Capítulo 1 - "Tudo vai ficar bem"

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Capítulo um

Tudo vai ficar bem... [1]

Minha primeira experiência que tive num lugar luxurioso foi depois de uma semana que meu pai havia falecido. Sei que pode soar fútil, e é. Sei que pode ser insano, e foi. Mas o que eu poderia fazer? Continuar em casa chorando, fazendo luto eterno? Não, o Lucas não permitiu isso.

Meu pai morreu com câncer no pulmão. Já estava em sua fase terminal. Fui visitá-los um pouco antes de ele falecer. Fiquei alguns dias por lá, fazendo o papel de boa filha. Presenciei o fim dele tão triste. Ele era bondoso, e também muito novo para morrer, mas quem é que escolhe essa merda de dia para morrer?

Bem, fiquei sim revoltada de ver a tristeza e dor nos olhos de minha mãe. Ela ficaria sozinha! Sem o grande amor de sua vida. E eu não estaria mais lá, pois vivia sozinha com minhas responsabilidades. Não poderia largar isso e voltar pra casa dela. Mesmo dona Célia achando que seria possível. Mas a única coisa que dizíamos uma a outra era que tudo iria ficar bem. Era uma mentira confortável. Então iríamos viver bem.

Então mamãe se mudou de onde viveu por quarenta anos, e felizmente pelo menos vinte e seis ao lado do meu pai. Ela acompanhou a vizinha e melhor amiga com sua família para o interior, Dona Julieta, mãe do Lucas. Foram para Jundiaí, e hoje estão muito bem. Fiquei feliz com essa mudança, pois a morte é um horror, e ali, na companhia uma da outra, iria lhe fazer bem. E fez. Ela sobreviveu a isso.

E eu aqui também. Graças ao Lucas.

Depois que meu pai morreu, e que tentei voltar a rotina normal de minha vida, Lucas me fez um convite. Era uma noite calma e fresca. Estávamos entrando na primavera, então em alguns dias chovia e outros eram quentes. Nesse dia em especial, tinha chovido pra caramba durante a tarde, e a noite entrava com um espetacular céu azul-marinho. Havia até poucas estrelas e o cheiro de chuva pairava no ar. O quente abafado invadia minha sala, enquanto eu trabalhava loucamente em um comercial que iria ao ar mês seguinte. Novembro e dezembro são os meses agitados por conta de diversas propagandas natalinas. Então caí de cabeça num projeto e mergulhada esqueci do mundo, mas Lucas estava ali para me lembrar de que deveria viver. Intensamente.

Lucas se sentou no tapete persa marrom que tenho na sala, um presente dele. Olhou dentro dos meus olhos e disse com todas as letras.

– Tenho um convite perverso! – ele falou supersério. Eu o fitei esperando algo de sua proposta. Caralho, o que ele fazia ali dizendo isso? É louco.

Sim, ele é às vezes.

– Está falando sério? – mesmo sabendo que era sério, revolvi investigar.

– Claro! – deu de ombros e tocou em meus joelhos dobrados em cima do sofá. – Recebi um email dizendo que abriu uma casa nova aqui em Sampa, é uma coisa totalmente maluca, mas estou a fim de conhecer e queria te levar junto. Megan, você precisa sair daqui, urgente! – declarou convicto.  

– Estou bem, é sério, não estou com pique para nada, Lu! – respondi meio birrenta. Mas Lucas é fogo, ele é como eu, só faz o que quer e quando quer.

– Não estou te pedindo pra ir comigo, estou exigindo! Ah, esqueci de mencionar o que é essa nova casa, certo? – fez um pequeno mistério.

– Não quero dançar! Nem a pau. Estou lotada de trabalho e preciso entregar isso semana que vem! Algumas pessoas trabalham com prazo, não fico o dia inteiro batendo ponheta na frente do computador! – sou meio bocuda, mas Lucas nem liga, pelo contrário, ele gargalhou.

Saciada - Apenas Degustaçãoحيث تعيش القصص. اكتشف الآن