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Depois que arrastei o cavalete e a pintura para longe, tampei os ouvidos em concha olhando-o. Me perguntei por quê o mar não fazia o mesmo barulho da agitação das ondas? Meu desenho estava verdadeiramente mal representado.

O arrastei para perto novamente, e então bufei.

Não tinha o por que de continuar lhe desenhando.

No segundo dia quando o sol irradiava fora das janelas de meu ateliê, sentado em meu banco de madeira, e o cavalete posto no piso de portobello, o olhava de longe novamente, vendo agora uma paisagem que desenhei com muito esforço, em uma chuva sombria intensa da noite. Toquei meus ouvidos em concha, e fiquei em silêncio.

Por que eu não escutava o barulho dos pingos grossos da chuva intensa?
Revirando os olhos, arrastei o cavalete para longe. apreciando apenas de uma xícara de chá em camomila.
No domingo a tarde, pintei o nariz fino esbelto, e dei pinceladas no rosto adornado oval.

Nos lábios dei uma pincelada em tom mais escuro vermelho, e franzi os lábios em um sorriso.

Arrastando o cavalete para longe, e se posicionando em meu banco, de longe fitei aquele retrato.

Fixei tempo a mais na caricatura, e nas cores daquele rosto, então comecei a tapar os ouvidos. Mas no mesmo instante parei por alguns segundos.

Pensei, e pensei.

Sorri, aquele quadro sim era uma representação para meu humor.

Na segunda feira, quando Agosto entrava inundando com sua frente fria, sentei de frente para o quadro.
E fitei, sorrindo, o toquei. Antes de continuar a desenhar mais traços.

Na terça feira, enquanto a água borbulhava pro café ser coado, pintei mais traços, pincelando seu cabelo, escolhi tons ruivos cobreado em laranja lima.

Na quarta feira terminei, pintando seu rosto. Horas depois, tocando-o ali. Fixando tempo a mais nos próprios olhos desenhados por mim, deitei a cabeça pro lado em firmeza.

Na quinta feira, sentado no banco de frente a estante, terminei de ler a um livro.
Sentando-se de frente ao retrato, fiz algo inusitado.

- li hoje um romance clássico sabia? - falei para a pintura

Como se um choque em um curto circuito tivesse explodido, arregalei os olhos, e fechei a porta do ateliê correndo as presas.

Na sexta feira, quando a insônia me impediu de dormir, entrei no ateliê.
Toquei o retrato, e suspirei derrepente.

- sabe, não consigo dormir

Como se aquilo não fosse o bastante para achar que estava enlouquecendo, não liguei em achar que estava me sentindo só.

- não é como se algum dia você vá me responder, mas estou cansado de não poder ter uma noite de sono tranquila.

No sábado, quando a fumaça do café subia pelo ar, e os meus olhos fixava na pintura, toquei-a de novo sentindo como se estivesse apaixonado pela mesma, me encantado.

Vendo a fisionomia criada por mim, naquele retrato masculino, corri para longe do ateliê, o trancando com a chave, assustado.

No domingo, quando virei o corredor, a porta me chamava para entrar ali, engolindo em seco. Me recusei a entrar.

Na segunda feira de noite, quando na sala de estar, sobre a televisão passava lacrosse, meus olhos fixava na porta do corredor para entrar ali.

Suspirando cansado de ter medo, daquilo que criei.

Abri a porta ouvindo a chave ser virada.

Caminhando até o banco, e arrastando o cavalete junto ao quadro, franzi o cenho.

Olhando para a pintura perdido, sendo encantado por ela novamente, tentei desviar os olhos. Mas o retrato ali, me fez fixar ainda mais nele.

Tentando desviar. Tentei tapar os ouvidos para esquecer dessa pintura.

Mas não consegui.

Aquele no retrato me encarava encantado.

Respirando ofegante, machucando meus próprios fios de cabelo.

Desviei os olhos da pintura tampando os ouvidos em concha.

Mas não consegui novamente.

Meus olhos se fixou naquele rosto de novo.

- pare de me olhar assim! - gritei frustrado em lágrimas bagunçando meus próprios fios loiros.

A pintura fixava ainda mais sobre meus olhos.

Exasperado em frustração, correndo até o quadro, fazendo o cavalete ser derrubado no chão com o baque, segurei pronto para acabar com aquele retrato.

Meus dedos correram para os pincéis manchando aquele retrato de todas as formas possíveis. Assim que a pintura de antes não tinha mais aquele rosto, sorri.

Vendo de longe, era como se ele nunca tivesse existido.

Pegando o quadro do cavalete, e o enfiando debaixo do braço, o joguei no chão tampando os ouvidos.

Pensei por alguns segundos, e refleti, do porquê não ter uma voz?

Agora abaixando-me, virei o quadro de volta.

Assustado, caindo para trás indignado, sentindo minhas costas baterem no banco atrás de mim. Aceitei o fato de que estava enlouquecendo.

Olhando para o quadro, ali somente o vi em branco, onde jamais fora sido desenhado ou pincelado.

Psyché | hyunho ♡Donde viven las historias. Descúbrelo ahora