Apogeu

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 Augusto ficou caído ao chão, desacordado, mas ele não custaria a se levantar. Tirei Júlia de perto dos estilhaços de vidro no chão.

A faca... Lembrei da faca que escondi em baixo do travesseiro, peguei-a e coloquei de volta no bolso do short.

A gente tinha que fugir dali o mais depressa possível. Era um misto de medo e agonia, o olhar de Júlia naquele momento era de total desespero.

Corremos para fora do quarto. Na descida da escada, Júlia perguntou o motivo de ter pego a faca e de ter uma faca embaixo do travesseiro.
—Era pra eu ter usado ela bem antes. Vacilei feito uma burra.

Fomos de encontro a porta da sala. Puxei com todas as forças, Júlia começou a chorar ao ver que a maçaneta estava trancada.

Desistimos, não havia como sair dali. Abracei Júlia com toda minha força, como se pedisse desculpas por ter lhe envolvido naquela situação. Por cima dos ombros dela, vi Cecília chorando com o molho de chaves nas mãos.

Larguei Júlia rapidamente e corri para ela. Tentei puxar as chaves de sua mão, mas ela não soltava.

Augusto descia as escadas e aquilo só agravava meu desespero.
—Solta logo essas chaves! Eu não quero morrer!

Augusto sacou uma arma e Júlia gritou para que eu parasse de relutar. Olhei Cecília nos olhos mais uma vez. Suas bochechas estavam banhadas com lágrimas de crocodilo.
—Eu quero que você e seus filhos queimem no inferno!

Fui para perto de Júlia, arrasada. Augusto pediu para Cecília abrir a porta.
—Qualquer gracinha, meninas, e eu acerto um tiro no meio das suas cabeças...

Ele nos levou até seu carro, ainda com a pistola apontada pra nós. Cecília foi no banco do motorista. Augusto ao seu lado com o revólver erguido. Júlia e eu ficamos no banco de trás. De mãos dadas, o medo transparecia nas mãos dela.

Júlia começou a rezar para que Deus perdoasse seus pecados. Virei o rosto pela janela. As vitrines fechadas, os bares desertos, ninguém passando pelas ruas. Todos estavam em suas casas assistindo a votação que derrubaria o mandato do presidente do Brasil.

Entramos numa rua que eu já conhecia muito bem. Júlia e eu nos surpreendemos quando Cecília estaciona em frente ao casarão. Minha antiga casa.

—Não entendo por quê estão surpresas. Eu sempre vim aqui...

Saímos do carro e não tinha mais como fugir dali, nem a quem pedir socorro. O tiro na gente seria certeiro e ninguém ouviria.

Augusto entregou uma das chaves a Cecília, que abriu o portão de entrada.
—Daqui eu me viro com essas duas. Pode ir...

Cecília voltou para o carro e foi embora. Eu e Júlia fomos na frente, andando numa prancha de pirata com uma pistola mirando em nossas costas.

Como sempre, a porta do casarão estava encostada e ficamos no centro da sala. Augusto começou a rir de tudo o que estava acontecendo, esbanjando sua psicopatia.

—Vocês duas são impressionantes. Eu deixo essa mansão uma verdadeira ruína, caindo aos pedaços de tão suja e com todo tipo de bicho e inseto, ripas de madeira e vidraças espalhadas pelo chão e mesmo assim... Mesmo assim vocês entram... Confesso que nem isso eu esperava de vocês.

—Então você sempre sabia da existência da casa da Mira? - Júlia tentava compreender tudo o que estava acontecendo.

—Mas é óbvio, menina... Por que ninguém comprou esse imóvel durante todos esses anos?

Augusto começou a girar em torno da sala, como se estivesse assistindo a uma partida de jogo, estudando seu adversário.

—Eu não consigo entender... Por quê manteve essa casa assim, os objetos ficaram intactos e ainda estão funcionando. Minhas roupas todas ai.

Lágrimas Silenciosas (Abuso Sexual - CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora