🌊

136 21 92
                                    

Meus pés doloridos pelo andar constante me levavam através da trilha de terra sem final aparente. Muito me importavam os insetos dançando por entre meus dedos e meus chinelos envelhecidos mas tentava ignorar olhando para as borboletas amarelas e imaginando o quanto eu estaria digna de fotografias do pinterest caso estivesse trajando um vestido formoso branco ou florido que combinaria perfeita e estéticamente com meu cenário de fundo verde-folha-e-muitas-folhas-mesmo. Podia sentir a magia das fadinhas da floresta através dos raios de sol que penetravam as árvores batendo em meu rosto e transformando o chocolate das minha íris oculares em mel, esse que escorria por dentro da minha máscara florida assim como a minhas pastas do aplicativo antes citado.

Minha face aquecida pela mãe natureza cumprimentava o pântano à minha esquerda torcendo internamente para que essa definitivamente não fosse a "praia da reserva" da qual todos tanto falavam.


Havia um regato no meio do caminho.


No meio do caminho havia uma branda corrente de água pouco volumosa e de pequena extensão tão estreita e rasa que qualquer ser andante conseguiria pular. E eu pulei. Mas o meu pé direito ficou. E então eu pulei de novo. Mas o meu chinelo direito ficou. E então o apanhei com a mão esquerda e segui o meu caminho com mais uma prova de que "começar com o pé direito" é algo muito superestimado. Talvez ironicamente ou até em concordância com meus dizeres o solo sob meus pés logo se transformou em arenoso e os insetos que antes me importunavam foram substituídos pelos mini helicópteros naturais em forma de libélula, o que  não me incomodava menos mas sabia que isso significava uma coisa; a água está próxima.

Já faziam séculos completos desde que não ia à praia. Sentir o pé na areia quente e avistar o mar calmo e tão cristalino como nunca vira antes me trouxe uma sensação de lar que fora praticamente impossível de se encontrar no ano que recentemente passara com exceção das vezes que a encontrava perdida nas páginas de meus livros velhos como as pétalas secas esmagadas que minha avó me ensinou a guardar. Acredito que estava diante de uma verdadeira amostra do paraíso na terra, visto que nunca tinha alcançado tal estado de paz em minha alma.

Onde estão as pessoas? Talvez naquelas casinhas ao fim do litoral, ou talvez do outro lado da floresta mágica. Tão perto mas tão longe. Tirem suas máscaras. E o fazemos literal e metaforicamente, expondo toda a vulnerabilidade humana. Não há ninguém por perto, e a ausência se dá presente pela natureza crua e limpa, tirando as misteriosas garrafas vazias na saída da trilha. "Acho que vieram até aqui para serem preenchidas por maresia e ninguém poder chamá-las de lixo oco outra vez, nós não somos tão diferentes assim."

Em passos lentos vou em direção ao mar. A areia não me queima os pés e nem a água parece estar gelada demais. Tamanha perfeição nunca fora encontrada antes. Eu estou no mar! E de repente as sensações de ser guiada pela correnteza fraca como em uma valsa romântica que me botavam para dormir nos dias mais desesperadores eram enfim novamente reais. Inspiro. Expiro. Sinto o oceano. Dou um mergulho. Sinto um sorriso salgado desabrochar de meus lábios outrora tão tristonhos. E então silêncio. Água. Céu. Areia. Garrafas. Garça. Casas ao longe. Árvores ao fundo. Muitas árvores mesmo. Flores (nunca vira em uma praia antes). Borboletas. Libélulas. Floresta. Trilha. Regato. Paraíso na terra.

E o que mais?

Nada.

Qualquer um com bom senso escolheria maresia à uma coca-cola geladinha, mas maresia não se bebe e não se preenche, ou seja, quelas garrafas continuam ocas querendo ou não. Assim como eu.

Não há bagunça, não há música, não há água de coco ou picolé. Não há tumulto, não há "Não, obrigada!", não há areia queimando o pé. Não há primas, não há rimas, não há caldo de milho escorrendo, não há nada valendo. Talvez pacificidade nunca tenha sido a minha praia. E aquela, definitivamente, não era a minha praia.

À direita se encontra minha única companhia. O animal branco e majestoso o qual citei alguns parágrafo acima. A garça me cumprimentava sem precisar dizer nada, com o entendimento mútuo de que erámos ambas muito mais do mar do que de qualquer outra coisa. O único ser que preenchia a minha visão com vida, vida de verdade, e que podia voar para longe quando lhe convinha. Lá ela não era apenas uma ave em busca de peixes, muito menos mais um composto do plano de fundo de notebooks genéricos. Ela era uma garça, um ser, e pular ondinhas era a sua praia.

Me aconchego perante as ondas quase inexistentes para deixar-me levar pelo constante abraço do oceano sem me preocupar em queimar o couro cabeludo ─ já que nem o sol lá é mais forte do que o devido ─ e agradeço à ave pelo esclarecimento entregando as próximas horas de minha vida ao envolvimento confortavelmente paradisíaco, apenas para matar a vontade e conservar a saudade.

Da minha praia.


- 🌊 -

oi gente! primeiramente: ACREDITAM QUE EU AINDA MAO VI O C9MEBACK DO WEEEKLY? EHQJWOQ ODIO segundo: O MEU COMEBACK VEIO!!! fiz essa one baseada numa experiência que eu vivi nos primeiros dias desse ano, quando eu fui pra praia pela primeira vez desde muito tempo.

já faz muito tempo que eu não posto nada então sinceramente eu perdi o conceito de qualidade pras minhas próprias obras??? sjakwjq e não sei se bom então sla desculpa se não estiver fjakekq

espero que tenham gostado, amo muito vocês!!! 💙💙💙

A GARÇA ♡ WEEEKLYWhere stories live. Discover now