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-Mas que merda você fez? -alguem me pergunta enquanto água escorre pela minha testa.

-Eu não fiz nada -digo mesmo sem saber quem é.

-Sei -ele se levanta e sai do quarto.

Eu me levanto rapidamente, sei que essa cama não é minha, e nem esse quarto. Faço meu corpo acordar rapidamente, e me levanto. Será que eu fui preso? Começo a balançar minha cabeça, mal é possível! Vou Ferrar com meu pai, eu vou.

-Ei ei -um homem entra no quarto com um copo na mão.

-Saia de perto de mim! -grito enquanto tento me esquivar dele e correr em direção a porta.

Ele envolve o outro braço na minha cintura me forçando a ficar no mesmo lugar, começo a me debater e a socar o braço para me soltar, mas parece que nada adianta. Olho para o braço que me segura e o vejo, um braço forte e branco me prende, mas o mesmo está coberto de cicatrizes e machucados.

-Ei, calma, calma -que audácia.

-Como assim você me pede calma? -berro

-Eu estou tentando te ajudar -ele diz.

Eu paro de me debater, e o encaro. Seu cabelo grande e castanho recai sobre o seu rosto branco e também com marcas de sangue. Mas algo é familiar... Seus olhos.

-Você é o homem do centro! Você é o ladrão! Meu pai te pagou para me matar!

Confesso que a distância entre nossos rostos está muito desconfortante, nunca estive tão perto assim de outra pessoa, nem outra garota, imagina um garoto. Ele recai o olho para minha boca, pensa, e me solta.

-Sim, sou tudo isso que você disse. Só não sou assassino, não concordo em tirar a vida de outras pessoas por dinheiro.

Dou uma risada sarcástica.

-Ham, sei. Você é um ladrão.

Seu olhar se distorce de um olhar de dúvida para um olhar de ódio, mas eu não falei nenhuma mentira. Ele estende o copo com tanta força em meu peito que instintivamente eu seguro para não cair.

Ele vira as costas e anda em direção a outra porta.

-Ei o que é isso? Aonde eu estou? -pergunto quase que desesperadamente.

-Você está no covil do ladrão -ele cospe das palavras enquanto bate a porta, fazendo poeira cair do teto em minha cabeça.

Fico parado por tempos e tempos em pé, no mesmo lugar, pensando no que aconteceu e no que poderia acontecer, ser assassinado era de fato, o menor dos meus problemas. Seguro o medo dentro de mim e começo a andar pela pequena casinha, é uma casa muito pequena e simples, com um quarto, sala, cozinha, banheiro e uma dispensa. Minha barriga dói, estou com muita fome, mas tento ignorar.

Depois de andar pela casa, consigo perceber que ela não é nem um pouco cuidada, há muita sujeira e bagunça por toda parte. Volto para o quarto e deito na cama, quem é esse garoto? Esse homem? Porque ele me trouxe aqui? Será que ele acredita que eu ainda tenho as minhas moedas e quis me roubar? Acho que sim, seria a única explicação para isso.

Começo a pensar quando tudo era diferente, quando meu pai tinha dinheiro insuficiente para o deixar ocupado o dia todo, sem lembrar de que eu existia. Eu podia brincar, ler e pensar o dia todo, a hora que eu quisesse. Eu brincava com os animais, e com as plantas, gostava de brincar de comerciante -dou uma risada- deve ser dessas brincadeiras que eu consegui desenvolver essas estratégias de negociações.

Sou vencido pelo cansaço, e procuro comida pela casa, qualquer coisa que matasse minha fome, um grão de milho, um pão seco, uma conserva de qualquer coisa. A noite começa a cair, e eu sentado na cama. O se eu faria?

-Cheguei! -alguem diz batendo a porta.

Meu corpo fica instantaneamente rígido, e olho para a porta do quarto empoeirado. Percebi que os passos que antes eram apressados, agora estão lentos e precisos, até o ranger da porta se mostrar.

-Alguém aí? -ele pergunta olhando em minha direção, não consigo responder.

Ele entra no quarto com um saco surrado de tecido preto nas costas, ele chega com um sorriso bobo no rosto mas logo a sua expressão fica seria novamente. Acho que ele se lembra do que eu disse para ele no início.

-Toma -ele em uma velocidade enorme tira um pano de dentro do saco e joga para mim.

Eu seguro rapidamente, analiso que o tecido é extremamente bom com a ponta dos dedos pois não arriscaria em tirar os olhos dele.

-Hoje a noite vai ser bem fria, então é bom que você durma bem conserto -ele se aproxima e senta na cama ao meu lado.

Próximo demais.

Logo ele tenta por a mão na minha testa mas eu desvio, ele dá um sorriso.

-Não gente ser rápido comigo -ele diz diminuindo o espaço entre nossos rostos- pois você iria perder muito rápido.

-Me deixe em paz! -digo já sem voz, mas não, eu não poderia me entregar assim tão rapidamente a morte.

-Eu vou te deixar em paz, mas antes preciso saber se você vai estar vivo quando eu voltar.

-Para que? Para me matar? -digo.

Ele rapidamente me pega pela camisa e me empurra contra a parede, dando um soco na parede fazendo um enorme buraco.

-Se for me matar me mate logo, vai ser melhor -lagrimas escorrem do meu rosto, era meu fim- só diga a minha mãe que eu lamento.

Ele ofegante começa a falar bem baixinho, segurando o meu pescoço de maneira que quase me deixava sem puder respirar.

-Eu não sou assassino! Eu posso até ser ladrão, mas nunca mataria alguém, nem por todo dinheiro nesse mundo.

-E- Então porque você me trouxe até aqui? Você não sabe quem eu sou!

-Não, você acha que eu não sei.

Ele me solta. Um silêncio percorre entre nós dois, ele ofegante, e eu com o coração batendo.

-Olha, eu fui expulso de casa! Está certo! -começo a desmoronar- Eu não tenho mais casa, eu não tenho mais família! E fui roubado pelo meu próprio pai!

Coloco toda a dor que estou sentindo para fora, não quero mais segurar aquilo, choro por horas e horas, e ele alí, parado, sem dizer uma palavra, analisando cada movimento que o meu corpo fazia. Quando termino de chorar, ele sai do quarto, me levanto da cama rapidamente e olho através de uma pequena brecha da porta. Ele para no meio da sala iluminada por apenas uma vela, e passa as mãos pelo cabelo olhando para o chão pensativo. Depois de um tempo, ele olha em direção a porta, e vem até a mim.

Por mais que...Where stories live. Discover now