09

585 69 75
                                    

Maratona 3/7

Lili desce a escada de incêndio voando, o coração disparado pela adrenalina
e pelo medo. Assim que alcança o térreo, se vê em um beco lateral. Deve esta
segura ali. O portão que dá para a rua nos fundos do edificio está trancado po
dentro.

Por precaução, ela se abaixa entre duas caçambas onde os moradores do prédio do Senhor Cole jogam seus lixos. Inclina-se contra a parede de tijolos e se esforça para respirar, tentando recuperar o fôlego.
Como eles a encontraram? Como?

Ela havia reconhecido a voz de Dante na hora, todas as lembrança reprimidas vieram à tona com um ímpeto apavorante.
O escuro.
O cheiro.
O medo.
O frio.
O cheiro. Meu Deus. O cheiro.

Lágrimas brotam em seus olhos, e Lili pisca, tentando contê-las. Ela o
levou até ele! Ela sabe como aqueles homens são cruéis e do que são capazes de
fazer. Deixa escapar um soluço alto e coloca a mão na boca enquanto se encolhe no chão frio.
Ele pode estar ferido.
Não.

Ela precisa conferir. Não pode fugir se ele estiver machucado.
Pense, Lili. Pense.
A única pessoa que sabe que ela está aqui é Magda.
Magda!
Não. Será que eles encontraram Magda e Michal?
O que fizeram com os dois?
Magda.
Michal.
O senhor... Cole.
Sua respiração é violenta, curta, seca, o pânico começa a obstruir sua garganta.

Ela acha que vai desmaiar, mas de repente seu estômago se revira, a
bile sobe à garganta e, antes que perceba, Lili está inclinada para a frente,
vomitandoo café da manhā no chão. Enquanto o enjoo não passa, ela apoia as
mãos na parede de tijolos até não restar mais nada no estômago.

O esforço fisico a deixa exausta, mas um pouco mais calma. Limpando a boca com o dorso da mão, ela se levanta, meio tonta, e espia o beco para conferir se alguém a ouviu. Ainda está sozinha.
Graças a Deus.
Pense, Lili, pense.

A primeira coisa a fazer é conterir se o Senhor está bem. Inspirando
profundamente, deixa o abrigo das caçambas de lixo e volta a subir a escada de
incêndio. Avança com cautela, movida pela autopreservação. Precisa saber se
eles foram embora, mas não pode ser vista.

São seis andares; no quinto, ela já
está sem fôlego. Sobe bem devagar o nível seguinte e espia entre as grades de
metal para dentro do apartamento. A porta da lavanderia está fechada, mas dá
para ver a sala. A princípio, não há sinal de vida, mas então, de repente, o Senhor irrompe no cômodo, e Lili percebe que ele está procurando alguma coisa na escrivaninha.

Ele fica lá um minuto antes de tornar a sair do ambiente as pressas. O corpo dela relaxa contra a grade de metal.
Ele está bem.
Graças a Deus.

Tendo matado sua curiosidade e com a consciência tranquila, Lili desce
a escada mais uma vez, cambaleando, convicta de que precisa conferir se
Magda e Michal também estão bem
Quando volta ao beco, calça as botas e se encaminha para o portão nos
fundos do prédio, que dá para a rua de trás, não para o Chelsea Embankment.
Ela hesita por um instante. Talvez Dante e Ylli, seu comparsa, estejam à sua espera.

É claro que poderiam estar ali fora. Com o coração em um ritmo frenético, ela abre o portão e examina a rua. O único movimento é o de um carro esportivo verde-escuro acelerando no final da via; não há sinal de Dante e de Ylli. Tirando o gorro de lã da bolsa, ela o veste, enfia o cabelo para dentro,e segue em direção ao ponto de ônibus.

Anda apressada pela rua. Está lutando contra o impulso de correr, sabendo
que isso chamaria atenção indesejada. Mantém a cabeça baixa e as mãos nos
bolsos e, a cada passo, reza para o Deus da sua avó manter Magda e Michal a
salvo. Ela repete e repete o pedido, alternando entre sua língua nativa e o
inglês.
Ruaji, Zot.
Ruaji, Zot.
Deus, proteja os dois.

Mister | SprousehartOnde histórias criam vida. Descubra agora