Uma por semana

540 48 29
                                    




Um recruta estava de guarda na porta do apartamento de Lola Starr. Clarke viu logo que era um novato, pois ele mal parecia ter idade para tomar uma bebida alcoólica, seu uniforme parecia ter acabado de sair da Seção de Suprimentos e sua pele tinha um leve tom esverdeado.

Só alguns meses depois de começar a trabalhar naquela vizinhança é que um policial parava de ter ânsias de vómito diante de um cadáver. Viciados, prostitutas de rua e bandidos em geral gostavam de retalhar uns aos outros naqueles quarteirões asquerosos, só por diversão, ou por algum tipo de lucro. Pelo cheiro que sentiu do lado de fora do apartamento, Clarke sabia que alguém positivamente tinha sido morto ali recentemente, ou então o caminhão de reciclagem de lixo não passava desde a semana anterior.

— Policial. — Cumprimentou ela, fazendo uma pausa e exibindo o distintivo. O rapaz se colocara em posição de alerta no momento em que ela colocara o pé fora da lamentável imitação de elevador. O instinto a avisara, corretamente, de que se não mostrasse a identidade bem depressa, receberia uma carga da arma de choque que o rapaz segurava com as mãos trêmulas.

— Sim, senhora!... Oficial, corrigiu. — Os olhos dele estavam assustados e não conseguiam parar sobre um lugar fixo.

— Explique a situação.

— Oficial — repetiu ele, e inspirou lenta e profundamente -, o proprietário do prédio parou nossa unidade na rua, dizendo que havia uma mulher morta no apartamento.

— E está morta mesmo... — O olhar de Clarke baixou até o nome do rapaz, pregado no bolso do uniforme.
— Policial Prosky?

— Sim, oficial, ela está. — Engoliu em seco, com força, e Clarke viu o horror se instalar em seus olhos mais uma vez.

— E como foi que você determinou que a vítima estava realmente morta, Prosky? Tomou-lhe o pulso?

Um ligeiro rubor, de aparência pouco mais saudável que o verde anterior, fez suas bochechas corarem.

— Não, oficial. Segui todos os procedimentos, preservei a cena do crime e notifiquei a Central. A confirmação da morte foi feita visualmente, e a cena não foi tocada.

— O dono do apartamento entrou lá dentro? — Tudo aquilo ela poderia descobrir mais tarde, mas Clarke reparou que o rapaz estava ficando mais confiante enquanto ela o forçava a descrever as providências que tomara.

— Não, oficial, ele afirmou que não. Depois que um dos clientes da vítima reclamou que tinha um encontro marcado para as nove da noite, o senhorio foi verificar o local. Destrancou o apartamento e a viu. Há apenas um cômodo, Tenente Griffin, e ela está... A oficial vai vê-la, assim que abrir a porta. Depois da descoberta do corpo, o senhorio, em estado de pânico, desceu para a rua e parou o nosso carro de patrulha. Imediatamente eu o acompanhei de volta ao local, confirmei visualmente a morte suspeita e informei à Central.

— Em algum momento você abandonou seu posto, policial? Mesmo que por alguns instantes?

— Não senhora, digo, tenente. — Os olhos do rapaz finalmente se acalmaram e ele olhou para Clarke . — Por um instante, achei que ia precisar abandonar o posto. É a minha primeira vez, e tive um pouco de dificuldade para me manter impassível.

— Pois para mim, parece que conseguiu magnificamente, Prosky. — Na sacola da criminalística que trouxera consigo, Clarke pegou o spray protetor e o usou. — Chame o laboratório e o legista. O lugar precisa ser limpo, e ela vai ter que ser embalada e etiquetada.

— Sim, oficial. Devo permanecer em meu posto?

— Até que o primeiro grupo chegue. Então, poderá fazer seu relatório. — Terminou de cobrir as botas com o líquido e olhou para ele. — Você é casado, Prosky? — perguntou, enquanto pegava o gravador no bolso da blusa.

In DeathWhere stories live. Discover now