1. Martin Greene: ascenção de Babylon

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Com os pés descalços e ressecados pelo sal do mar, Martin Greene andava em círculos enquanto lia a carta vinda da tribo Junkyard Scavengers endereçada a ele.

Concordo plenamente! Eu já venho tendo essa conversa com Eric Hans a algumas semanas. Chromatica, precisa de fato de um local para centralizar nossa força. E além disso, ter um representante nacional para lidar com problemas, seja ele interno ou externo, é realmente importante. Então acho válido que tenhamos essa conversa pessoalmente, para aí sim, decidirmos em qual das sete tribos seria instalada essa "capital", acredito que seja esse o termo adequado.

- Demétrio Silvestri

- E então? - pergunta Jade Greene, com uma expressão de ansiedade latente.

Martin a encara, a princípio sério para criar uma atmosfera de suspense. Sua esposa morde o lábio, aflita. Aquela era a última carta que faltava para completar todas as tribos. Sem ela, nada estaria feito.

- Unanimidade! - responde, com um enorme sorriso no rosto.

A mulher sentada em uma poltrona, com uma enorme barriga de quem vai parir a qualquer momento, sacode o braço com felicidade, para que Martin venha ao seu encontro e lhe dê um abraço de comemoração. Ele o faz.

Havia muito tempo desde que Greene notara a necessidade de um representante nacional para Chromatica. A república tinha tantos recursos. Recursos esses que facilmente ajudariam as tribos a crescerem, de forma equilibrada e contínua. Mas a falta de um gestor majoritário transformava tudo em uma tarefa complicada. Depois de muita reflexão, Martin finalmente resolveu que falaria com cada tribo, na esperança de que eles concordassem com seu ponto de vista. E agora era mais que confirmado que todos estavam de acordo.

- Meu amor - começou, encarando a esposa a centímetros de seu rosto. - Eu vou conseguir! Por você e por nossos filhos.

Ambos seguravam a barriga de Jade. As testas encostadas.

- Tô entrando - um garoto esticado pela puberdade entra na sala, com as mãos cobrindo o rosto parcialmente.

- Pare com isso, Morgan - diz Martin em meio às gargalhadas - sua mãe e eu estamos comemorando.

O menino descansa os braços ao lado do corpo e arregala os olhos. A tribo Babylon inteira estava ciente do desejo de Martin de se tornar o representante nacional de Chromatica, e ele era muito querido por conta disso, acreditavam no potencial de Greene. Todos não conseguiam ver a hora de Babylon crescer junto com o restante da república.

- Você conseguiu falar com todos?

Martin assente. E então Morgan se junta aos pais num abraço triplo. O primeiro passo rumo a dias melhores havia sido dado.

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Atracando o barco no porto principal de Cyber Kids, Martin sentia um resquício de nervosismo surgindo dentro de si. Ele estava confiante quanto aquele encontro, não tinha dúvidas sobre isso. Mas chegar alí de fato era um tanto assustador. Notou que aquele porto já possuía indícios de tecnologia nas quais Babylon sequer conhecia. Robôs simples auxiliavam as máquinas com as mercadorias que chegavam de outras tribos pelo mar.

Greene ficou extremamente encantado com o que viu alí. Saiu do barco e caminhando um pouco mais, até chegar a saída do porto, que dava para o centro da cidade, repleta de comércios e bastante movimento dos moradores da tribo. Avistou Zola Sekani um pouco mais a frente, estava acompanhado por mais dois jovens garotos. Se aproximou dos três e com um gesto amigável de aperto de mãos dado por Sekani, sentiu-se acolhido naquele lugar novo.

- Por aqui se fala bastante de você, Greene. - diz Zola, dando um leve sorriso para Martin. - É um prazer finalmente conhecê-lo.

- O prazer é todo meu, senhor Sekani! - respondeu, ainda segurando a mão do homem que lhe sorria.

- Recebi o seu comunicado, Greene. Vamos até minha casa, para conversarmos melhor. - Martin concorda com a cabeça, e segue Zola.

