Cap. 10- Só aproveita o momento comigo.

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𝐏𝐎𝐕 𝐉𝐀𝐒𝐎𝐍

CASA DO JASON | 28 DE FEVEREIRO DE 1986 | 15:42 DA TARDE

-Então quer dizer que você não pode mais voltar?

Com um suspiro, James assentiu com a cabeça. Ele me contou sobre toda a sua situação familiar e como ele aproveitou a excursão para fugir de casa definitivamente. Eu já imaginava que as coisas em casa não eram muito boas pra ele, mas isso é muito pior do que eu jamais poderia pensar.

Ele disse que ficaria na casa de Lars até arranjar um emprego e poder bancar um apartamento, como ele já estava prestes a fazer dezoito, o seu sonho de finalmente ser livre dos pais estava perto de se realizar. Eu simpatizei com a situação de James, é claro que não vou dizer que justifica tudo o que ele fez pra mim e para os outros na escola ao longos dos anos, mas explica bastante coisa. Eu percebi que por baixo dessa pose de durão sem sentimentos tem um jovem machucado, muito mais frágil do que os olhos podem ver.

Eu coloquei uma mão em seu ombro para confortá-lo, seus olhos estavam levemente avermelhados, pelo visto ele estava tentando não chorar. Depois de alguns segundos em silêncio ele simplesmente me deu um sorriso e agradeceu pelo apoio.

-Mas enfim, não vamos falar sobre isso. Vamos terminar o trabalho, está ficando muito bom.

Lhe dei um sorriso e segui desenhando uma das constelações que vimos ontem pelo telescópio, enquanto ele escrevia os textos ao lado. Nós já estamos quase terminando, fizemos o trabalho incrivelmente rápido, e sem querer me gabar, mas está muito bom. Eu já tinha feito o meu pela manhã para poder dar total atenção ao de James, já que ele quer melhorar as suas notas na escola. Eu me ofereci para ajudar caso ele precisasse, mas ele disse que não queria abusar da minha boa vontade. Por mais que eu goste muito mais desse James, ainda é estranho, afinal, não é todo o dia que o seu bully de infância confessa a sua vida frustrada e começa a se dar bem com você. Mas eu quero ajudar ele, eu realmente quero. Não sei exatamente o que é, mas tem algo dentro de mim que parece se retorcer para que eu faça alguma coisa.

(...)

Mais algumas horas se passaram e nós já tínhamos terminado o trabalho e estávamos conversando sobre as nossas bandas preferidas, e além de filmes e andar de skate, nós dois também temos um gosto musical parecido.

-Cara, Walk Among Us literalmente mudou a minha vida. Misfits é demais, eles repaginaram a cena punk!

James falava com tanta excitação que eu conseguia ver um brilho nos seus olhos. É adorável como ele é apaixonado por música.

Adorável? É essa palavra que você escolhe, Jason? Sério?

-Esse é o tipo de som que a minha banda quer seguir, mas sem perder a essência do Metal, saca?

Eu concordei com a cabeça. Nós estávamos sentados-atirados-na minha cama encarando o teto. James estava na guarda da cama e eu do outro lado. Não me lembro como chegamos nessa posição tão descontraída, já que no início James estava bem acanhado e eu com muita vergonha. Acho que a conversa realmente deixa o ambiente mais leve.

-Você vai ter que me convidar pra algum ensaio de vocês um dia desses.

-Sem chance! Eu fico nervoso e erro tudo.

Isso me fez dar uma boa risada. Imagina só o James todo nervoso e errando os acordes na guitarra? Seria hilário.

-E como você espera fazer shows se não aguenta ter platéia nem pra os ensaios?

-Ah, sei lá. Na hora dá tudo certo, a adrenalina do momento faz eu esquecer que tem gente me olhando.

-Eu tenho quase certeza de que não é assim que funciona.

Medicine For My Soul - JamesonWhere stories live. Discover now