Ao sair do elevador, Zishu tapeou os bolsos do seu uniforme e imediatamente sentiu a angústia roer seus ossos como ratos esfomeados — esquecera em seu dormitório seus fones de ouvido. O jovem parou de andar e se encostou na parede do amplo e iluminado corredor, deixando os outros animados e barulhentos jovens seguirem em direção ao refeitório, onde o jantar seria servido. Checou mais uma vez seus bolsos, somente para constatar o que já sabia.
O CEEP, ou Centro de Estudos Espaciais de Pequim, gigantesco e hiper tecnológico era magnífico o suficiente para abrigar permanentemente centenas de jovens que treinavam e estudavam diariamente com o único intuito de serem bons o suficiente para partirem em algumas dezenas de missões espaciais que deixavam o solo terrestre todos os anos. Mentes geniais que se espalhavam em diversas atividades durante o dia, porém se reuniam e um único local para o jantar: o extraordinário refeitório central.
Eram muitos sons. Os tênis brancos do uniforme se chocavam com o piso de mármore, as vozes eram altas e as conversas animadas ecoavam. Assobiavam e era possível ouvir a cacofonia de pratos e vasilhas vinda do refeitório. Ainda escoltado na parede, Zhou Zishu levou as mãos aos ouvidos e tentou veemente focar-se em um único e constante ruído — as batidas de seu coração —, no entanto, era difícil. O jantar era sempre o pior momento do dia para ele, mas esquecer seus fones de ouvido do lado oposto do CEEP tornava tudo insuportável.
Zishu virou-se, ainda cobrindo os ouvidos, pronto para partir no sentido oposto aos sons, para fugir deles, mas então sentiu dedos finos cobrirem seu pulso e ligeiramente puxarem sua mão. Com delicadeza, um par dos pequenos fones de ouvido foram empurrados entre seus dedos, o que o fez, erguer os olhos por um curto instante antes de baixá-los novamente. De relance, viu um olho castanho, outro verde. Heterocromia. Wen Kexing
Tudo durou poucos segundos, e logo Zishu viu os tênis de Kexing — os únicos com desenhos de canetinhas coloridas — desaparecerem na multidão de jovens. Conectou os fones de ouvido emprestado em seu celular e respirou fundo, sendo um dos últimos a se dirigir ao refeitório, onde as gigantescas filas de jovens vestidos de branco pareciam com serpentes píton albinas, arrastando-se longamente, mas dessa vez silenciosas sob a melodia de Vivaldi.
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A verdade era que Zhou Zishu não passava de um menininho franzino e excluído. As pessoas não o compreendiam; não entendiam por que era tão difícil para ele se expressar com palavras, ou brincar com as outras crianças, ou, até mesmo, estar em um ambiente com muitas luzes e sons. Ouvia os adultos comentarem com seus pais: diziam que ele não era educado, não respondia quando era chamado e jamais sorria. Fora um bebê estranho e uma criança incompreendida.
Tudo mudou quando tinha oito anos de idade e Zishu fez uma excursão escolar ao planetário de Pequim. A cúpula arredondada mostrava o céu sem nuvens, brilhante e magnífico, em detalhes perfeitos e magicamente impactantes. Os corpos celestes estavam ali, tão próximos que parecia ser possível tocá-los com as pontas dos dedos, porém tão longe e complexos que se perder entre eles era fácil — ser arrastado para a vastidão incompreendida do universo.
A astronomia não conseguia explicar aquilo tudo, nenhuma ciência conseguia demonstrar como o universo funcionava ou como tinha se formado. Pela primeira vez, Zishu se sentiu inteiro, acolhido, abraçado, compreendido. As estrelas o envolveram como o manto de Merlim, aquecendo-o de dentro pra fora em uma conversa silenciosa. O universo estava ali o tempo todo, mas finalmente o menino conseguia vê-lo plenamente — e ser visto. Eram parecidos, mas distintos.
E então as estrelas e Zishu se tornaram um só. Todo o seu interesse como criança e adolescente foram canalizados para a grande vastidão incompreendida, que domada o interior caótico do jovem menino. Era da janela de seu quarto que observava as noites estreladas pelo telescópio, de sua cama que imaginava andar pelo espaço sideral e de sua cadeira na escola que estudava todos os assuntos que a astronomia envolvia.

ANDA SEDANG MEMBACA
I'm Sending You Away || wenzhou
Cinta[oneshot] Zhou Zishu é um gênio autista que encontrou na astronomia sua paixão, seu lar. Quando vê seu sonho de participar de uma missão espacial ir por água abaixo, acaba se aproximando de Wen Kexing, um garoto animado que parecia entendê-lo tão be...