Lembranças

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Duas semanas já se passaram desde que cheguei. Me sinto bem aqui mas saudade piora.

Os meninos são muito gentis comigo. Até mesmo Ramon com suas graças é gentil e preocupado.

Morgana sempre está ao meu lado. Sempre me escuta e me faz rir.

Ethan está mais próximo. Adoro ouvir sobre sua família, seus gostos.

E tem a Eliza... Por mais que eu tente, não consigo me aproximar. Ela não se aproxima dos outros quando estou perto. Apenas fala vagamente. Quando estou longe ela é alegre e risonha.

Realmente não sei o que fazer.

—Olhos Castanhos! Você me ouviu?

— Hã?

Fui tirada do transe com o grito de Ramon.

— Falei pra você dar uma volta pela academia enquanto estou na aula.

— Ah sim. Tudo bem.

Ramon seguiu pra sala com os outros.

Fiquei olhando eles entrarem. Eliza não estava tão sorridente. Estava triste. Quando seu olhar encontrou com o meu pude ver a tristeza a solidão em sua alma. Virei o rosto. Não aguentei ver aquela dor.

Andei sem rumo pelos corredores. Andei, andei até chegar num bloco desconhecido. Estava deserto.

Subi escadas, desci escadas e acabei me perdendo.

Quando tentei voltar parei num corredor sem saída. Pelas teias de aranha nos cantos e o cheiro de mofo, aquele bloco estava abandonado.

No final do corredor tinha uma porta dupla, quase imperceptível sob a camada grossa de poeira. Duas pequenas janela nas portas permitiam que se visse um pouco do interior da sala.

Não dava pra ver muita coisa. Mas pelo  que pude ver, a sala não era grande.  No canto esquerdo estavam prateleiras com, o que pude presumir, livros.  No canto direito havia algo grande coberto por um lençol branco.

Abri um pouco as portas para ver se não estavam trancadas. Ela rangeram,  fazendo com que um arrepio percorresse meu corpo.

No meio da sala tinha uma janela.  Não foi difícil abri-las. O cheiro de mofo estava realmente me deixando mal...

A luz inundou o lugar, trazendo - lhe vida.  Como eu tinha visto algumas prateleiras no canto esquerdo. E no canto direito algo coberto.

O que poderia ser?

Quando tirei o pano de cima fiquei surpresa. Era um piano de corda. Um lindo piano preto muito bem conservado.

Há quanto tempo estaria aqui?

Sentei no banco deixei meus dedos dançarem sob as teclas. Não demorou muito e a melodia inundou o local... Era tão calma e pura que podia ver suas notas dançando no ar...
Lembrei daquela música... Mamãe tocava pra mim quando eu era criança.
Continuei tocando. Minha alma estava tranquila e em paz. Me senti em casa... Mas minha paz foi interrompida por um tapa. 
—O quê... O que faz aqui?!
—Eliza...
— O que faz aqui garota?
A pequena garota de olhos vermelhos me encarava sem fôlego.  Parecia furiosa.
— Eu acabei me perdendo então eu...
—Saia daqui!
Outro tapa atingiu meu rosto, fazendo - me cair no chão.
Sua pequena coelho também parecia com raiva, pulou no meu colo e com suas unhas arranhou meus braços e pescoço. 
—Para! — Gritei.
— Nunca mais venha a este lugar!  Não é digna de estar aqui! Você não sabe como é difícil perder alguém especial, alguém que você amava então não se aproxime! Você é só uma serva inútil! Ramon deve ter cometido um erro terrível quando te invocou!  Volte pro seu mundo estúpido e nos deixe em paz! Sua...
— Eliza! — Alguém a interrompeu.
Olhei para a porta da Sala. Todos estavam lá.
Eu não queria chorar. Não na frente deles.  Eu não iria chorar.
Me levantei e saí correndo.
Passei por Morgana e Ethan antes que me parassem.
Corri o mais rápido que podia.
Talvez se eu corresse muito, minha dor se transformaria em cansaço. 

Amor entre mundos (Readaptação)Where stories live. Discover now