Eles andam em direção ao que parece ser uma carruagem, que não possuía um chofer e nem animais para movê-la. Martin tentava esconder que estava abismado com tal fato. Após todos entrarem no veículo, o mesmo começou a se movimentar aparentemente sozinho.

Eles prosseguiram a viagem. Vez ou outra, Martin puxava conversa com os rapazes juntos a ele e Sekani. Os quais lhe respondiam de forma direta. Martin evitou de perguntar sobre as coisas inovadoras que vira alí, Zola também não o questionou. Seguiram a viagem toda assim.

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Assim que adentrou a sala de reuniões de Zola Sekani, Martin só conseguia pensar no quão aquela tarefa poderia ser difícil, no fim das contas. Conquistar o apoio de um líder vizinho, tinha parecido bem mais simples dentro de sua cabeça. Agora, frente ao líder de Cyber Kids, um homem de idade e que exalava experiência e sabedoria, Martin se sentia até indigno do cargo de presidente.

- Os motivos que o trazem aqui tem algo em comum com a reunião que haverá com todas as tribos, certo? - Zola encarava Greene, sério.

O líder de Babylon sentia cada centímetro de seu corpo vibrar com o nervosismo. Umedecendo os lábios, ele finalmente começou a falar.

- Em partes, sim... - no fundo, sabia que era única e exclusivamente por isso, e naquela altura não conseguia mais mentir para o homem à sua frente. - ok, eu estou aqui exatamente por conta da reunião.

Zola sorri. Martin retribui o sorriso, meio sem entender.

- Gosto do jeito que você é direto, senhor Greene.

- Pode me chamar de Martin, senhor Sekani! - diz meio sem graça.

- Então trate de me chamar de Zola, estamos em pé de igualdade, não?

Martin assente, respeitosamente.

- Certo... - Greene se ajeitou na cadeira metálica. Das opções que tinha, escolheu ser objetivo. - Eu vim aqui, a princípio, apenas para fazer média. Mas de fato, não sou bom com isso. Então, gostaria de saber se você tem interesse no cargo de representante nacional da república, pois eu estou muito interessado nesse cargo! E ter seu apoio seria crucial para que eu tivesse a chance de ganhar.

Direto demais, idiota! Dizia Greene a si mesmo. O silêncio se demorando.

- De fato, sou o representante de tribo mais velho e experiente - diz finalmente. -, e concentro grandes riquezas e certa tecnologia aqui em Cyber Kids. Eu seria a escolha perfeita para esse cargo, não é?

Martin soltou o ar lentamente, fazendo uma leve reverência para Zola. Sabia que tudo o que ele dissera era verdade. Exatamente por conta disso, escolhera falar pessoalmente com o representante de Cyber Kids. Sabia que ele seria a escolha óbvia entre as outras tribos.

- Contudo, não me vejo assumindo esse posto... já tenho ocupações em demasiado aqui, e se você deseja que eu declare meu apoio a você como o nosso representante nacional, o farei. - Sekani o olhava profundamente, tentando ler cada micro expressão de Martin.

- Me pegou de surpresa, agora... - Greene estava visivelmente confuso e contente - fico honrado por sua confiança em mim!

Zola levanta as mãos e balança a cabeça em negativa.

- Eu só preciso que você não se esqueça desse momento depois que conquistar a vitória.

Martin fixa o olhar no de Zola.

- Não vou decepcionar!

Sekani assente.

- Volte para sua tribo, tranquilo - falou se levantando - tenho contatos em outras tribos, as quais votariam em mim, facilmente... vou conversar com eles a respeito de você.

- Muito obrigado! A sua ajuda vai ser de extrema importância, Zola. - Martin estende a mão para Zola, que o cumprimenta.

Greene voltou para Babylon, e contando a novidade a todos, logo recebeu ainda mais apoio da população.

Logo, o dia da votação iria chegar, e confiando na amizade que criara com Zola, Martin estava confiante. Ele sentia os bons ventos pelos ares de sua tribo.

BABYLON - Saga Chromatica (CANCELADO)Where stories live. Discover now