Capítulo 2: Meu nascimento

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  Ok, vamos do início. Preciso começar no início sim. Porque minha criação explica muitos comportamentos de auto boicote.
  Eu nasci em "berço cristão". Ao lado de minha cama sempre teve uma Bíblia Sagrada. Meu primeiro presente de vida foi uma Bíblia. Com poucos dias de vida fui apresentada em frente a igreja cheia por um presbítero. Segundo minha mãe, fui planejada, já que ela e meu pai sentiam um vazio na casa e entenderam que era o momento de preencher este vazio com uma criança. Não sei até que até ponto isso pode ser romantizado e visto como natural aderente a todo casal. Sério, realmente não sei.
Nos dias atuais, depois de muita terapia, conclui que "vazios" em relacionamentos podem ter vários significados. E em nenhum deles este vazio pode ser preenchido com uma vida inocente. A "vida inocente" já vem ao mundo encarregada de uma responsabilidade: preencher vazios. Por óbvio, isso não é concluído, já que filho não deve nunca completar mas complementar. Sabe a teoria do "você deve ser auto-suficiente para que o outro complemente"? O mesmo vale para filho.
Voltando ao assunto, já vim ao mundo encarregada de preencher um vazio existente na vida conjugal dos meus pais. Não sei se cumpri essa meta, acho que não. Mas acho válido fornecer um breve resumo do casamento dos meus pais aqui.
  Meu pai foi o primeiro namorado da minha mãe. Foi com ele com quem ela deu o primeiro beijo na boca e fez o primeiro sexo. Foi com ele com quem ela casou. Ele foi o primeiro em tudo na vida dela. Em contrapartida meu pai teve muitas namoradas antes da minha mãe. Tudo isso, justificado pela religião: minha mãe se guardou para o casamento porque foi isso que ela aprendeu na igreja. Há toda uma teoria moralista e conservadora que super valoriza o hímem feminino, como algo ultra importante que define o caráter e o valor de uma mulher. Minha mãe acredita nisso até hoje. Meu pai também.
Segundo minha mãe, meu pai (que fez faculdade durante o namoro dos dois), a traia com várias moças na instituição. Meu pai confirma que teve "namoradinhas" mas nada sério, só diversão. Aliás, meu pai não fala muito desse passado, só minha mãe que fala com muita mágoa no coração. Mamãe fez vista grossa pra tudo durante todos os anos de namoro e noivado, pois acreditava que depois de casados meu pai iria sossegar só com ela e ambos viveriam um relacionamento monogamico cristão perfeito. Ledo engano. Eles casaram e meu pai não sossegou. Meu pai, agora um homem com um pouco mais de condições financeiras favoráveis para bancar seus luxos, teve amantes. Várias amantes. Enquanto que minha mãe, que fez tudo que a igreja disse pra ela fazer, se mantinha em casa a espera do marido e pensando em maneiras de ser uma boa esposa. Minha mãe fazia de tudo pra conquistar meu pai e tentar provar que ela sozinha valia mais a pena do que todas as amantes que meu pai tinha. E foi aí, que eles sentiram que havia um "vazio" na casa que deveria ser preenchido com um filho. E que era a hora de se ter uma criança.
  Na visão deles, não há problema algum nisso tudo. Pra eles, simplesmente é natural um casal ter vontade de ter filhos independente de onde venha essa vontade. Mas pra mim, nos dias atuais, vejo que seria melhor eu não nascer. E que muito menos esses dois adultos estavam preparados pra serem pais.
Mas eu nasci. Em lar cristão. Com uma Bíblia do lado. Sendo do gênero biológico feminino. Filha de uma mãe e de um pai que acreditam que hímem define valor de uma mulher.

Minhas peripécias particularesOù les histoires vivent. Découvrez maintenant