quatro| Varinha rara

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Não consegui tirar os olhos do indivíduo que me xingara gratuitamente. Ele seguia o mesmo padrão que nós todos; magricela e cabelo escuro. A diferença estava em seus olhos, eram verdes e brilhantes e claro, no sobrenome.

— É o príncipe do reino – Tulipa disse, talvez ao perceber que eu o fitava. — Está na linha de sucessão, mas assumirá somente se toda a família do irmão dele morrer.

Vi o nobre praticamente arrastar Alfredo para dentro de uma das outras salas de aula.

— Era o mais cotado para ser o N⁰1, até que você apareceu – ela comentou.

Para mim parecia um dos muitos garotos que me zoavam do Lado de Fora, então o trataria como tal.

Virei minha cabeça em outra direção e enxerguei uma menina idêntica a minha dupla.

— Você tem uma irmã gêmea – afirmei para Tulipa.

— Sim – acenou com a cabeça. — seu nome é Violeta e ela ficou com um dos garotos que me estavam com você.

— Ah, foi? – questionei, confuso, pois eu tinha focado a atenção em Daniel e esquecera do resto.— Qual deles?

— Firmino Bealchior – respondeu.

Estávamos no terceiro andar do casarão 3, onde se localizava as salas de aula do primeiro ano. Minha colega e eu ficamos encostados a porta, assim como alguns outros alunos, porém quando vimos quatro adultos de cabelos coloridos vindo no final do corredor, entramos e sentamos em uma das mesas duplas.

— Qual foi a frase que você leu no livro? – ela me perguntou, segundos depois.

— Quando o crepúsculo chegar ao seu fim, a aurora esplêndida poderá vir – respondi, estranhando me lembrar com exatidão, pois minha memória não era boa.— e você?

— Nós fazemos as escolhas ou elas nos fazem? – falou e eu encolhi os lábios, incomodado, não sei bem com o quê.

— O que quer dizer?– indaguei.

— Não sei – deu de ombros. — o livro nos revela algo ligado ao futuro acadêmico. Já tentei fazer uma conexão entre as duas coisas e não consegui.

— Então...? — ponderei um pouco, fazendo minha própria conexão e acabei por chegar a uma conclusão. — Talvez você vá fazer uma escolha importante e eu terei dias ruins antes que os dias bons cheguem.

Tulipa me olhou como se eu tivesse acabado de falar a maior das asneiras. Olhos castanhos me fitando em descrença, lábios finos e rosados pressionados em escárnio, o cenho franzido em julgamento e a expressão toda me dizendo que eu era um louco completo. E só parou de me olhar assim, quando um homem entrou na sala, roubando a atenção com seus cachos azul-céu.

— Sejam bem vindos alunos do primeiro ano! – ele saudou, animado. — Sou Wladmir Ionescu, professor de Geografia Geral. Vamos estudar todos os nove reinos durante todo o ano e vamos começar pelo nosso vizinho mais próximo. Reino da Pétalas.

Nunca fui do tipo que estuda muito, principalmente por achar as matérias entediantes ao extremo, no entanto, me vi bem interessado na aula, talvez fosse porque Wladmir falava da vegetação e clima do reino vizinho com tanta empolgação, que acabava por contagiar.

A segunda aula foi de História Local, com a professora Donna Peather, uma mulher pequena e carrancuda, mas que conseguiu me prender totalmente ao falar da fundação do reino.

Quando o segundo professor entrou, percebi que o terno/uniforme deles era vermelho sangue e não algo exclusivo de Wladmir, e o mesmo valia para as mulheres, notei dias depois.

Bento Gowdin e os Sobrenaturais || A flor divinaWhere stories live. Discover now