Manifesto de um Adeus
"Repudiando no abanar das mãos se faz o silêncio de não ficar. Separadas as massas se perdem no gradiente e, gradativamente, se queimam, mas não põem as mãos a se balançar. Mas, por baixo da máscara da dor, ainda existe o sorriso na certeza da memória e esquecimento vivo no silêncio que luta.
Reconhecendo cada película fina, linha vítrea em que concorre a recíproca necessidade de uma última palavra secada e cercada pela solitária e reclusa chama do apagar. Contido no exílio e na marginalidade de verdadeiras correlações insípidas quando do lábio de outra pessoa.
Silenciando a convertida palha abandonada de sabor, tudo se torna direto brotando sem as doenças do verão, mantendo a estrutura coesa de nosso chão.
Calcificando a musculatura lisa de cada célula cartesiana duplamente positiva quando olhada nos olhos, verifica-se a veracidade da mentira que se cega pelo medo de ver. Volúpia e incerteza da tropical racionalidade de insetos que não podemos pulverizar para amá-los, mesmo sem gostar, pequenos obstáculos a serem superados com as mãos dadas ao presente, reflexo diário do futuro já alcançado.
Versificando as formas de cada solenidade de posse, percebo a ausência e o costume de cada pseudojuntar, inteiramente conectivo do passado descrito em páginas queimadas pela vaga contradição dispersada pelos pássaros, insetos em nossa razão.
Complementando o livro ainda não terminado jogo contra as paredes da alma cada verbete enclausurado dessa vã filosofia que inspira e anuncia a proximidade da partida de nossa recolhida formulação que nos torna amigos e inimigos de nossos próprios sentidos, renegando nossos próprios destinos e retiros.
Cobertos em fluxos cruzados chocam-se entre si vidas unidas e desunidas, cápsulas protetoras de nossa civilização, que nos tornam indivíduos individualmente unidos a individualidade. Chocam-se destinos e caminhos, mas os olhos fechados e tapados não podem deter-se em pontos de conformidade perdendo-se no vago proteger de meu sobrepujar alienado ao mundo que percorre o adeus e percola-se na eternidade da virada do milênio.
Secularizando cada milissegundo criado por si a semelhança do estado tenórico de canções vocalizadas na imensidão do espaço corpóreo e material, inscrevendo trechos de racionalidade na mente que mata e odeia em nome da integração e da proteção vazia e sem razão. Somos uma religião única e sem emoção.
Otimizando as relações com parâmetros adiantados percorremos a profundidade da coluna e nos inserimos em temperaturas de secagem, em que desidratamos nossa diferenciação e nos tornamos apenas o fluxo da civilização.
Convertendo as altíssimas palavras, caminhamos, a passos largos, em rumos opostos e se põe à emoção no horizonte de nossa própria visão estéril e científica do final de cada manhã erroneamente iluminada pela graça de nossa visão. Torna-se o dia com a certeza e a noite incerteza, mas, em verdade, as converto em frieza e pureza.
Pensando, me jogo ao chão e à vida deixo apenas o Manifesto de um Adeus"
"Saudades eu tenho
Do que antes era agora
Cada dia se fez escola
Em cada segundo que tenho
Mais rio se descola
Em cima de marcas de outrora
Saudades eu tenho"
"Não fiz o que pude
Porque pouco podia
Como seria o dia
Se pouco pudesse
Tenho mais do que podia?"
"Mais um salto
E outra partida
É a história repetida
Linha por linha
Fato por fato
Mas tenho novo retrato
De um passado apagado
Em pé enquanto deitado
Ao meu lado"
"Palavras são frases
Unidirecionadas
Vagas e espaçadas
Reflexos de fases
Antagonizadas
Caras e esparsas"
"O papel falava por nós
Soletrando pedaços de mim
Éramos eu e nós
Todos os sonhos sepultados em mim"
"Havia uma luz
Mas pararam de chamar
Fez trevas em dia solar
Havia uma luz
Mas a fizeram se apagar
Fez trevas com o brilho solar"
"É tão frio
E vazio
Dentro do que todos já provaram
É tão íngreme
E escorregadio
Dentro do que todos já viveram
Oh! Amor que já provei e vivi
Porque na dor tu és tão frio e vazio?"
"Quantos somos?
Entrelaçados com os mares
Quem somos?
Entrecortados pelos mares"
"Quem somos nós?
Fotos já não falam
Números dançam
Onde estamos nós?
Morreram os rios
O calor tornou-se arredio"