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Abro meus olhos assim que escuto as batidas na porta do meu quarto.

- O que foi??

Grace: Seu pai está esperando você para o café, querida -sua voz fica mais alta quando por fim ela abre a porta

- Cinco minutos?? -forço um sorriso ao tentar manter meus olhos abertos, mas fracasso miseravelmente

Grace: Dois... Para você estar sentada na mesa -sua risada é como melodia para as músicas sem tom

-Que sono!! -minha voz sonolenta ecoa pelo quarto enquanto me espreguiço na cama.

É... Aqui estou eu em mais um dia

Sentei na beira da minha cama e encarei a porta, lembrando exatamente de tudo que já passei nesse lugar, de tudo que apenas observei, das coisas que fui privada de viver por conta de uma mentira que todos acreditam ser real...

Observei meu uniforme que estava pendurado no banheiro. Era hora de vesti-lo, hora de voltar a infância que só existia para mim naquele momento, para o passado que todos esqueceram e apenas eu fiquei presa

E aqui estou eu, com este uniforme ridículo que resume a minha infância inteira...

Enquanto estou ajeitando a minha gravata meus pensamentos voam até meus desejos, voam até a possibilidade de eu ver meus irmãos novamente... ver Cinco novamente.

- Eih eih eih, Esme o que você está pensando, deixa de ser iludida garota... -meu sussurro se sufoca enquanto volto a prestar atenção no nó de minha gravata.

Durante o tempo que termino de lustrar meus sapatos, perco-me em meus pensamentos novamente, alimentando as possibilidades que minha mente me traz com frequência.

Encaro meu reflexo no espelho e me encorajo de seguir em frente... Mais um dia aturando meu pai sozinha

Abro a porta e me deparo com Pogo que me observa de cima a baixo silenciosamente

A confusão me domina quando o silêncio começa a se tornar perturbador e apenas suspiros pairam ao redor

- Está tudo bem pogo?! -encaro o chimpanzé que não fala uma palavra se quer

Ele está criando um imenso silêncio entre nós novamente

Pogo: Estou ótimo número 8, digo senhorita Esme...

- Você tem certeza?? -franzo o cenho

Pogo: Claro, a propósito, seu uniforme está impecável, seu pai irá reconhecer o seu esforço. -um sorriso confortante se forma

Por mais que meu pai nem note que meus sapatos estejam refletindo a luz de tão limpos, Pogo percebe.

O velho sempre exigiu a perfeição devido ao uniforme e mesmo depois de muitos anos aqui estou eu comprido as mesmas malditas regras!!

Desço as escadas rapidamente mas diminuo os passos assim que esbarro com minha mãe que está parada me encarando na porta da cozinha

Grace: Bom dia Esme!! -Ela diz dando um sorriso ao observar meu uniforme

- Bom dia mãe!! -digo a cumprimentando com um abraço, mas soltando-a rapidamente

E lá está ele...

Seus olhos deslizam por meu uniforme e voltam para meus olhos... Como eu imaginava, nenhum sorriso, nenhum elogio.
Nada além de desprezo e repulsa.

Reginald: Você está cinco minutos atrasada!! -seus olhos deslizam para o relógio que está preso em seu casaco

Eu nem fiz questão de responder, apenas me sentei bem na sua frente... Praticamente do outro lado do salão.
Longe o suficiente para não ser morta pela raiva que se faz presente ao redor daquele homem.

Sinto seus olhos me matando lentamente enquanto ele espera por uma justificativa, uma desculpa ou até mesmo uma mentira.

- Foram só cinco minutos!! -reviro os olhos antes de encarar a minha xícara de chá

Reginald: E se fosse o fim do mundo?

- O que isto significa??

Reginald: Que você não teria esses cinco minutos!! -seus olhos desviam do jornal que ele estava lendo e me fitam com desprezo...

- Como assim fim do mundo pai? -sinto minha voz fraquejar

Reginald: Disso que estou falando, você não está preparada para nada, se estivesse entenderia! -a arrogância domina cada letra de suas palavras

Encaro o mesmo que volta a olhar para o jornal que está em suas mãos

- Aff -murmuro ao fixar meus olhos nos ovos e no bacon que estão no meu prato...

Observo meu pai com frequência, e toda vez que me pego olhando ele pelo canto dos olhos, o vejo olhar para o relógio inquieto...

- Pai... -sussurro mais para mim do que para ele ouvir

Reginald: Que foi número oito?

De todas as dores que já senti, esta foi a pior... a dor de saber que o único homem que eu fui capaz de não abandonar nesta vida me via apenas como um número.

Me iludi com a possibilidade dele me ver como filha, como a única que não o abandonou com o passar dos anos, por ter sido a única a ficar.

E por mais que doa, fui eu mesma que criei essa ilusão achando que poderia alcançar o coração de pedra que existe dentro desse homem...

- Deixa pra lá... -levanto da minha cadeira pegando meu prato

Grace: Não vai comer, querida?

- Obrigada mãe, mas estou sem fome -forço um sorriso antes de dar as costas para meu pai

Reginald: Vai se retirar? -a voz firme daquele homem arrepia minha espinha

- Não devo?

Grace: Pode ir Esme, vá descansar.

Sinto a mão de minha mãe em meu ombro, queria poder sentir esse carinho, essa fraternidade que fui privada a maior parte de minha vida, mas não posso

- Tudo bem, mãe -suspiro ao tirar a mão dela de meu ombro- Tudo bem...

E Depois Do Fim?  •The Umbrella Academy•Where stories live. Discover now