Único

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Em meio ao silêncio noturno, as orelhas escuras da pantera estavam ainda mais atentas. Como exímio caçador, o animal sabia que o mínimo ruído poderia ser o único sinal de uma potencial presa, a primeira em muitos dias.

Mas não foi sua excelente audição que despertou todos os músculos de seu corpo. O nariz captou o aroma forte de sangue se aproximando, e rápido. A panteira logo se levantou, seguindo silenciosamente sua pista.

Apesar de racionar bem seu alimento, a floresta tropical perdia seu longínquo valor. O pouco espaço que a pantera tinha para viver se reduzia ainda mais se tratando de caça. O animal não pôde deixar de se sentir ansioso por dentro, ainda mais quando identificou o cheiro de sangue humano.

A criatura parou de andar assim que chegou ao pé da estrada. Ela observou cuidadosamente a cena que corria diante de seus olhos.

Um garoto alto e ruivo estava encharcado com seu próprio sangue enquanto lutava com outra criatura muito mais forte: um vampiro. A besta pálida e asquerosa parecia se divertir com todo o espetáculo inútil do humano e claramente estava deixando que ele pensasse ter alguma chance de sair com vida.

A pantera que tinha aversão a tal criatura das trevas ficou curiosa com aquele humano corajoso. Era sim óbvio que ele não possuía chance alguma de vencer, ainda mais com tantos ferimentos. Porém era admirável que ainda estivesse de pé.

O vampiro saltou e deixou o corpo cair por cima do ruivo, usando sua força para agarrar e apertar o pescoço dele. O garoto se debateu e segurou no pulso do adversário, porém ele era fraco e estava prestes a perder a consciência.

Alguns minutos depois o vampiro soltou o menino e continuou sentado em seu colo. Ele observava com atenção seu alimento, e a pantera sentiu repulsa daquele olhar.

Calmo, mas certeiro, o animal negro pulou encima das costas do vampiro, arrancando sem dó alguma sua cabeça.

Agora a pantera negra tinha o que devorar.

🌫🌫🌫

Assim que a consciência de Taiga começou a se recuperar, seu corpo todo deixou para trás a sensação morna do sono e começou a doer quase insuportavelmente. O adolescente não conseguia recordar de ter sentido algo parecido antes de tão surreal. Todos os seus músculos ardiam e lentamente conseguiu lembrar-se da razão.

— A princesa finalmente acordou?

Kagami ouviu uma voz chamá-lo e seu corpo foi despertado de vez, interrompendo seu raciocínio que já era lento e liberando certa quantidade de adrenalina. Ele se sentou com rapidez, chegando a bater a cabeça em alguma pedra.

A voz riu do acontecimento e ainda tirou sarro: — Pode ficar tranquilo, pelo menos eu não mordo.

O jovem assustado olhou ao redor, procurando o dono da voz masculina, mas não conseguiu enxergar pessoa alguma. Foi nessa hora então que o ruivo percebeu que estava em uma espécie de caverna, pois conseguia se sentir pressionado pelas paredes ao redor. Sua cabeça latejou com força.

— O que aconteceu? — pronunciou confuso, trêmulo e incomodado com a dor lancinante.

— Você estava sendo atacado. Quando desmaiou, eu matei o desgraçado e te trouxe para a minha casa.

Disto ele se lembrava. Havia sido abordado por um vampiro enquanto realizava sua corrida matinal perto da estrada. Parecia mentira, mas ele não poderia de forma alguma duvidar: a força com a qual foi jogado, a agilidade com a qual foi atacado e a velocidade que viu não o deixavam entrar em estado de negação.

— Agora você precisa tomar um pouco do sangue do falecido. — e estendeu um copo velho para Kagami.

A adrenalina no corpo do jovem Taiga não conseguia mais o distrair de todo o incômodo que estava sentindo. Fechou os olhos, deitando novamente e ignorando completamente o copo que tinha surgido do nada sua frente.

In The WildWhere stories live. Discover now