Quebrando o gelo

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Acordei um pouco desnorteada, abri os olhos lentamente e agradeci pelas cortinas estarem fechadas, apenas o pequeno fecho de luz que a atravessava já quase me cegou. Sentei na enorme cama de casal e cocei a cabeça refletindo sobre como fui parar ali e o que eu faria agora.

Ao sair do quarto escutei alguns ruídos vindos do andar de baixo e desci as escadas devagar analisando todo o perímetro. Não seria interessante que alguém me visse aqui, especialmente por eu ser uma alfa e a Historia uma ômega, soaria estranho.
Mas ao chegar no primeiro andar pude notar que a casa enorme parecia vazia exceto pelo cômodo de onde vinha agora um barulho característico de panelas.

Andei a passos finos até lá encontrando Historia que estava uma bagunça, completamente suja juntamente com a banda estilo ilha de cozinha americana em mármore branco, pelo menos antes de toda aquela sujeira, mas mesmo assim continuava bonita. Ri da cena fazendo com que ela se virasse surpresa e ao mesmo tempo constrangida.

- O que você está fazendo?- Pergunto segurando o riso.

-Desculpe, eu não sou muito boa na cozinha.- Ela diz ainda constrangida. Não fico surpresa com sua afirmação, mesmo sendo ômega ela parece ter muito dinheiro, pelo menos sua família tem.

-E o que era para isso ser.- Digo apontando para a bancada suja.

-Panquecas.- Ela responde cabisbaixa.

-Certo, se você me der os ingredientes eu posso faze-las para a gente.

-Sério?- Ela questiona feliz. E eu aceno com a cabeça em resposta.- Mas e a sua aula?

-O professor Levi está de licença então não terei muitos problemas se eu chega no segundo horário.- Digo dando de ombros e indo pegar as coisas que preciso enquanto limpo o balcão e o fogão.

Ela observa muito atentamente cada passo que eu faço enquanto cozinho a receita mais simples para um café da manhã. Ovos, farinha e leite fazem uma massa consistente que logo em seguida jogo na frigideira. No momento de virar a panqueca quis fazer uma graça, uma das minhas poucas habilidades culinárias é virar panquecas perfeitamente. Até Sasha tem inveja.

Eu só não esperava tanta empolgação da garota de cabelos loiros que olhou para mim como se fosse uma criança vendo algum truque de mágica. Seus olhos azuis brilhavam e isso fez com que meu ego se elevasse um pouco.

-Incrível

- Que fazer?- Perguntei sem pensar muito no que havia proposto. Ela acenou empolgada confirmando que sim.

Entreguei a frigideira em suas mãos, a mesma que segurou firme no cabo como se sua vida dependesse disso. Logo depois joguei a massa branquinha na superfície da panela. Esperei alguns segundos para que o lado em contato dourasse o suficiente e então segurei suas mãos para ajudar a conduzir o movimento.

A proximidade das suas costas ao meu corpo fez com que uma onda de calor subisse meu corpo. Seus cabelos agora próximos ao meu nariz emanavam aquele cheiro doce que eu não sabia descrever. As vezes me lembrava flores. Fazendo impulso joguei a panqueca para o alto e a recebi de volta na frigideira. Por sorte deu tudo certo mesmo com a menina sobre meus braços.

Depois de fazer duas pequenas pilhas de panqueca, as finalizei com mirtilos e cauda que encontrei na geladeira, prontas finalmente para que comecemos. Coloquei um pedaço na boca comprovando que estavam realmente gostosas e aguardei a reação da garota a minha frente.

-Está muito bom.- Ela disse surpresa.

-Eu não cozinho tão bem quanto a minha irmã, mas eu sei fazer algumas coisas.- Digo feliz por ela ter gostado.

-Sua irmã?- Ela pergunta colocando outro pedaço de panqueca na boca.

-Minha irmã adotiva Sasha também é ômega como você, ela curso gastronomia então sua comida é realmente boa. - Estava feliz por podermos nós conhecer melhor. O assunto parecia fluir naturalmente.

