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Amélia Rodriguez

3:48 da manhã. O relógio marcava exatamente esse horário quando acordei de um sonho sobre a letra de uma música que eu vinha escrevendo, ou pelo menos tentando, há dias.

Me levantei correndo e fui até o quarto do lado, tirei meu violão da capa e baixinho comecei a tocar uns acordes enquanto o lápis ficava preso em meus dentes e eu observava o papel todo rabiscado.

Honey Boo. De longe a canção mais trabalhosa que já escrevi. A inspiração veio do nada, assim como se foi. Eu sabia sobre quem era, Zabdiel também saberia quando ouvisse. Será que eu precisaria bater na porta do meu amigo essa hora da madrugada para finalmente terminá-la?

"Oi, sei que são quatro da manhã mas precisava saber se você tá acordado?"

Enviei a mensagem e esperei tempo o suficiente para saber que ele deveria estar em seu milésimo sonho. Eu teria que acabar aquilo sozinha. Frustrada. Estava empacada em um trecho já fazia tanto tempo e nada colaborava com a minha criatividade naqueles tempos.

Toquei mais alguns acordes quando percebi a porta se abrindo. Christopher tinha os cabelos quase que de pé, de tão bagunçados, coçava os olhos ainda tentando despertar e sem entender nada sentou-se do meu lado.

— O que foi? — ele perguntava arrastando as palavras.

— Não se preocupa, pode voltar a dormir. — encostei minha cabeça em seu ombro nu — Foi só um alarme falso de criatividade pra terminar de escrever essa música. Perdi o sono e ainda não tenho nada.

— Eu te ajudo. — bocejou — Me mostra o que é.

Apontei para a folha toda bagunçada e ele pegou imediatamente tentando entender a minha pequena grande bagunça. Alguns minutos se passaram em silêncio e aquilo estava me matando de nervosismo.

— Quero ouvir a batida.

Obedeci começando a tocar imediatamente. Christopher acompanhava o ritmo balançando a cabeça.

— Vamos trabalhar nisso juntos.

Ele tinha o lápis nos dedos e batucava no caderno conforme a batida da música, vez ou outra parava e fazia algumas anotações sem me mostrar.

O dia já tinha amanhecido quando ainda estávamos no quarto cantando aquilo que havíamos acabado de finalizar em acordo.

— Temos Honey Boo! — Christopher me pegou no colo enquanto me rodava.

— Se não fosse por você, não sei o que faria. — o beijei — Muito obrigada.

— Eu só usei a minha maior fonte de inspiração: você.

Nos levou até o quarto e fechou a porta.

****

Você deveria ter comprado aquele vestido! — Christopher ainda insistia naquele assunto.

Aquele vestido é o valor do meu salário! — rebati.

Então vamos aumentá-lo.

— Sim, a Ali vai amar. Que tal você fazer isso? "Oi Ali, precisamos aumentar o salário da Amélia porque preciso que ela compre aquele vestido." — ri.

— Eu achei bem convincente, te daria o aumento na hora. Vamos, Lia, você investe seu dinheiro desde que começou a trabalhar, tem certeza que não quer comprá-lo mesmo? — ele fazia bico.

— Eu me recuso a pagar aquele valor numa peça de roupa.

Christopher sabia ser teimoso, mas eu seria o dobro.

— Então tudo bem se eu comprar pra você? Um presente de aniversário adiantado!

— Meu aniversário é depois do seu. — ele se deu por vencido sabendo que ainda faltava mais de um mês para que a data chegasse.

Paramos na praça de alimentação para um lanche. Tínhamos combinado de passar a tarde toda no shopping e depois irmos ao cinema. Já passava da hora do almoço quando decidimos comer.

Faltavam algumas horas para nossa sessão começar então continuamos dando voltas no local para passar o tempo enquanto tentava tirar da cabeça dele a ideia de comprar aquele tal vestido.

Em uma dessas voltas passamos por um casal que, além das inúmeras sacolas de compras ainda tinham nas mãos uma coleira e nela levavam um pequenino cãozinho.

— Olha, podíamos ser como eles. — Christopher dizia animado — Vamos comprar um cachorrinho e ele vai ser nosso filho.

— Um filho? Mas já? — gargalhei com a ideia.

— Por mim já teríamos uns três mas você só me enrola. — o empurrei de leve para o lado quando disse isso.

— Somos muito novos para sermos pais!

— O Richard tem a sua idade e é pai! — agora ele tinha um argumento — Vamos ser pais de pet, por favor.

— E com quem vamos deixar nosso filho quando formos para as turnês?

— Minha mãe cuida dele. — ele agora respondia com mais animação — Podemos pegar um bem pequenininho e aí a gente consegue levar ele pra qualquer lugar.

— Sua mãe vai cuidar dele lá do Equador? Ficou biruta, agora tô preocupada. O meu marido pai de pet é maluco.

— Eu peço pra ela vir pra cá, ela estava querendo passar um tempo aqui mesmo. De qualquer jeito, a gente ia convencer a Ali a deixar ele ir conosco. E eu sou seu marido? Isso é um pedido de casamento?

— Vou pensar nesse assunto. Sim, é um pedido. Christopher Bryant Velez Muñoz você aceita se casar comigo para sermos pais de pet? — peguei um dos donuts que havíamos comprados e o ofereci como se fosse um anel.

— Achei que você nunca iria perguntar. Aceito! — riu e me beijou — Então vamos ter um filho.

— Cuidado com as coisas que você diz no meio do shopping. Daqui a pouco sai uma notícia: Christopher Velez, um dos cantores da boyband latina CNCO anuncia que será pai em breve.

Eu não iria me incomodar se fosse verdade. — disse e como resposta levou um tapa em seu braço — Aí, tá bom já entendi, pais de pet e só isso. Por enquanto.

— Vamos, não quero perder nossa sessão!

O arrastei pelo braço o mais depressa possível antes que ele inventasse algum outro motivo para discutirmos o assunto "pai de pet".

A verdade era que aquela conversa sobre um cachorrinho tinha me dado uma ideia. A mais brilhante eu diria. Ele não podia sonhar que eu faria aquilo, então eu precisava disfarçar e aprender a mentir sobre esse assunto o mais depressa possível.

E não podia esquecer de perguntar a Olivia onde conseguiria achar um cachorro pequeno e tranquilo.

Always you | Christopher Velez Onde histórias criam vida. Descubra agora