CAPÍTULO CINCO

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ANTHONY

      Anthony sentia o vento frio cortar o ar, silvando através de ecos numa vasta escuridão. Pisava no acelerador como um piloto em sua última volta, ansiando o pódio. Mas não havia pista, nem sequer um chão; vagava sem rumo, flutuando no cosmos. Sentia-se leve, livre, como uma lagarta que acabou de rasgar seu casulo e esticar suas asas. Pisava cada vez mais fundo, e mesmo que não houvesse nada em volta, podia sentir a velocidade aumentar e o vento balançar seus cabelos. Uma sensação calorosa percorria seu corpo, como se ele estivesse a caminho dos braços da mãe; apenas um menino, sem preocupações, sem se importar com seu futuro.

      Tudo parecia certo, até ele avistar um pequeno pontinho à sua frente, aumentando gradativamente. Ele tentava virar o volante, mas suas mãos estavam congeladas, tentou agir com seus pés, o esquerdo parecia incapaz de acertar o freio, e o direito estava amarrado ao acelerador. Seu coração disparou, o que antes era um pontinho se transformou em uma grossa linha vertical, chegando cada vez mais perto; ele não poderia evitar o impacto. Aconteceu em uma fração de segundos. 

      BUM.

      Anthony levantou de um salto, seu corpo tremia e escorria suor frio pelo seu corpo, deixando uma vagarosa silhueta de si no lençol. Ofegante, ele tateou tudo que encontrava em volta, para ter certeza que estava estático. Quando aceitou que foi apenas um sonho, acalmou-se, dando pequenos suspiros. 

— Rosa? — disse, pondo-se de pé. — Rosa?

      A casa era pequena, então não demorou a concluir que estava sozinho. Ficou imaginando onde ela poderia ter ido tão cedo. Resolveu checar o celular para ver se tinha alguma mensagem, mas não havia nada. Talvez algum bilhete, pensou, começando uma busca pela casa, mas novamente sem sucesso.

      Seu estômago roncou, obrigando-o a ir na cozinha. Abriu todos os armários e encontrou apenas algumas torradas para o café da manhã, ele não sabia que horas Rosa tinha saído, nem que horas voltaria, então decidiu deixar para ela. 

      O suor em seu corpo secou, e ele não suportaria ficar mais tempo com aquele grude; precisava de um banho.

      Quando terminou de colocar a roupa, decidiu ir até a cafeteria que ficava a poucas quadras dali. Seu celular precisava de carga e seu cérebro um tempo para refletir. 

      Ao longo do caminho, tentou não pensar tanto, mas involuntariamente Rosa surgia em sua mente. Estava com uma mistura de sentimentos em relação a ela, sentia raiva pelo que ouviu-a falar, mas não queria sentir, achava que não possuía o direito de ficar, afinal, tudo que Rosa falou era verdade. Foi culpa dele o acidente, e por mais que estivesse tentando, não conseguia trazer dinheiro para dentro de casa. A contrapartida era medo, tentou inibir ao máximo relacionar a ausência dela com o que tinha escutado antes. Não poderia acreditar que ela estava se preparando para deixá-lo de vez. 

     Ele tinha consciência de que o relacionamento estava sobre uma corda bamba, mas preferia acreditar que chegaria ao final da jornada e descansaria seus pés em algo sólido. Ele temia a queda, e sabia que seria apenas a dele.

      Anthony entrou na cafeteria de forma instintiva, saindo do transe ao ouvir o tilintar do sino que pendia no alto da porta.

     A cafeteria era simples, mas bem organizada. Logo de frente ficava o balcão, com cadeiras sem encosto logo abaixo, a direita, outras cadeiras eram arrumadas na forma de um ''U'', pois tinha menos espaço. A esquerda possuía mesas enfileiradas, deixando um corredor que seguia boa parte do balcão; eram mesas para quatro pessoas, com cadeiras largas e encostos altos, a fim de oferecer mais privacidade. Ao final desse corredor, tinha um espaço pequeno com um fliperama e uma ''jukebox'' bem antiga. 

As Faces de ErosWhere stories live. Discover now