algo partido

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Em certas ocasiões o processo é tão gradativo que é quase imperceptível, ao menos até que seja tarde demais para altera-lo. Isto também ocorre quando estamos em situações ruins e acabamos por não perceber quando algo bom começa a acontecer até que finalmente acabe. O resto se torna consequência e temos de nos adaptar e aprender a como lidar com tais variáveis. Porque mesmo com alguns indícios, que conquanto sutis estão presentes, teimamos em não ver, em não enxergar. É mais fácil ignorar coisas erradas e ruins do que tomar uma atitude para muda-las, afinal. A covardia sempre será uma parte do que chamamos ser humano, bem como a ignorância. "É demais pedir que me enxergue". Finalmente havia compreendido de maneira definitiva o que aquilo deveria significar, todavia, infelizmente já era tarde demais. Os sinais sempre estiveram lá, contudo nunca fizera questão de vê-los, assim como nunca tentara olhar para ele, não de verdade. E se não tentava ver, como pretendia entender? Quando pensava que tudo estava se caminhando para o fim, quando tudo finalmente iria melhorar, as cartas desmoronavam, o círculo se fechava e se encontrava sozinho e encurralado, sem peças a descartar e sem arsenal o suficiente para blefar. Recuar não precisa ser sinônimo de desistência ou fracasso, as vezes, o mais prudente pode ser retroceder, reorganizar o tabuleiro e recomeçar. Só é possível aprender com os erros quando se os reconhece.

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— E aí? – Questionou Ryuk segundos​ antes de abocanhar um pedaço enorme de seu cachorro quente. – Como foi? – Provavelmente, ele se referia a conversa que mencionara ter tido com L, indagando enquanto ainda mastigava os pedaços de salsicha e pão.

— Eu diria que... – Extremamente broxante, era o que gostaria de proferir. No início havia sido constrangedora, logo passando a ser enfadonha e levemente irritante até que, por fim, tudo declinou a uma melancolia decepcionante. Não entendia que conclusão poderia tomar acerca de tudo. – Foi confuso. Mas eficiente. – Acrescentou antes de mordiscar seu próprio sanduíche.

Sim, Ryuk finalmente havia lhe convencido a comer cachorro quente, certamente não naquele estabelecimento que fora notificado pelo saneamento básico. Admitisse ou não (no caso, não), adorava passar o tempo com o grandalhão. Ele era uma companhia muito melhor do que Mikami e Takada e só perdia para Misa quando estava demasiadamente necessitado de sexo (o que, inclusive, estava; já fazia algumas semanas desde a última vez).

— Como assim eficiente?

A escola se situava próxima do centro comercial, que por sua vez possuía uma belíssima praça famigerada pelo espaço aberto com bons estabelecimentos que a rodeavam e pela ótima manutenção das fontes e arbustos. Os ladrilhos da calçada formavam uma espécie de cercadura por volta deste espaço, bem como as pequenas lojas em um nível mais elevado, de forma que houvessem largas declinações na entrada para os pequenos jardins. Ambos os garotos se sentaram em cima da mureta que fazia a divisão entre os estabelecimentos e a praça, em frente a lanchonete que compraram o cachorro-quente; Ryuk estava no ponto onde o declínio era maior para que pudesse esticar suas pernas, estas que hora ou outra balançavam contentes​ e despreocupadas, enquanto Light estava ao seu lado, com uma perna de cada face do pequeno muro.

— Ele entendeu o porquê fizemos a troca. – Na verdade, aquela era mais uma suposição do que uma alegação. Lawliet era inteligente, ele deveria ter compreendido e, talvez, fosse por isso que tivesse ficado chateado. Entretanto, sobre isto não podia fazer nada e, igualmente, nada tinha a ver. Sua incapacidade não era culpa sua e desta vez, não assumiria a responsabilidade de lhe ajudar.

— Tá certo... – Respondeu mais uma vez de boca cheia, proporcionando a Yagami uma asquerosa visão da comida mastigada dentro de sua cavidade oral, não que já não estivesse acostumado...

— E como vai você? – Sequer lembrava-se da última vez que fizera esta pergunta. Ryuk estava sempre tão alegre e se preocupava genuinamente consigo, porém normalmente não conversavam sobre sua vida. Light bem sabia que o mais velho detestava falar sobre sua família (por motivos muito condizentes) e evitava a todo custo contar sobre si.

That's LifeWhere stories live. Discover now