CAPÍTULO 2

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Vou te trazer para o inferno amigo

Onde o forno escaldante é abrigo

O sofrimento é certo, então cante comigo

Esfaqueio meu amado e beijo meu inimigo

Quebre o acordo

Afirme todas as vitórias

Esqueça as boas histórias

Clame que venha o rodo

 

Somente os fortes ficam

Somente os fracos suplicam

Afirme o imoralismo

 

E se isso não lhe causa morte

Ficará assim mais forte

E flutuará sobre o abismo

Já eram quase umas vinte e três horas, e as paredes ainda estavam quentes, reflexo de mais um dia de calor infernal no Rio de Janeiro. George estava deitado no sofá ao lado da sua mesa, o ar-condicionado estava quebrado para mais de uma semana. Aquelas tábuas antigas,  típicas em regimentos púbicos erguidos décadas atrás, ainda deixavam tudo mais quente. Sua fina camiseta de um preto sólido já estava ensopada, seu cabelo bem penteado para trás ainda estava molhado da última chuveirada. O telefone já distante insistia em tocar, mas o marasmo da situação conivente o impedia de atender. Alguns pensamentos dos problemas com seu filho eram as únicas coisas que às vezes o incomodava, além daquele calor infernal.

 

A porta então se abriu, fazendo George meio que se apoiar entre o braço e o encosto do sofá. Um policial meio sem graça foi dizendo:

 

- Doutor, o senhor nem vai acreditar quem chegou ai.

 

George desdenhou.

 

- Com calor que tá só pode ser o capeta.

 

O policial no tom de manter a graça, disse:

 

- Quase que o senhor acertou... Mas chamam ele aqui de João Carranca.

 

- Hã ?

 

Retrucou Georger, lutando contra a gravidade para levantar.

 

- Essa porra num foi morta no confronto que teve na Gangorra . Explica

esse troço direito.

 

- É doutor o cara tá ai, se entregou e disse que tem uma coisa muito

importante pra falar com o senhor.

 

- Trás essa criatura pra cá logo antes que a porra da imprensa chegue.

 

Já em pé, George posicionou a cadeira de visitantes no meio de sua mesa e se recompôs, ajeitando algumas folhas jogadas na mesa e vestindo algo menos suado e mais formal.

Gíria de ExúsWhere stories live. Discover now