4. Você é tão melhor que isso!

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Não sei como aconteceu, mas de repente Vitor e Larissa estavam colados. Eles estavam juntos o tempo inteiro, sempre trocando beijinhos e carícias. Eu tentava não me importar, então simplesmente desligava quando Larissa falava sobre ele.

Por isso, nos dias seguintes, comecei a passar os intervalos com Priscila. Descobri que ela tinha uma cópia dos anéis dos irmãos Salvatore, além de uma camiseta estampada com a cara do Dean Winchester. Aquela garota realmente ia fundo nos interesses dela, parecia ser o tipo de pessoa que escreve fanfics enormes sobre os personagens.

Ela preferia falar sobre mundos ficcionais do que sobre as pessoas reais ao redor dela, muito mais interessada em música do que nas fofocas da sala. Nós mantivemos conversas casuais durante sete intervalos antes de ela me convidar para ir até a casa dela e fazer maratona de alguma série.

Obviamente que aceitei, mesmo que estivesse claro que a Pri não havia me chamado com segundas intenções. Aquela garota me deixava louca. Ela não percebia que eu estava caída por ela? Eu sempre flertava de maneira suave, ela não parecia perceber, mas pelo menos não estava incomodada.

Por que era tão difícil chamar a atenção dela? Priscila realmente não sentia nem um pinguinho de atração por mim?

De qualquer forma, com Larissa ausente porque estava colada com Vitor, eu estava mesmo carente de pessoas para conversar e passar tempo. Outro fato legal sobre cidades pequenas: Você consegue atravessar Terezinha do Oeste andando. A casa da Priscila ficava um pouquinho longe da minha, mas nada que vinte minutos de caminhada não resolvessem.

Os pais dela eram donos de uma rede de farmácias na cidade, ela tinha uma casa de frente para o lago municipal. Era um lugar lindo e iluminado, a sala de estar era espaçosa com seus sofás gigantes cheios de almofadas de veludo.

Apesar de ela já ter conectado o computador no cabo HDMI e a televisão estar preparada para exibir a série, seguimos direto para a cozinha. Priscila pegou uma pipoqueira enquanto eu me sentava à mesa.

Estávamos falando sobre Teen Wolf até então, porque era a série que decidimos para a maratona, mas de repente ela ficou séria e se sentou na minha frente, ignorando a pipoca que estava no fogo.

— Olha, eu não queria falar nada, detesto me meter na vida dos outros, mas estou preocupada com a Lari — falou, e dessa vez ela tinha conseguido minha total atenção, porque Priscila raramente falava tão sério. Ela sempre estava rindo e comentando sobre novidades de seus artistas favoritos, então eu sabia que aquilo era importante. — Eu estava numa rodinha de conversa com os meninos, Vitor não me parece uma boa pessoa. Ele se gabava dela como se fosse um troféu, sabe? Dizia como ela era gostosa, falava sobre como eles se pegavam e esse tipo de merda. — O tom dela era cuidadoso, medindo minha reação. Eu não sabia o que dizer. Larissa já havia se envolvido com péssimas pessoas, mas eu percebia que ela gostava mesmo do Vitor. Isso era péssimo. — Não gosto dele, não acho que seja saudável um relacionamento desses — falou baixinho, um tanto desconfortável porque ela raramente falava algo assim.

Apenas assenti lentamente, passando as mãos pelas minhas mechas cor-de-rosa.

— Vou tentar falar com ela — prometi, e a Pri concordou, parecendo satisfeita.

Durante os episódios, só conseguia pensar nisso. Doía pensar que a Lari se relacionava com pessoas tão babacas quanto o Vitor, ela merecia tudo do melhor, alguém que a respeitasse e amasse cada pedacinho dela. Aquilo me deixava furiosa. Furiosa por ele ser um babaca, furiosa por ela ser cega e não perceber a enrascada em que estava se enfiando.

Minha garganta estava coçando. Eu não bebia sangue desde a festa junina, fazia quase duas semanas, então o desconforto só foi crescendo por causa da pipoca salgada. Deixei a pipoca de lado e passei a beber só o refrigerante que Priscila havia aberto. Ela estava tão focada na série que não percebeu.

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