XXIX

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Cristopher on

Scarlett era veloz, mas isso não era novidade. O que era novidade era a cara assustada do lobo de Link quando a garota surgiu ao seu lado e o ultrapassou em questão de segundos mesmo quando saímos em sua frente e corremos em máxima velocidade

E ela se coloca ao meu lado, sua loba pequena e ágil demonstrando toda parceria que nunca pensei ver. Ela não me ultrapassava, ela não ficava para trás. Tinha alinhado sua corrida à minha e lá estava ela.

Ela queria conhecer cada parte minha

E ela entendia. Entendia que eu precisava fazer o que precisava ser feito. Entendia que isso não era bonito, mas era necessário

E quando, minutos depois, chegamos ao local e voltamos à nossa forma humana, ela não questionou e nem disse nada ao ver minha feição dura, fria e séria

Eu não era o Cristopher agora. Eu era o supremo e ela parecia entender isso

A escotilha é aberta por Link, que faz sinal para que eu entre no ambiente mal iluminado e úmido.

Adentro o local, encarando o homem preso a uma cadeira por cordas firmes e grossas que envolviam não só seus pulsos e pernas, como seu tronco

Ele ergue o olhar, nos encarando e revelando o rosto desfigurado pelas minhas garras e vejo-o se encolher levemente antes de soltar um grunhido baixo ao me ver

Ele estava com alguns outros ferimentos aparentes e eu via Scar em minha visão periférica casualmente encostada em um canto enquanto Link se colocava ao meu lado sério e de braços cruzados

-Vejo que a cicatriz lhe fez bem-pontuo me aproximando dele e rondando-o como um predador-combinou com você

-Está perdendo seu tempo -murmura com toda coragem que lhe resta

-Não se preocupe, Steve-digo sorrindo sadicamente enquanto apoiava as mãos no braços da cadeira e o encarava no fundo dos olhos- eu tenho muito tempo para me divertir com você

E o medo em seus olhos não era à toa. Eu não reconhecia minha voz, não reconhecia minhas feições. Não me reconhecia

-Se encontrou com Mark nesses últimos dias?-indago caminhando até o canto do lugar avistando uma mesa de madeira com equipamentos de tortura

-Não-responde rápido e eu rio acidamente enquanto pegava uma adaga e a girava nas mãos

-Sabe Steve-começo colocando o indicador na ponta da lâmina enquanto me aproximava do homem- se você mentir-pontuo deslizando a arma pela bochecha não ferida do homem- não se engane, será muito divertido para mim, mas talvez você não consiga aproveitar muito o momento. Eu sou um excelente anfitrião, e o odiaria que tivesse um péssimo momento em minha companhia

E eu me afasto o suficiente para lançar a adaga de minhas mãos em um movimento calculado, fazendo-a cortar a lateral de sua bochecha antes de cravar na parede atrás do homem

E eu solto uma risada baixa, grave e cautelosa enquanto encarava a adaga e seu rosto

-Ops... -digo vendo o sangue escorrendo por seu rosto enquanto tinha um sorriso maldoso- acho que errei...

-E-eu iria encontrá-lo ontem-murmura trêmulo

-E o que houve?-questiono duro

Silêncio

-O que-digo caminhando em sua direção forçando meus olhos a ficarem vermelhos- houve?

Silêncio

E um soco forte o suficiente para fazer com que a cadeira caia no chão junto com ele, o atinge

Não pretendia derrubá-lo, mas eu não gostava desse cara. Estava ficando difícil ser tão legal

Me agacho no chão, o erguendo pelo pescoço e colocando a cadeira na posição inicial vendo seu olhar arregalado

-O que houve?-indago

-E-eu recebi uma carta-diz apressado- uma carta dizendo que o supremo estava evitando encontros

-Isso não faz sentido, ele não te chamou para ir até ele? Qual era sua missão para começo de conversa?-questiono e ele balança a cabeça rindo de modo nervoso, assustado

