Capítulo 11

1K 153 195
                                    

Café da manhã preparado, os dois sentaram-se a mesa e começaram a comer. Era o segundo dia seguinte que Sherlock não pulava essa refeição, tudo para ter a companhia de Watson. 

-Ontem a noite, eu reencontrei meus amigos depois de dois anos. Eles não mudaram nada. Ainda são os mesmos caras que eu conheci na faculdade, e os mesmos que foram meus amigos mais próximos durante tanto tempo. -contou John.

-Mas...? 

-Mas eu mudei. Eu estava muito desconfortável entre eles. As piadas, os comentários, as histórias... tudo parecia meio banal. Eu juro que tentei, mas ficar naquele lugar estava muito cansativo. Então eu aceitei beber algumas cervejas, mesmo tendo prometido que não iria beber, pois pensei que, se eu estivesse um pouco bêbado, talvez o álcool me ajudasse a sentir alguma coisa. - admitiu, com os olhos cheios de lágrimas.

Essas lágrimas deixaram Sherlock em pânico. Sem saber o que dizer, apenas segurou a mão do outro, tentando mostrar algum apoio. Pareceu ter funcionado, pois John suspirou fundo e continuou falando:

-Eu não sei mais o que fazer, de verdade. Quando eu voltei do Afeganistão, tudo o que eu queria era ter minha vida normal de volta. Mas a guerra me mudou demais, e acho que nunca vou conseguir viver normalmente. 

-Você não precisa viver normalmente. Normal é muito chato. Mas isso não significa que você não vai ser feliz. Você é uma nova pessoa, e alguém muito inteligente uma vez me disse que ser diferente das pessoas não é ruim, na verdade é ótimo. 

John riu, ao reconhecer que Sherlock havia citado sua própria fala de apenas alguns minutos atrás, e apertou a mão do moreno. 

-Para alguém que diz que não sabe ser amigável, você é muito bom. 

-Só está dando certo porque agora você é um esquisito como eu. Bem vindo ao grupo dos excluídos da sociedade. 

Os dois riram com o comentário. Quando finalmente se acalmaram, Watson voltou a ter um olhar melancólico.

-Outra coisa que eu queria falar... outro motivo para eu ter me sentido mal... - começou.

-Ei, você já me contou o suficiente. Está tudo bem. -interrompeu.

-Não, eu quero falar. Eu gosto de falar com você. 

Sherlock sorriu, com o rosto levemente corado e o deixou continuar. 

-Você uma vez me perguntou sobre irmãos. Eu tenho uma irmã mais nova, o nome dela é Harry. Nós nunca fomos tão próximos, mas obviamente nos amamos. Só que a medida que ficamos mais velhos, nos afastamos ainda mais, porque Harry é alcóolatra. O vício dela começou na adolescência, e agora percebo que não fui um bom irmão para ela. Eu não a apoiei da maneira que ela merecia.  

-Tenho certeza que você fez o que pode...

-Não, eu podia ter feito muito mais. Quando a Harry começou a mostrar os primeiros sinais, eu apenas ignorei. Estava focado apenas em mim, na minha independência e na faculdade. Eu estava tão desesperado por sair de casa, que quando finalmente consegui, não olhei para trás. Só que eu não só deixei todos os problemas para trás, eu deixei minha irmã também. E depois, quando a situação dela já estava grave demais, não tinha mais o que eu fazer. 

-E beber no bar te fez lembrar disso tudo. Te fez sentir culpado de novo. - disse Sherlock, com empatia. 

-Exato. Eu também me preocupo de seguir o mesmo caminho. -disse John, bebendo seu chá.

-Uma noite de bebidas em um pub não vai te tornar um alcóolatra. 

-A primeira vez da Harry também foi apenas uma noite no pub com os amigos. 

O Hóspede Where stories live. Discover now