A vã filosofia humana

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Namjoon não é uma pessoa rancorosa, tem plena consciência de que o ser humano é um animal pacífico, e que a rebeldia e todo o seu comportamento é moldado pelo coletivo, que nosso inconsciente absorve o padrão comportamental ao redor, tentando encaixar-se a ele. Muitas vezes a absorção desses detalhes acontecem sem que a pessoa se dê conta, por exemplo.

Sendo assim, não estava guardando rancor de Seokjin, mesmo depois de tudo o que ele havia dito para o Kim, estaria ele questionando-se acerca da veracidade das acusações? Ou ignorando, como se tudo não passasse de uma nada adorável piada desconexa, não se poderia saber, apenas observar as reações exageradas, e que se moviam para um padrão comportamental não congruente.

Ah, e psicanalistas odiavam tanto as aulas de Skinner, o universo é mesmo uma piada pronta.

Namjoon deitou na cama, depois de colocar Jimin para dormir e largar os pratos na pia, dizendo que os limparia pela manhã, porém proibindo terminantemente Jimin de fazer o mesmo quando já tivesse idade para lavar a louça. Caminhou meio desorientado pela casa ampla, e a luz amarelada do abajur dava um ar abafado ao quarto, ou talvez fosse o psicólogo que estava pensando demais.

Dizem que médicos podem, sim, visitar outros médicos, mas duvidam do sentido de um psicólogo visitar outro, como se a capacidade de auxiliar com os problemas dos outros neutralizasse os seus, quando na verdade, vendo os problemas e neuroses nos outros, é que acabamos apontando e descobrindo os nossos próprios. De todas as partes daquele discurso, não acreditava na inferência de ele ser um pai ruim, afinal, fez tudo o que pôde sempre, sozinho toda a vida, ele deveria ser bom, ou apenas queria receber palmas por fazer sua obrigação. Um dos maiores defeitos das pessoas é esperar congratulações por qualquer coisa.

Pensamentos vieram em forma de rajada, por mais que tentasse se concentrar na luz forte do abajur, o brilho era disforme, repleto do desfoque habitual que uma elevada sucessão de perdas e acasos da vida, amontoava. Era impossível não duvidar de si mesmo, por mais que achasse uma grande piada a doutrina de Freud, mais ainda um cara que se achava tão competente, que dava sua opinião quando não era solicitado. Se for levar em consideração o fato de que psicólogos também dizem coisas quando não são solicitados, mas a pessoa visita-o para ouvir algo, é um paradoxo completamente confortável e possível.

Se o pensamento se mantiver racional.

Namjoon balançou a cabeça e se jogou de uma vez na cama, fechando os olhos e desejando incessantemente que o impacto o livrasse da tensão do pensamento. E não iria mesmo. Fechou os olhos com força e travou os dedos, machucando suas palmas e convencendo-se de que daria certo, Seokjin em breve seria apenas um fantasma do seu passado.

Não foi.

E não apenas porque sonhou com ele, e sim porque foi a primeira pessoa que viu de manhã, depois de seu próprio filho.

Ao chegar para deixar Jimin na escola, Seokjin estava em frente, parado com o jaleco pendurado no braço direito, usava um moletom preto com capuz, cores diversas eram as da frase estampada na frente, ele parecia feliz e confortável, não dando a mínima para aquelas cores remeterem a bandeira LGBTQ , confiante de si, o garoto.

Namjoon deu um beijo em Jimin o mais longe de Jin que pôde, e foi relutante ao filho tentando levá-lo em direção ao psicólogo. Não estava em clima para aquilo, não naquele momento. Por algum motivo tinha acordado de mau humor.

Namjoon sonhou que Seokjin ia morar em sua casa, fazendo o almoço todos os dias e dando beijos na testa do filho antes dele dormir, claro que em momento algum o próprio Namjoon deixou de dar beijos no filho, não foi como perder o lugar e nem ser substituído, era como... Balançou a cabeça e voltou a dirigir o carro para a clínica.

Segundo Freud [knj + ksj]Onde histórias criam vida. Descubra agora