-Se eu disser tudo que quer saber, estarei morto

-Não lhe garanto a morte-digo cruzando os braços

-Mas o supremo sim-cospe e eu rio

E eu tenho certeza de que não havia nada humano naquele riso

-Eu te afirmo, caro Steve, que morrer pelas mãos do meu irmão será uma grande misericórdia se você não começar a falar-digo entredentes

-E o que quer saber? Quer saber por que trai a vadiazinha? Quer saber por que a capturei? Ou talvez queria saber sobre o supremo... talvez queria saber sobre sua Layla?-indaga com um sorriso malicioso e eu sinto meu estômago se revirar, mas não demonstro- talvez queira saber porque seu irmão obrigou a coitada a fingir ter um caso com ele

O que?

Fingir...? Fingir ter um caso com ele?

Mas antes que eu sequer possa ter tempo de reagir a informação, ele já tinha voado para o outro lado do cômodo, sendo jogado contra a parede por um único golpe: um chute lateral vindo de Scarlett que o acertara bem no peito em um único movimento carregado de técnica, agilidade e força

Um golpe único e poderoso que o fez gemer e cuspir um pouco de sangue no chão. A mulher caminha até ele em passos lentos e poderosos, silenciosos e mortais

Os ombros erguidos, as costas eretas e o queixo levantado. Digna de uma rainha

Ela se agacha na frente do homem caído, virando a cabeça para o lado para encarar sua cabeça colada no chão, como um verdadeiro predador analisando uma presa instigante. A cadeira não havia resistido ao impacto e tinha se estilhaçado ao redor do homem

E sem a menor delicadeza ou esforço, ela o ergue para que ele fique sentado contra a parede, e com o indicador, levanta o queixo do homem para que ele a encare

-Ah Steve...-sussurra de modo lento, sensual, perigoso. As palavras deslizavam para fora de seus lábios em um tom grave, rouco e arrastado- eu acho que se esqueceu de com quem está lidando...

A mulher tombava a cabeça para a esquerda e para a direita como uma cobra prestes a dar o bote. Ela era paciente, fria e mortal

E eu, com todos os anos de vida que me cercavam, sinto um arrepio percorrer pelo meu corpo seguido de um sorriso ladino

E eu achando que era o único portador de uma malícia profunda. Havia me esquecido da experiência de Scarlett, de sua liderança na rebelião do Sul

Ela era filha dos alfas mais poderosos de sua época, era líder de um povo inteiro e carregava o título da loba de uma revolução inteira. Era o símbolo deles

Não deve ter sido fácil

E não deve ter sido bonito porque o homem à sua frente tremia. Ele tremia de medo e isso não era algo comum vindo de alguém que não havia tremido assim quando eu o interrogava

Poderia me sentir ofendido, se não tivesse tão maravilhado

-O que acha de responder às minhas perguntas-indaga deslizando o dedo indicador pela bochecha ferida do homem, que ainda não a encarava- eu juro que serei boazinha. Não será como foi com aqueles soldados do supremo aquela vez... e ah... me desculpe por torturá-los na sua frente... eu não poderia imaginar que você era um ratinho imundo... se eu soubesse, não teria feito aquilo bem na sua frente

-EU CONTO, EU CONTO TUDO-diz iniciando um choro copioso e assustado- só me tirem de perto dela! ME TIREM DE PERTO DELA!

-Você pode ter mexido comigo Steve-diz tão baixo e tão próximo a orelha dele que eu fui obrigado a aumentar meus sentidos para ouvir o final. E a sua voz... não havia um pingo de sentimento ali. Não era sequer uma ameaça, era algo muito além disso- mas não cuspa mentiras para o meu companheiro novamente.

E o homem se encolhe enquanto ela se levantava e saía do armazém sem olhar para trás, mantendo aquele andar irreconhecível

Era impossível conter a surpresa em meus olhos

A loba da revolução Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum