Capítulo 1: Isso não é da sua conta

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Natasha

- Natasha, acorda!

Senti meu corpo tremer de susto e me sentei na cama bruscamente, de olhos arregalados. Minha mãe segurava um bebê no colo, eu não conseguia distinguir se era a Bruna, a Lara ou a Ana, mas ela usava uma de suas usuais roupas pretas e extremamente castas batendo nos joelhos e cobrindo os braços até o pescoço.

Afinal, ela era esposa do pastor.

- Não fica aí me olhando com essa cara, são sete e meia! Você vai se atrasar pro primeiro dia de aula!

Balancei a cabeça, finalmente acordando e agarrei meu celular. Droga, dois alarmes perdidos, realmente eram sete e meia!

- Merda. - me levantei, sentindo tonturas no processo e abri as portas do armário.

- Não xingue! Seu pai já está furioso!

- Ele não é a porra do meu pai! - gritei, lançando-a um olhar completamente irritado e vi suas sobrancelhas ruivas se contorcerem.

- Você é uma ingrata. Vamos, se arrume rápido. - disse, saíndo do quarto e negou com a cabeça.

Joguei as roupas em cima da cama e agarrei um travesseiro. Coloquei-o no rosto e gritei o mais alto que pude. Eu odeio minha vida. Eu odeio minha mãe. Eu odeio o meu padrasto filho da puta. E eu odeio essas merdas de bebês perfeitas e inúteis!

Suspirei, largando o travesseiro.

Okay. Eu não conseguia odiar as bebês perfeitas e inúteis, elas eram as únicas que não me maltratavam naquela casa. Talvez porque não tivessem idade pra isso. Troquei de roupa o mais rápido que pude, entrando no banheiro que estava um caos, cheio de produtos espalhados para todo lado.

Observei meu reflexo. Meus cabelos estavam embaraçados, meus olhos tinham olheiras fundas. Eu estava pálida e feia, e agora só tinha vinte minutos para chegar no colégio. Se alguém me pegasse entrando atrasada, eu definitivamente pegaria detenção.

Mas eu não podia ir pra escola assim, eu tinha uma reputação a zelar. Escovei meu cabelo, depois os dentes, passei corretivo debaixo dos olhos e um gloss. Catei minha mochila do chão e corri escada abaixo, olhando o relógio.

Quinze minutos. Merda.

- Eu pago cinco mil dólares nesse colégio atoa, Natália, essa menina é irresponsável! É o primeiro dia de aula e ela já está atrasada! Só serve para sujar meu nome!

Parei na escada, sentindo minhas mãos tremendo. Olhei para cima, respirando fundo. Não ouse nem pensar em chorar, Natasha Romanoff. Tomei coragem e entrei na cozinha.

Minha mãe ouvia ele me xingando de cabeça baixa, como sempre. Meu padrasto tinha quinze anos a mais que minha mãe. Olhos azuis frios como gelo, uma testa enorme e calva. Sobrancelhas sempre franzidas de fúria e lábios finos irritantes.

Aquele homem era Deus nessa casa. Ele é Deus nessa cidade.

- Ai está. - ele olhou para mim, negando com a cabeça e apontou para minha roupa. - Olha o estado da sua filha. Andando por aí como uma meretriz!

- Eu estou atrasada. - disse, cruzando a cozinha e os gritos retomaram. Fechei os olhos com força e apenas saí da casa, sabendo que não voltaria tão cedo. Entrei no meu carro, um jipe amarelo e joguei a bolsa no banco.

History Teacher - RomanogersWhere stories live. Discover now