém molhados.

"Essa é a minha favorita. O perfume é meio fraco, mas é muito bom." Acariciei a pétala dela, a maciez contrastando com meus dedos, parecendo que ela era quem me acariciava ao invés do contrário.

Você aceitou minha indicação, sem eu conseguir entender suas intenções. Até que encontrei a mesma flor de hibisco², em cima da bancada da floricultura, quatro dias depois da sua aparição.

Tiana tinha um sorriso implicante, me irritando em silêncio com as palavras implícitas no olhar, tendo o mesmo ar de criança que irrita o amigo.

"Para de me olhar assim, sua chata"

Tenho a certeza que meus olhos brilhavam quando a repreendi com um sorriso tímido.