lidocaine

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No meu terceiro dia de residência eu assisti a minha primeira cirurgia de alguém que havia sido baleado no peito.

Pessoas que recebem tiros no peito muitas vezes não sentem dor. O corpo humano libera tanta adrenalina na corrente sanguínea que os sensores responsáveis por levar a informação da dor até o seu cérebro não funcionam como devem. A única coisa que a pessoa sente são múltiplas vibrações quando a bala entra em contato com sua pele, cortando cada tecido, músculo, nervo, veias e artérias pelo caminho.

Talvez a pior parte de ser baleado seja os sentimentos de incerteza que se passam na sua mente quando tudo acontece. Ou talvez seja os anos de trauma que são transformados em transtorno de estresse pós-traumático.

Eu passei anos da minha vida estudando sobre o corpo humano e as suas reações a milhares de coisas que podem dar errado. Eu passe quatro anos aperfeiçoando todas as minha técnicas, raciocínios para diagnósticos e humanização para atender todos que precisem da minha ajuda.

Mas eu nunca estudei sobre o efeito que isso pode ter em mim. Eu nunca estudei sobre o que ver alguém que você se importa tanto com um buraco no peito faz com a minha cabeça.

Eu não sei o que aconteceu, mas a bala que foi apoitada para mim nunca chegou e eu finalmente consigo enxergar Tom.

Sua respiração está irregular e eu sinto meus olhos se encherem de lágrimas, minha visão extremamente turva.

"O alvo caiu. Repito, o alvo caiu. Águia vermelha está segura."

"Tom... Hey... Eu estou aqui." Eu falo pressionando sua ferida com força para estancar o sangue, fazendo com que ele grite e meu coração quebre em pedaços. "Hey, você consegue me responder?" Eu pergunto colocando meu dedo indicador na frente do seus olhos, os movimentando de um lado para o outro para saber se seu cérebro está sendo afetado pela baixa oxigenação.

"Precisamos evacuar o local." Eu sinto a mão do segurança do pai de Michelle, ou qualquer merda que ele seja, mas eu o empurro bruscamente.

"Evacuar o local? Eu preciso salvar a vida dele!" Eu grito, não me importando mais em manter minhas emoções dentro de mim. "Luke, eu preciso levá-lo para uma sala de cirurgia agora." Eu falo e coloco meu dedo médio e indicador sobre a carótida de Tom, sentindo sua pulsação fraca.

Eu olho pra Luke que está parado na minha frente sem fazer absolutamente nada.

"Luke!" Eu grito para ele. Ele vai realmente deixar Tom sozinho aqui?

"Eu vou pegar uma maca." Ele diz e eu volto minha atenção para Tom.

"Luke, são ordens. Precisamos os evacuar agora."

Eu sinto os dedos de Tom sobre minha mão que está estancando o sangue em seu peito, seu olhar já um pouco caído.

Eu continuo procurando por algum outro tipo de machucado visível em seu corpo, mas não encontro nada.

"Vocês acabaram de matar o cara, talvez a gente esteja seguro agora, não é mesmo? Eu não posso deixar ela aqui sozinha. Nós estamos bem."

"Emma..." Eu ouço a voz fraca de Tom e eu coloco minha mão em seu maxilar, fazendo com que ele se incline mais em meu toque.

"Eu estou aqui, ok? Tente não mexer muito a sua cabeça, eu não quero arriscar nenhuma contusão." Eu falo e ele tosse, fechando seus olhos.

"Não. Nada de fechar os olhos. Olhe para mim." Eu falo para ele e me viro para Luke que está andando em minha direção com uma das macas que ficam nos corredores. "Luke ele está perdendo a consciência!" Eu grito.

Champagne Problems | Book 2 | H.S. {PT BR}Donde viven las historias. Descúbrelo ahora