05.03.2021
Estagnado. Tropeçando na mesma pedra, na mesma rua e no mesmo horário, incapaz de entender quando foi plantado esse hábito. Desesperado para cortá-lo pela raiz. Não importa quantos de seus frutos ignore, pode ou envenene de cachaça, as sazonalidades são confiáveis. O terreno é fértil. O florir é certo.
Apostou no deserto, esquecera que era um poço, secou-se de vida e esperou a chuva. Dia após dia entupindo-se apenas de pequenas úmidas miragens, engolindo do solo palmo a palmo, até que transborda. Não mais se encontra em mares de boas experiências, percebe-se em dunas de falsos lazeres.
Nunca houve nada de errado com tal sujeito, disseram-no. Sempre trazendo tanto, diariamente houvera cor, calor e definição. Mas era míope, com a pele calejada de falsas boas vidas e só enxergava preto acima de branco havia eras. Um daltônico com uma paleta colorida, uma tocha que não sente a própria chama e um cego que passa lições de perspectiva. Um jardineiro com o solo perfeito para ervas daninhas.
Seu solo é sua fundação, seu chão e equilíbrio. Mas tal encontra-se cheio de espinhos, colocados e acumulados ao decorrer de suas histórias, há de ser trocado. Mesmo que isso signifique a caída para um novo mundo, um novo solo. O apego é grande, mas a recompensa poderia ser ainda maior. Mas de que adianta um novo jardim se o botânico continua plantando das sementes que outrora criaram braços e laços para envolvê-lo em miséria e guiá-lo como a marionete do próprio medo?
Sente-se um copo cheio d'água numa mesa que acabaram de balançar, uma pilha de pó de ouro ao lado de uma janela aberta, pronto para se perder com o menor dos soprares, vivendo em constante medo da mãe natureza e seus charmes, que lhe trazem para o fundo do mar e o afoga, abafando seu grito, prometendo molhar seu coração, que se encontra seco.
Logo em seguida a morte, sem ao menos ter vivido. Um ciclo se fecha e portas se abrem, mas agora já tem medo de maçanetas. É esperto, não há por que arriscar mais uma das boas vidas. No fim era tudo uma piada de mal gosto, lhe puseram no paraíso para ver em quanto tempo o transformava em uma câmara de tortura, onde há uma pessoa só. Hoje o sujeito aperta o botão de ligar e desligar quando muito bem entende, tentando desvendar de onde vieram aquelas sementes, que fizeram palavras de prazer se tornarem palavras de redenção.
Thomas Musetti, 2021.
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MAÇANETAS
PoetryMedo daquelas que nos permitem abrir portas duvidosas. A ansiedade de estar estagnado, mas estruturada por insumos da metáfora.