Capítulo 1

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— Hum... Harry... Harry... — A voz do outro lado da porta gemia com uma voz deleitada. Eu senti vontade de arrancar todos os cabelos da minha cabeça. Eu definitivamente ia matar Jules por me fazer passar por aquilo. — Ah... Harry...

Bati outra vez meu punho contra a porta e os gemidos pararam. Arrumei minha postura, enchi meus pulmões tentando superar o rubor das minhas bochechas.

A movimentação no quarto aconteceu por alguns segundos e então a porta se abriu. Cindy Tredici, a prima super bonita da minha melhor amiga, saiu ajeitando o seu vestido rosa apertado passando o polegar contra o canto da boca limpando o batom borrado.

— Ryder é um sobrenome escocês? — Ela massageou a garganta e me deu um sorriso doce.

— Não faço ideia — Balbuciei e ela franziu o cenho pensativa. Não queria pensar no que Cindy tinha feito para Harry, para ele retribuir o favor com tanto empenho que eu podia ouvir os gemidos da prima da minha melhor amiga desde o corredor. E que tipo de pergunta era aquela? Cindy podia fazer uma árvore genealógica pelo tamanho do pau?

— Deve ser escocês. — Ela sorriu me olhando com uma expressão de "dãh, bobinha" saindo e jogando seu cabelo loiro meio despenteado pelo ombro, desfilando pelo corredor da mansão de seus pais fazendo os Alexander McQueen baterem seus saltos pelo piso de granito.

— Você não tem mais o que fazer? — A voz de Harry me fez desviar do desfile da loira. Ele apareceu ajeitando o zíper de sua calça preta. Cristo. — Eu estava ocupado... A não ser que... — seu rosto se transformou para sacana quando começou a dizer, encostando-se no batente da porta com uma postura relaxada.

Dei um passo para trás com uma cara cuidadosamente enojada. Harry era um perfeito cafajeste e talvez fosse biologicamente impossível para ele não ser. Os olhos azuis e o cabelo escuro o transformavam num deus grego de olhares sacanas. Devia haver algum tipo de contrato implícito, alguém que era tão bonito seria fisiologicamente incapaz de ser um bom partido. Mesmo na camisa preta simples e com os cabelos levemente bagunçados, ele parecia um modelo. Mas eu nunca, nem em um milhão de anos, nem se ele fosse o último homem do planeta, eu cairia em sua lábia.

— A Jules está te chamando, ela quer fazer um brinde e insistiu que você estivesse lá. — Cruzei meus braços. Claro que eu tinha levado dois pelo preço de um. Quem poderia imaginar que eu também encontraria a furtiva Cindy Tredici, que ninguém tinha notado o desaparecimento? Todo azar do mundo era pouco para mim.

— Vai ser muito estranho eu aparecer lá com uma ereção, Amy... — Ele quase cantarolou risonho e eu gemi me afastando. — Volte aqui, é brincadeira!

Harry Ryder era o melhor amigo de David que era a alma gêmea de Jules. Uma conta que certamente não deveria me envolver, mas lá estava eu. O melhor amigo do namorado da minha melhor amiga. Meu maior pesadelo.

Harry era insuportável. Não do tipo fora da lei, mas do tipo piadinhas sexuais e comentários irônicos. Mas ainda assim um martírio pelo qual eu tinha que passar pelo menos uma vez por mês quando Jules decidia algum tipo de noite de pizzas ou David ficava obcecado por um lançamento no cinema que requeria todos os amigos juntos.

Mas aquela seria a última vez que eu veria Harry por muito tempo, eu tinha fé.

David e Jules estavam prestes a viajar por seis meses em um passeio pelo mundo. Eles tinham juntado suas economias, Jules tinha saído de sua vaga de jornalista de esportes no jornal que trabalhávamos, o Nova Iorque MetroNews, e David abandonado o seu cargo de contador numa empresa de tecnologia. Apaixonados demais para poderem ficar em sua rotina, meus melhores amigos estavam prestes a viver o maior sonho de suas vidas.

Os PadrinhosWhere stories live. Discover now