Diana

Capítulo 2 - É necessário ir

- Eu não posso – Dói tanto em mim quanto nele – Não podemos continuar com isso, por favor. Só entende que não dá mais.

- Tudo bem – Respira fundo, finalmente entendendo que insistir seria inútil, ou não. Acredito que ele não tenha desistido de mim assim tão fácil. Minha mente tem o impasse de querer que ele me queira e querer que ele não me queira para que fique mais fácil o afastar.

- Eu vou embora – Me levanto da poltrona e giro a maçaneta da porta. Algo dentro de mim o quer agora, quer estar com ele independente de tudo.
Quero contar pra ele o porquê de eu estar acabando com tudo e não poder me deixa louca.

Eu quero tanta coisa que não pode acontecer.

Eu quero ele e não posso o ter.

Até a megera dentro de mim sabe que eu não posso deixar que ele abra mão da vida por mim, por isso estou aqui agora, por amor. Mesmo no fundo querendo que ele insista em mim.

- Espera – Segura a barra da minha calça, me virando pra ele e o encaro com o coração batendo intensamente forte – É realmente isso que você quer? – Afirmo com a cabeça – Certeza absoluta? – Chega perigosamente perto de mim, me fazendo encostar na parede depois de alguns passos que dou pra trás e afirmo novamente mordendo o lábio inferior – Certeza mesmo? – Coloca meu cabelo atrás da orelha e fala ao meu ouvido. Arrepiar quando estou perto dele já virou costume.

- Não – Droga. A parte do plano em que eu deveria me manter firme acabou de falhar. Ele da um sorriso, pois sabe que eu não tenho certeza de nada disso – Mas sabe de uma coisa? Mesmo não tendo certeza de absolutamente nada que fiz até hoje, acabou – Tento sair, mas ele coloca a mão na parede, me impedindo.

- Ainda não acabou – Franzo a sobrancelha, mas me mantenho calada – Você acha que eu vou deixar você ir assim tão fácil? – Chega perto, quase colando sua boca na minha e resolve segurar minha nuca, acariciando meu rosto com o polegar. Por um mero segundo pensei que ele me beijaria, mas não.

- Se você não me soltar eu conto pra sua mulher o que a gente tem – Ameaço e ele gargalha. Ele não devia estar rindo, devia? Por mais que eu diga algo assim, eu nunca faria isso.

- Conta, aqui – Tira a mão do meu rosto para pegar seu telefone do bolso, o esticando em minha direção pra que eu pegue – Aproveita e diz que eu vou largar ela pra ficar com você – Era tudo o que eu queria ouvir.

- Eu... eu... – Respiro fundo, me embolando entre as palavras e acabo sentindo o cheiro do seu perfume, que faz com que eu o ache mais atraente.

- O quê? Me ama? Eu já sabia – Ele acha que está conseguindo me ganhar, me fazer ficar. Talvez esteja certo.

- Eu te odeio e preciso ir – Olho pros lados em busca de ajuda, mas tudo o que tem aqui somos nós dois.

- Vai, eu não estou te segurando, ou estou? – Ele sabe que eu estou aqui porque quero aproveitar esses últimos segundos ao lado dele – Ou você quer que eu te segure? – Com sua mão que estava na parede segura minha cintura e fecho os olhos, absorvendo a sensação – Quer que eu peça mais uma vez pra você ficar? – Como eu quero dizer que fico – Fica – Fala no meu ouvido, devagar e com calma, num simples sussurro.

- Eu não posso – Sussurro, minha melhor opção agora é dizer o mínimo de palavras possíveis.

- É só dizer que fica, Diana – Eu não posso dizer.

- Fi... – Sai da minha boca uma meia palavra sem som algum. Eu não posso falar. E como meu melhor meio de fuga, beijo ele. Na verdade eu só quero ter essa sensação pela última vez.
O melhor beijo que já demos, com tanto amor, mas infelizmente um beijo de despedida. Ele aperta sua mão em minha cintura, me fazendo querer ficar aqui pra sempre.

- Você vai ficar? – Sorri se sentindo vitorioso, achando que finalmente me convenceu que tudo vai voltar a ser como era antes, bem que eu queria que funcionasse assim.
Pobre Zack, nada vai continuar como antes, infelizmente nunca mais.

- Sinto muito – Nego e dou um beijo na sua bochecha, ele franze a testa - Só – Faço uma pausa, encarando aqueles olhos tão de perto por uma última vez – cuida da sua família, você vai me superar – Respiro fundo e saio, fechando a porta e apoiando minha cabeça no batente.
Quando ouço a porta se abrir começo a andar, rezando pra que ele não me chame, mas no fundo querendo que sim.

Eu costumo querer o que não posso ter.

E eu o quero.

Mais do que nunca quis outra pessoa.

Eu o quero.

- Fiz o que precisava ser feito - digo a mim mesma.

Isso definitivamente doeu, mas eu precisei acabar com tudo antes que a situação saísse de controle.

Às vezes é preciso entender que o amor da sua vida também é o amor da vida de outra pessoa. Nesse momento sei que sou o amor da vida dele e ele o meu, mas também sei que existe outra pessoa que pensa o mesmo que eu.

A mulher dele.

Ando lentamente até meu escritório sem olhar pra trás, porque sei que se olhar eu volto e digo pra ele que quero ficar com ele, sem me importar com nada.

Sento na minha mesa e fico encarando a tela do computador, pensando em tudo o que acabou de acontecer.

A consciência pesada é algo que definitivamente tem me atingido. Sinto pena da mulher dele por ter sido traída, mas arrependimento talvez nunca passado pela minha cabeça.

Pensar que ele precisa amar a mulher dele e que eles são feitos um pro outro me faz lidar com isso tudo de um jeito melhor.
Mas quem eu quero enganar? Pensar que ele não pode mais estar comigo e agora vai ficar com a mulher dele deixa tão mal quanto tudo que está acontecendo.

Pensar que agora ele vai ser totalmente dela e não meu.

- Oi querida, como foi sua reunião com o Zack? – Minha mãe aparece calma, como sempre. Sua tranquilidade não me surpreendem mais. Faço um sinal para que ela sente na cadeira que está em sua frente e ela obedece.

- Fiz o que você pediu, terminamos – Digo, mostrando propositalmente minha tristeza.

- Você fez o que foi preciso – Sorri, sem perder sua sensação de poder.

- É, eu sei disso – Digo, mesmo sendo mentira pra mim.

- Não está muito afim de papo, né? – Pergunta como se tentasse me confortar do que ela mesma causou.

- Não, quero ficar sozinha – Digo secamente, sem nem olhar pro seu rosto.

- Então trate de colocar um sorriso na cara, pois ele ainda tem o emprego dele e você sua vida de volta – Seu sorriso constante está a um passo de me irritar.

- Está tudo certo – Dou um sorriso fraco.

- Ótimo – Se levanta e vai até a porta – E da próxima vez - Vira seu corpo para falar - Fique com alguém que não trabalhe pra mim e se não conseguir fazer isso tome mais cuidado, porque não vou manter o emprego do próximo – Sai pela porta de vidro como se tivesse ganhado na loteria.

É louco ela pensar que faz o melhor pra mim.

Ainda não sei como ela descobriu que eu ficava com ele, eu tomei tanto cuidado.

Eu definitivamente preciso de um tempo pra mim, isso tudo é coisa demais pra uma pessoa só. Melhor eu dar uma volta, respirar ar puro.

- Avisa pra Melanie que eu vou embora e não volto mais hoje – Digo para a secretária da minha mãe, que me dá um OK.