par de margaridas.

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01 de outubro de 2019.

Era manhã de segunda-feira. Jungkook acordou por volta das sete e meia num sobressalto, o coração acelerado como se estivesse a um triz de infartar. A merda do seu despertador deu pane, não avisando-o a hora no momento correto — era para o aparelho ter tocado por volta das seis e meia, uma hora antes. Ou, talvez, o de madeixas azuis estivesse tão inerte em seu sono profundo que o som "estrondoso" do aparelho digital se tornou fútil no momento em que a surdez provocada pelos seus sonhos se fez presente, como se o homem de vinte e quatro anos estivesse em estado vegetativo.

Sua avó, Sra. Chan, com certeza o mataria por estar tão atrasado em seu primeiro dia de trabalho na floricultura após um mês de férias. A senhora de idade, mesmo que já estivesse um tanto "velha" (apenas 65 anos de muita história para contar), não tolerava atrasos, principalmente quando o assunto era cuidar de suas flores para permitir a clientela ficar contente com todo o amor que era depositado nos arranjos, buquês e no crescimento das plantas; todas as medidas eram bem cuidadas, sem exceções. Jungkook era o có-ajudante de sua avó, exercendo grande parte das funções, mas mesmo assim, continuava sendo o mero có-ajudante que a sua avó tinha tanto orgulho, mas que se aborrecia de vez em quando com algumas ações indesejadas do neto.

Mesmo sendo um homem com tamanho empenho, o Jeon deveria admitir para si mesmo: era um tanto desajeitado em certas ocasiões. Por mais que já estivesse a bons anos trabalhando na floricultura juntamente com a avó, Jungkook teve que passar diversos dias aprendendo como cultivar corretamente cada flor, como cuidá-las após o crescimento e também como arrumá-las em arranjos perfeitos e bem decorados, e em como criar buquês. Parecia ser uma tarefa fácil, mas para o Jeon, era como se ele tivesse que despender todo o seu esforço ali. Ele não se arrependia, pelo contrário — achava gostosa a sensação de estar sendo útil em ajudar a sua tão amada avó, além de também ganhar o salário desejado para pagar a sua faculdade.

De início, Jungkook tinha aceitado trabalhar para a sua avó com o intuito de pagar a própria faculdade de nutrição. Isso ocorreu há mais ou menos três anos, quando o azulado estava frustrado por ter perdido o atual emprego e não encontrava outra escolha no momento. Porém, como um anjo bíblico — palavras de sua avó, toda vez que ele se recorda da história —, Sra. Chan propôs ao neto que o mesmo trabalhasse para si até que encontrasse um novo emprego. Jungkook não teve tempo nem de pensar em outra alternativa a não ser aceitar de imediato a primeira opção que lhe veio à tona, sentindo-se aliviado por ter uma avó tão amável em sua vida.

O que era para ser um emprego temporário, se tornou simplesmente uma das paixões e hobbies de Jungkook. O azulado amava cuidar das pequenas mudinhas que cresciam com tanto prestígio na imensa horta de Sra. Chan, flores e alimentos tão bonitos residiam ali, os olhos de Jungkook brilhavam com a cena enquanto o peito da mais velha se enchia de orgulho ao ver que o seu doce netinho se apaixonou tanto quanto a mesma pelo trabalho que ela exercia há mais de trinta anos e sentia-se tão realizada com todo o esforço que colocava em suas colheitas e vendas.

A floricultura Jeon era a mais bem prestigiada das redondezas de Seul. Localizada em um bairro não tão popular mas mesmo assim movimentado, diversas pessoas paravam o seu caminho para comprar uma simples rosa ou até um buquê para seu (sua) parceiro (a). Era realmente lindo de se ver, as cores da humilde construção chamavam a atenção de todos ao redor, sem contar no aroma gostoso que emanava as flores localizadas na vitrine. Era um show de amor, tudo tão lindo que quase se tornava invejável — ou talvez já era.

O funcionamento da floricultura se iniciava às oito da manhã em ponto. Conquanto, a ansiedade de Sra. Chan falava mais alto, exigindo que Jungkook estivesse no mínimo trinta minutos ou quase uma hora adiantado para ajudá-la a deixar tudo em seu devido e correto lugar, para assim iniciar mais um longo dia de vendas que só chegava ao fim às cinco da tarde. Por esse motivo, Jungkook encontrava-se neste momento tropeçando em seus próprios pés, sujando o seu all-star branco com tanta poeira e bagunçando as madeixas azuladas que não paravam quietas no lugar por causa da intensa ventania. O Jeon teve que se aprontar na velocidade da luz, tomar banho, colocar qualquer roupa que viu pela frente, tomar café no meio do caminho para a loja e sair correndo pelas ruas de Seul até a floricultura, o que durava mais ou menos quinze minutos de trajeto à pé, mas Jungkook costumava ir em sua bicicleta — o que não ocorreu naquele dia, já que sua mente estava tão avoada e desesperada que o mesmo se esqueceu totalmente da alternativa do meio de transporte que lhe ajudava todos os dias a pelo menos não se atrasar mais do que já estava agora.

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