one - god damn

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Essa fanfic possui trechos com referências que podem provocar gatilhos (sendo elas: violência física e familiar), então se você se sente desconfortável com qualquer um desses temas, peço que não leia! Obrigada pela compreensão.

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Em toda Hanam, não existe uma única pessoa que saiba dizer como é a aparência de Chae Hyungwon, embora ele conheça cada rosto que espia por cima das grades que cercam os jardins de sua residência.

Sabe que a senhora Choi é quem lhe traz as cestas de café da manhã com frutas e quitutes que costumam durar uma semana inteira e que o senhor Park é quem cuida do jardim a cada quinze dias; sabe que os rapazes que entregam seu almoço e jantar se chamam Hoseok e Minhyuk e que ambos revezam seus horários porque o restaurante de sua família tem apenas uma moto para delivery; sabe que as senhoras Seo e Jung são setentonas fofoqueiras que falam sobre todos os habitantes da pequena cidade e que o jovem que passeia todos os dias com um labrador branco se chama Hyunwoo - o cão sendo apenas uma desculpa para que ele possa se encontrar às escondidas com aquele outro rapaz, Kihyun, no arvoredo central do parque, sempre na parte mais morna do dia.

Hyungwon assiste a todos eles das janelas extensas do segundo andar, grandes vidraças em fita que não permitem ao observador externo vislumbrar o que há por detrás delas: para os transeuntes, são apenas espelhos que repetem a imagem das folhagens verdes do entorno e atraem pássaros que se chocam contra seus próprios reflexos, mas para Hyungwon, são o portal para os lugares em que ele nunca pode estar.

Recluso durante tantos anos, Hyungwon aprende sobre os moradores com a mãe, sempre ouvindo dela as histórias mais interessantes. É assim que ele passa a criar relatos fictícios, encantado com a vida que se repete do lado de fora.

A vontade de sair e se aventurar sempre é muito forte, mas não tão grande quanto o medo de se ver envolto a tantos perigos. Sua mãe é bastante clara sobre a sua permanência dentro do lar: é necessário e, por isso, as portas externas carregam consigo uma proibição quanto a serem atravessadas.

- Se for até lá fora, trará problemas, meu filho. Daqui de dentro você pode conseguir tudo de que precisa.

Há momentos em que ele quer fugir, obviamente sendo pego durante o planejamento, tendo suas asas podadas mais uma vez. Nessas ocasiões é lembrado do que aconteceu quando ele era uma criança de apenas dez anos: a briga das crianças maiores na escola e o corte feito com um espelho quebrado em seu braço direito, fruto de uma confusão que o ferira no meio do pátio escolar.

- Lá fora as pessoas são ruins, meu filho. Aqui dentro ninguém pode feri-lo.

A lembrança da dor e do sangue sempre acaba fazendo que com Hyungwon concorde com a vida em cativeiro, mas existe aquela fagulha que dá ao seu coração a esperança de que, um dia, o mundo se tornará bom o suficiente para que ele possa explorar cada partezinha dele.

E também há aquele rapaz que se senta num dos bancos da praça frontal, sempre com um caderno e um lápis em mãos, traçando desenhos que Hyungwon só consegue enxergar com um binóculos: o talentoso Lee Jooheon, que costumava ser seu melhor amigo e que, pelo visto, nunca havia deixado de ser.

Muitas são as vezes em que pensa em caminhar até ele para uma conversa, mas sua mãe nunca o permite fazê-lo.

- É perigoso.

E, por tamanha insistência, Hyungwon acaba acreditando firmemente nessa ideia, aceitando seu destino como o garoto que sequer pode ser visto pelos outros.

Até o dia em que sua mãe parte, novas figuras começam a aparecer e sua curiosidade cresce sem que ele se dê conta.

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Two Sides Of You | HyungKyunWhere stories live. Discover now