Capítulo 7 (Jorge Henriques)

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 A conversa seguiu-se longa e esperançosa, renovou-me e abriu-me os olhos sobre a minha própria luta para recuperar o meu filho, porque nunca iria conseguir trazê-lo de volta sem trabalho e pagamentos em atraso. Terão as pessoas esquecido da minha loja ou sentido a falta da minha pessoa? O medo da possibilidade de não conseguir recuperar o meu filho é avassalador, como um poço profundo sem fim que se apodera da alma e me sufoca, como se mergulhasse e ficasse sem ar e quando mais ansiava por respirar, mais me afundo na escuridão de um mar infinito. Não nos protege nem facilita, apenas provoca uma ansiedade sem motivos e levamos a desesperar por um carinho sem limite, como se fosses um cãozinho ou um gato abandonado que não consegue pedir ajuda e deixamo-nos ficar sozinhos no nosso canto a pensar e repensar nos erros que fizemos. Entre as lágrimas, desabafei:

- É tão difícil... Sinto-me um inútil que não conseguiu fazer a esposa feliz, um monstro por lhe ter batido e um fracasso porque perdi todo este tempo aqui fechado por não ser homem suficiente para ir buscar o meu filho...

A minha irmã pegou-me na cara com as suas mãos pequeninas e delicadas, olhou-me bem nos olhos e suspirou, com os olhos muito doces como ela tinha quando era menina e um sorriso singelo, ela disse:

- Não és nada disso! Tens um filho que te adora, não tiveste grande sorte com a mulher, mas... Ainda vais a tempo de lutar pela guarda do teu filho, basta voltares ao trabalho e pagares as despesas, e eu te ajudarei a encontrar um bom advogado, está bem?

- Mas serei um pai solteiro e as pessoas vão falar...

- Deixa as pessoas falarem, quando elas pagarem as tuas contas e tratarem dos teus problemas, ai podem dar opinião da nossa vida... Felizmente, nenhuma das regateiras te paga as contas nem trata dos teus problemas, por isso, só têm que se meter na vida delas.

Não podia discordar disso, e ela tinha razão, devia me organizar para poder lutar com todas as armas e recuperar o meu filho. Tenho a noção que ela me dará luta pela guarda do nosso filho, mas parte de mim ainda quer que ela volte e fingir que nada disto aconteceu, mesmo que ela voltasse a tratar-me mal. Talvez pareça idiota, mas preferia ter a Cristina aqui a reclamar de tudo e saber que o Mateus está em casa, do que ter razão e ela ter aprendido que a vida é dura e ir embora com o meu bem mais precioso.

Parte de mim ainda ama aquela mulher, talvez por saber que ela também já foi diferente e já fomos um casal em começo de vida que compartilhávamos tudo e tivemos um filho carinhoso que nos une, ou talvez porque o seu mau feitio já era algo habitual e aprendi a gostar dele, sabendo que por dentro ela também gostava de mim e não o admitia. Talvez se fosse comprar umas flores e uma joia, ela voltasse e trouxesse o nosso pequeno para casa, talvez se me esforçasse mais e mostrasse a casa mais confortável... Talvez se vestisse aquele fato que ela pedia para vestir em vez das simples calças e camisola, talvez conseguindo um trabalho melhor...

- Já estás a pensar em mudar para ela voltar para casa, não é? – perguntou a minha irmã num tom irónico.

Quase como se lesse os meus pensamentos, ela conhece-me demasiado bem e sabe que iria pensar em mudar para recuperá-la, também sabe que tento sempre agradá-la e apesar de tudo o que ela disse e fez, eu ainda gosto dela e ainda é a minha mulher. Mesmo depois de me ter enterrado e ter perdido o rumo, não consigo odiá-la nem fazer algo que a possa magoar, o meu amor por ela ainda é muito forte e não consigo apagar as memórias passadas que fazem parte de mim e desta casa. A minha irmã nunca gostou dela e quase as consideraria inimigas, mas sei que não devia mudar e que a Cristina devia gostar de mim como sou porque não conseguiria bancar os luxos e requisitos que ela tanto quer.

- Sim, ainda gosto muito dela, Bárbara. Ela é minha mulher e a mãe do Mateus, apesar de tudo, tenho que tentar reconquistá-la. – respondi.

- Tens o direito de tentar, mas ela não te merece. Só te vais magoar mais e provavelmente, voltarás a ser maltratado. Luta pelo Mateus, mas deixa a Cristina fora da tua vida por agora...

Quanto mais me bates, mais te odeio (Vol. 1) - Saga Detalhes de Amor-imperfeitoWhere stories live. Discover now