Escarlate

*Extra*

Janeiro de 2040.
Rio de Janeiro.

Domingo à tarde, depois do almoço, era sempre a mesma preguiça. Bianca estava sentada no sofá com a esposa deitada em suas pernas, enquanto aproveitava um carinho no cabelo.

B: Tá com soninho, meu amor?

R: Tô demais! E com esse cafuné aí... - disse manhosa, se alojando melhor sobre a mulher.

B: Então dorme um pouquinho aqui comigo? - pediu.

As mulheres se ajeitaram sobre o sofá e agora Bianca tinha a mineira deitada parcialmente sobre seu corpo, as duas enrolas em um edredom para esquentar o frio do ar condicionado que estava na temperatura mínima.

Depois de alguns minutos, foram despertadas pelo toque de alarme da porta da sala, que possui uma senha para ser aberta.

B: Quem é? - abriu devagar os olhos, sentindo o peso da mulher sobre seu peito.

R: É o João Pedro... - acompanhou o menino passar para a escada rapidamente. - Filho? - chamou.

JP: Oi mãe, não queria acordar vocês... - lamentou, num tom um tanto triste.

R: Anda aqui... - chamou, se sentando para falar com ele melhor.

O garoto sempre carinhoso abraçou a mãe e deu um beijo na bochecha de Bianca, que ainda estava deitada, olhando preocupada para ele. O caçula sentou na pontinha do sofá, vestido com o uniforme do futebol.

O menino havia passado o fim de semana com o pai, mas as mulheres estranharam o fato de ele voltar tão cedo e tão inesperadamente assim.

R: O que foi que aconteceu, meu amor?

JP: Teve um jogo hoje do meu time e... - olhou paras as duas, com vergonha de admitir. - E a gente perdeu feio.

B: Ah lindo, mas isso acontece! - a carioca também se sentou e passou as mãos suavemente pelos cabelos dele.

JP: Fala isso pro meu pai... - disse, baixinho.

Rafaella bufou e rangeu os dentes antes de pegar o celular para ligar pro ex marido.

B: O que foi que ele disse, meu bem? - pegou carinhosamente uma de suas mãos.

JP: É que o treinador falou um monte de coisa, dizendo que eu perdi o foco e que muitos erros de passe de bola foram por minha causa. Eu não gosto mais de ir pros treinos, é só isso... - tentou engolir o choro para continuar. - E o meu pai tava daquele jeito de sempre, sabe?

R: Teu pai estava bêbado, João Pedro?

JP: Ele brigou ontem com a Tia Helena e saiu de casa, aí ela me levou pro jogo hoje de manhã. Ele apareceu só no final e ainda arrumou briga com o treinador.

R: Você deveria ter nos ligado, filho. - sorriu, tentando não bufar de ódio. - Ele brigou com você?

JP: Um pouco, mas eu pedi pra ele me deixar aqui, porque não queria ir pra casa dele de novo!

R: Fez muito bem, viu? Vou ligar pro Rodolffo agora! - levantou irritada.

B: Quer ver um filme comigo? A gente precisa continuar a maratona dos filmes da Marvel.

JP: Você espera eu tomar banho?

B: Claro, vai lá! - sorriu. - Você já almoçou, meu amor?

JP: Já mãe, eu já almocei. - o menino disse, se retirando em seguida.

Bianca parecia que havia sido petrificada, não movia um músculo sequer, depois de ter ouvido a criança de 10 anos usar aquelas três letrinhas para lhe definir como... mãe? Ele havia mesmo falado aquilo? Será que ele havia se confundido com Rafaella?