Medo

36 11 64
                                    

            Cá estamos nós juntos outra vez, desde a última vez que estivemos juntos, se passaram alguns meses, e como vão descobrir eu passei por muita coisa principalmente na infância e adolescência, fatos que por mais que eu queira eles não saem da minha mente e por um azar maior ainda eu consigo lembrar deles com detalhes... Agora que vocês já sabem como tudo começou vou contar sobre a primeira vez em que senti medo!

Eu ainda era um garoto franzino de apenas seis anos, morava na mesma pequena casa da esquina que se pode dizer ser uma herança de família, pois vários dela já moraram ali e desta vez a minha a habitava. Meu pai, como vocês sabem, quase sempre não estava em casa por muito tempo, a rotina do trabalho o privava desses momentos e ultimamente ele passava menos tempo ainda desde que meu irmão havia morrido, então restava-me a companhia de minha mãe.

Sim, meu irmão havia morrido no parto há algum tempo atrás, por imprudência do médico ele teve seu pescoço quebrado e subitamente perdeu sua chance de vir ao mundo. Esse acontecimento causou um grande alvoroço na família na época, mas principalmente a mim e minha mãe.

Eu e ela sempre fomos muito apegados, até mesmo pela rotina do meu pai que o deixava mais distante da minha rotina, então quando minha mãe engravidou o ser que ela carregava ali havia se tornado a minha promessa de uma companhia, alguém com quem brincar, com quem fazer tudo junto, e eu não me importava em dividir com ele tudo que eu tinha.

A gravidez de minha mãe foi totalmente tranquila, eu me afeiçoei bastante à sua barriga, pois eu sabia o que estava ali, e eu conversava constantemente com meu irmão, realmente havia se tornado meu programa preferido, sentar com minha mãe enquanto ela via novela e dialogar com ele, mesmo que vocês sabem, eu estava falando sozinho tecnicamente e quando minha mãe colocava meus desenhos eu fazia questão de explicar para ele cada detalhe, afinal ele deveria saber das histórias para quando fosse vê-las comigo entender tudo, ai seriamos dois contra nossa mãe e ganharíamos sempre o direito ao desenho.

Mas então naquele dia eu percebi tudo diferente, minha mãe foi levada para o hospital e eu logicamente fui para a casa de minha avó, aguardar o retorno dela e enquanto esperava eu brincava pelo quintal, então veio o dia seguinte, meu tio me chamou cedo e me disse que eu poderia jogar no seu Nintendo naquele dia, eu fiquei totalmente impressionado, era uma raridade ele deixar alguém tocá-lo, nem questionei somente me fixei em frente à televisão e comecei a jogar, então eu notei todos saindo da casa e por algum motivo aquilo atiçou minha curiosidade e pasmem, por instantes foi mais importante que meu vicio por videogames e eu levantei e fui até a janela e vi aquele caixa branca no fundo do carro e minha mãe chorando abraçada ao meu pai e então os gritei mas pareciam não me ouvir, eu desmaiei no sofá que ficava abaixo da janela, até hoje não sei se realmente vi aquilo ou imaginei.

Os dias depois daquilo foram vazios, minha mãe me explicou o que havia acontecido eu não consegui demonstrar reação alguma a não ser ficar estático e silenciado e assim se passaram semanas até que a dita normalidade havia começado a voltar apesar que eu sabia que quaisquer rastros do que já tivemos ia ser meio difícil de retomar da mesma forma.

Voltamos ao presente, meses depois disso tudo e como vocês já sabem o programa preferido de minha mãe era a televisão, assim como o meu quando não estava mergulhado nas minhas HQ's ou livros, ou mesmo criando história com meus bonecos. Numa certa noite que se assemelhava a qualquer outra, eu e minha mãe estávamos na sala mais uma vez, eu raramente saia de casa, meus pais eram superprotetores e me fisgavam facilmente com a desculpa de ver tv. A sala da minha casa era literalmente o inicio de nossa casa, onde ficávamos no velho sofá de couro preto sentados escolhendo o que ver.

— Pegue água para mim filho! — Pediu minha mãe carinhosamente.

— Está bem! — Disse eu levantando rapidamente e indo até a cozinha, eu queria agradá-la já que ela estava com o controle na mão, mas em parte eu não me importava de pegar água para ela eu sempre fui desses bons garotos.

Doces sonhosNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