Por enquanto...

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—Ele tá tendo uma parada! Encaminhar pra sala de reanimação!

O médico grita pra que levem a maca onde Adam está deitado. Seu corpo está coberto de cinzas.

Entre os corredores brancos, os gritos são abafados pelas máquinas hospitalares. Todos fazendo o que deveriam fazer num hospital.
Mas o caos estava dentro de Christopher

Nunca poderia haver alguém mais destruído do que ele

Ele está andando entre as pessoas do corredor, mas é apenas seu corpo. Pois sua alma já estava ceifada.
Ele havia dito aos médicos pra avisar a família de Adam, a sua verdadeira família

Porque ele sabia que não merecia ser irmão de Adam. Suas falhas, suas fraquezas botaram a vida da única pessoa que ainda se importava com ele.

Ele já havia decidido fazer isso há muito tempo. Mas aquele foi o ápice, não havia mais salvação pra uma alma podre como a dele.

Num bilhete escrito de maneira apressada, ele deixa para que a enfermeira entregue a Adam quando ele acordar. Estava disposto a fazer aquilo, custasse o que for.

Ele sai do hospital, devastado. Mas determinado.
Ele tem algumas queimações leves pelo corpo, mas essa dor não é nada comparado ao que está acontecendo no seu peito

Ele havia enlouquecido. Havia criado a Rosquinha em sua mente. Ela era a representação clara de como Christopher era, da criança que ele era.

Ela era a própria perdição, assim como a única esperança de salvação.
Mas ele havia desperdiçado isso. Havia se entregado a suas fraquezas, aos seus demônios.
Ele escolheu colocar fogo naquele quarto.
Ele queria matar a Rosquinha que vivia nele, a criança esperta, ardilosa e perseverante

Isso botou em risco a vida do seu irmão.

Era tarde demais pra se salvar, Christopher

...

Onde está meu filho?!

A enfermeira tenta acalmar a mãe de Adam, que está em desespero

—Calma, ainda não temos notícias precisas. A senhora vai ter que aguardar um pouco.

Ela não se conforma e cai em prantos. Enquanto Bella a abraça, nervosa.

—Shh, vai ficar tudo bem. Ele é forte.- Bella conforta a mãe de Adam

Mas ela não parece muito convencida disso. Quando estava chegando no hospital, viu o homem que dançou no baile sair dali. Lembrou-se das palavras de Adam, sobre como a vida deles ia mudar quando ele aparecesse.
Ela tinha certeza que aquele acidente tinha o envolvimento daquele homem.

Queria ir atrás dele, mas não podia deixar Adam pra trás. Estava muito aflita, com medo de perdê-lo.

O tempo se passou devagar naquele hospital. Naquela altura, a mãe de adam tinha sido medicada para se acalmar, enquanto Bella andava de um lado para o outro, tentando entender o que tinha acontecido

Foi um incêndio e um homem tinha trazido ele.
Estava preocupada, aflita demais pra racionar

Depois de algumas horas, o médico disse que ele precisava de um tempo internado, até que as coisas se estabilizassem.
Foi quando a enfermeira chamou o doutor para um canto e Bella conseguiu escutar o que ela disse

—Posso entregar isso a ele? É urgente. - ela pergunta mostrando o bilhete ao médico

Ele nega com a cabeça

—Ainda não. Ele tá muito instável, pode piorar a situação dele.

Ela concorda e guarda no bolso. Quando o médico sai de perto, Bella se aproxima com um sorriso meigo

—Oi...eu sou a noiva dele, tô muito preocupada. Esse bilhete...de quem é ?

Ela olha para os lados, preocupada

—Não sei se devo...

—Por favor, isso pode custar a vida do meu noivo

Ela segura a mão da enfermeira, tentando sensibiliza-lá

—Foi o rapaz que trouxe ele aqui. Ele me pediu pra entregar a ele assim que ele acordasse.

—Você viu o que tinha escrito não viu? Por isso tá tão aflita.- disse Bella - Me diz o que é, por favor.

Bella não consegue manter mais a calma. Ela sabia que a vida de Adam corria perigo, que ele estava se envolvendo com pessoas perigosas, não podia pensar em perder ele.

—Acho que não é só o seu noivo que precisa de ajuda.

Ela não entende o que a enfermeira quer dizer, até que ela coloca o bilhete em sua mão fria.

Bella analisa o papel frio, com choque no olhar

Eu sinto muito, irmão. Por tudo. Viva por mim e por você
Adeus

...

O vento frio estava forte naquela noite.
O som das águas acalmavam a floresta densa

Ele estava sentado à beira da ponte NorthVille, a qual passava o principal rio da cidade. Envolta dele, havia uma floresta úmida e fria. Era o seu lugar, onde se sentia em casa

Nos seus últimos momentos, podia contar quantos momentos deu risada, quantos momentos ele sentiu prazer, quantos momentos ele se sentiu feliz...
Sua respiração estava pesada
Os punhos cerrados no batente da ponte denunciavam um medo que ele não sabia que tinha

Christopher havia experimentado poucos medos na sua vida inteira. Um deles era perder o controle.
Mas ali parecia não fazer sentido ter controle, a decisão estava tomada

Viu sua vida como um flash negro e obscuro, sem cores, sem vivacidade. Apenas dor, sofrimento.

Era a hora de encerrar o ciclo.
Se levantou no batente, o vento frio abraçou seu corpo e ele sorriu

—Você não vai morrer. Pelo menos não agora.

Ao escutar aquela voz, seu corpo ficou imóvel. Naquela imensidão escura, ele procurou a fonte da voz e viu do seu lado, uma silhueta se aproximar.

Ele fechou os olhos com força. Temia estar sendo enganado pela sua mente outra vez.
Quando ela se aproximou mais, seu corpo ficou encima da luz fraca do poste.

Usando um sobretudo vermelho, ela sorriu

—Madeleine?

Christopher (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora