Capítulo 7

118 16 1
                                    

Anahi havia esperado ansiosamente para telefonar para a irmã e saber sobre a reunião da Pitman. E o momento chegara. Assim, apesar de estar no meio de uma loja de produtos para a casa, ela pegou o celular e digitou o número da linha direta de sua sala na empresa.

— Alô?

— Devia dizer Anahi Portilla, auditoria.

— Ah... Oi, Anahi.

— Olá. Como vão as coisas por aí?

— Bem.

— Quero saber sobre a reunião. — Ela pegou uma caixa de pregos em uma prateleira.

— Foi interessante. Jackson praticamente demitiu todo o de­partamento de criação. Isso é normal?

— Ele o quê?

— Ah, na verdade, eles mesmos se demitiram. E aceitaram cumprir trinta dias de aviso prévio.

— Meu Deus...

— Francamente, Anahi, não havia outra saída. Eles não querem mudar a orientação dos produtos, como Jackson sugeriu e... Bem, talvez aceitem o desafio e acabem ficando, mas...

— Está defendendo Jackson Hawks? Ontem você disse que ele era arrogante. O que está acontecendo?

— Nada. Ele ainda é arrogante, mas agora entendo de onde vem essa arrogância.

Anahi decidiu encerrar o assunto. Precisava entrar na fila do caixa, e poderia ligar novamente mais tarde e obter todos os deta­lhes mais importantes com Oliver, seu assistente.

— Está bem, Gio, agora tenho de desligar. Comprei algumas coisas para a casa, e preciso passar pelo caixa. Carly e eu estamos nos divertindo muito.

— O que estão fazendo com minha casa?

— Nada muito importante. Só um toque aqui, uma pequena mudança ali... O lugar precisa de alguns retoques, sabe?

A verdade é que Anahi optara por uma reforma extensiva em tempo recorde. Alfonso a ajudara contratando uma equipe completa, e em três dias as crianças estariam de folga. Não teria mais de se preocupar com as pestinhas. Alfonso tinha bom gosto e tempo de sobra, e Anahi estava confiante de que o resultado agradaria a irmã.

— Anahi, você precisa descansar. Por isso concordei com essa sua ideia maluca de trocarmos de lugar.

— Sim, eu sei, e é o que vou fazer hoje à tarde. Um bom livro, uma xícara de chá e o sofá... Assim que as crianças forem embora, está bem?

— Promete?

— Prometo!

Anahi desligou sem esperar pela resposta. Não estava mentindo. Pretendia mesmo descansar no final da tarde e ler todas aquelas revistas de decoração que havia comprado horas antes. E, para relaxar, passaria algumas horas sem pensar na Pitman.

Anahi estava se aproximando do caixa com o carrinho lotado, pensando em como levaria todo aquele material para a van, quando ouviu a voz de Alfonso.

— Não acha que exagerou um pouco?

— Alfonso! O que faz aqui?

— Vim comprar mais fios para a troca da fiação dos quartos. Os rapazes estão trabalhando em ritmo acelerado.

— Ótimo. Já que está aqui, será que pode me ajudar a levar as coisas para o carro?

Faria qualquer coisa que ela pedisse. Estava fascinado pela energia dessa mulher, por sua vitalidade e suas ideias inovadoras. E, tinha de reconhecer, também se sentia invadido por uma espécie de eletricidade quando estava perto dela. Mas... Bem, não se rela­cionava com alguém havia muito tempo, e sabia que essa mulher era especial, delicada. Melhor ficar atento.

Quinze minutos mais tarde, com as compras guardadas na van e a conta paga, Alfonso a convidou para ir à Starbucks, uma cafeteria vizinha à loja.

— Estou pensando em um cappuccino e uma generosa fatia de brownie.

— Maravilhoso! — ela concordou. — Vá na frente, MacDuff.

Shakespeare. Além de todas as qualidades, ela era culta, também.

Anahi o seguiu do estacionamento até a cafeteria e, a caminho, viu um palhaço parado na porta da loja de utensílios para o lar e material de construção. Era semana de inauguração, e havia uma infinidade de promoções e muitas formas de entretenimento. Ela experimentou um arrepio. Nunca gostara de palhaços, e aquele parecia encará-la fixamente. Por quê?

Intrigada e perturbada, ela entrou na cafeteria. Precisava de ca­feína. Era isso.

— Algum problema?

A voz de Alfonso a arrancou do retraimento.

— O quê? Ah, sim, eu... Acho que não me alimentei correta­mente hoje cedo.

— Por que não prova o grelhado de queijo e presunto?

— Boa ideia. — Anahi pediu o assado e, enquanto esperava, perguntou:

— Alfonso, já teve a sensação de que alguém está inva­dindo seu espaço sem sequer chegar perto de você? Um arrepio estranho, um frio repentino...

— Não costumo dar muita atenção a essas coisas. Por quê?

— Não sei. Senti um arrepio quando olhei para aquele palhaço lá fora.

Alfonso riu.

— Deve ter assistido a muitos filmes de terror. Eu desisti da televisão há algum tempo. Minha vida melhorou muito depois disso.

— Desistiu da televisão?

— É triste, mas é verdade. Quando me interesso por alguma notícia, prefiro ler os jornais. E ouço algum podcast, às vezes. Hoje em dia a mídia é muito parcial, tendenciosa... Na maioria das vezes, o que temos é uma gota de verdade em um mar de mentiras e exageros.

Anahi tentou imaginar o que ele pensaria se soubesse que ela havia ajudado a planejar e veicular uma campanha nacional de publicidade da Pitman exibida durante um ano em todos os canais da tv aberta. O homem era perfeito para Giovanna e seu mundo antiquado e alienado! Os dois haviam nascido um para o outro.

— Bem, agora tenho de ir. — ela anunciou. — Preciso parar no mercado e comprar chocolate para os monstrinhos. Encontro você em casa, está bem? Vou precisar de ajuda para descarregar todas aquelas coisas do carro.

Alfonso terminou de beber o cappuccino e também saiu. Havia muito a ser feito num curto período de tempo. Paredes seriam pin­tadas, a fiação já estava sendo substituída, o piso seria trocado e o banheiro seria completamente reformado. Quase impossível, ape­sar de contar com uma equipe veloz e competente. Por que aceitara a empreitada? O verão era o tempo em que se dedicava a esculpir peças maiores que exigiam espaço aberto. Devia estar começando a planejar as obras encomendadas pela biblioteca local.

Bem, talvez quisesse alegrar um pouco a vida dessa jovem viú­va. Era sua natureza. Queria sempre deixar algo melhor do que havia encontrado.

A quem tentava enganar? A verdade é que a considerava fas­cinante. E isso era algo que não acontecia havia muito tempo. Aceitara a empreitada para poder passar mais tempo com a jovem e encantadora viúva. Giovanna tocara seu coração. Chegara a sonhar com ela na noite passada e, no sonho, não estava instalando uma torneira de água quente na pia de sua cozinha.



Em seu LugarWhere stories live. Discover now