Íris

18 2 0
                                    

Colorindo céus de lilás e nuvens da cor salmão. Olhos brilhando como mil estrelas refletidas do jeito angelical mais encantador que poderia existir, pétalas de flores caídas no chão e borboletas azuis com detalhes brancos voando ao meu redor. A grama faz cócegas nos meus pés descalços e parece que os anéis de Saturno contornam minha cabeça como uma auréola cor de pêssego. A liberdade parece ser traduzida como o vento batendo nas poucas partes descobertas do meu corpo e meus lábios continuam esticados em um sorriso fechado que somente representa mais uma insegurança tola que tento esconder enquanto esfrego minhas mãos repetidas vezes.

Ainda me sinto presa como um peixinho em algum aquário de vidro de qualquer casa caótica; castelos de cartas montados na mesa de centro, música alta e choros de criança parecem representar muito bem a confusão acelerada de pensamentos azuis correndo pela minha cabeça. Adesivos de caderno estão colados por toda parte e trechos de música e livros parecem jogar uma partida amigável de xadrez com as falas decoradas de filmes. Tudo ocupa tanto espaço! Onde acharia lugar para meus conhecimentos inúteis guardados em pequenas caixinhas coloridas de jeito infantil? Não, não e não, a bagunça de sentimentos ruins definitivamente não deveria estar de volta tão cedo, nem ao menos tive tempo de sorrir um pouco com os sonhos bonitos da madrugada antes dos pesadelos assombrosos chegarem, eles assustam meu sono então não podem ficar aqui.

A respiração acelera e percebo que mais uma vez tudo está voltando. Ora essa, quando poderei aproveitar um pouco da bela felicidade que contam sobre a existência? Roupas peculiares não ajudarão a ignorar os pensamentos dessa vez, muito menos escritas compulsivas e somente me resta chorar ficando prestes a desidratar até o vermelho dos meus braços se transformem somente em mais motivos para me esconder. Encaro o teto e olho na direção da janela para tentar me lembrar de qual momento me levantei para fechá-la, até mesmo os cobertores me dão agonia e desejo sair correndo da erupção de cores escuras expelida por mim própria, busco até mesmo fantasias de criaturas mágicas e tentativas estúpidas de contar estrelas, quero voar daqui como um pássaro bonito embora tal adjetivo não possa ser dito olhando em meus olhos porque essas mentiras são minhas próprias torturas ilusórias embora tenha uma vontade esquisita de acreditar nelas.

E de repente, as lágrimas que desciam dolorosas e coloridas de azul escuro se tornaram culpadas. Os pensamentos parecem dançar pela minha mente enquanto meu coração bate forte e eu o ouço, o som agoniante da vida me tortura em sua altura e ritmo incessante. A água do aquário está manchada de vermelho e entra imaginária para meus pulmões apressados. Culpa, culpa, culpa. Onde eu posso me esconder se aquela que me observa ao longe é um estúpido espelho mostrando todos os defeitos até mesmo além das minhas características físicas?

Sinto como se os monstros do meu armário tenham aberto portas para o meu corpo, agora esmagam meus órgãos e me sufocam com felicidade enquanto tento não assustar as pessoas com quem eu sou desejando por ao menos um dia de calmaria sem morte por asfixia. Adesivos brilhantes não são úteis para conter o medo de mim mesma.

Os anéis de saturno caem da minha cabeça e os céus se tornam azuis outra vez.

LilásOnde histórias criam vida. Descubra agora