-Um dia me leve para comer algo na sua casa então.- Ela diz com um leve e iluminado sorriso no rosto. Mas depois ela franze o cenho em minha direção me deixando um pouco angustiada. De repente ela toca meu rosto próximo a meus lábios.- Estava um pouco sujo.

-Desculpe.- Digo corada com a aproximação.- Onde estão seus pais?- Pergunto finalmente e sinto um pouco de nervosismo por poder ter tocado em um assunto delicado.

-Trabalhando.- Ela responde seca se levantando e indo em direção a cozinha com as louças sujas.

Vamos caminhando até a faculdade, que fica relativamente perto, mas no caminho ficamos quase que em completo silêncio, o que já estava incomodando. Ao chegar na entrada do campos a garota de cabelos loiros se despediu indo em direção a sua sala.
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Xingo me levantando finalmente decidindo ir para a aula. Se eu não fosse hoje levantaria mais suspeitas ainda. Acontece que o cio do Levi saiu dos eixos, o mesmo disse que isso nunca havia acontecido e ele era sempre bem regular. Mas o que era para durar até segunda se estendeu até quarta. E na quinta eu só consegui dormir o dia inteiro.

Hoje é sexta e eu realmente preciso aparecer na faculdade, por sorte quando um ômega está nessa situação eles tiram a semana de folga, então o Levi só voltará a aula na segunda. Posso inventar alguma desculpa como uma gripe ou resfriado quem sabe.

Seco meus cabelos amarrando em um semi rabo de cavalo que só pega metade do cabelo. Meu cabelo havia crescido muito e eu ainda não tive tempo para corta-lo. Seco o rosto lembrando do ômega. Definitivamente seria difícil negar agora o quanto eu gostava dele. Droga, jogo a toalha na pia e saio do banheiro.

Chego na faculdade e entro na sala. Já recebo vários olhares curiosos. Mas surpreendentemente, Mikasa que normalmente estaria desesperada e me encheria de perguntas apenas parecia brava ou até mesmo decepcionada comigo. Ela apenas me ignorou por um longo período da aula.

-O que aconteceu?- Armin me perguntou finalmente com aquele seu olhar julgador.

-Eu adoeci, mas não era nada demais, não quis preocupar vocês.- Mikasa bufa com minha resposta se levantando do seu lugar e saindo da sala.

-Agora me fala a verdade.- Armin diz se levantando e eu faço o mesmo já guardando algumas coisas na mochila.

-Não é da sua conta.

-Tudo bem Eren, mas não diga que eu não avisei. Eu sei onde você estava.- Ele fala me encarando seriamente antes de sair também bravo. Droga Levi, você vai fazer eu perder meus amigos também desse jeito.

Caminho tranquilamente pelos corredores quando escuto um diálogo interessante. Eu normalmente não prestaria atenção, eu não presto atenção em ninguém, mas parece que minha atenção se voltou para isso inconscientemente.

-Erwin, voltou de viagem?- A mulher de cabelos pretos disse.

-Sim. As coisas se resolveram mais rápido do que eu pensava.- Ele disse sorrindo educadamente.- Por acaso você viu o Levi?- Ouvir o nome do meu ômega vez eu parar minha caminhada para escutar mais atentamente.

-O professor Levi tirou uns dias.- Ela disse abaixando o tom de voz para que ele entendesse do que ela estava falando.

-Sério?- Ele disse parecendo ficar meio bravo. - Bom,- Ele logo se corrigiu.- obrigada.- Ela se afastou e ele começou a resmungar. - Droga Levi porque você não me avisou. -Ele disse enquanto entrada em sua sala.

Logo uma frase que Levi disse veio a minha cabeça imediatamente. Eu já havia esquecido devido aos acontecimentos dos últimos dias, mas isso fez eu lembrar. Será que era esse homem? Levi você só pode estar de brincadeira comigo.

Viva por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora