Ataques sem impressão

1.9K 271 28
                                    


Mais uma vez eu sonhei que estava naquela sala escura, só que não tinha apenas aquela silhueta pálida com o rosto irreconhecível, mas também aqueles olhos vermelhos tão vibrantes quanto a Lua.

Era incapaz de ver seu corpo, parecia apenas duas bolinhas queimando e desejando-me.

Estava com um certo medo.

Acordei quase cinco da manhã sem conseguir pregar os olhos outra vez. Sono eu tinha, só não coragem de fechar os olhos e sonhar com isso de novo.

Nesse momento eu estava sentado na poltrona em frente a janela do quarto, vendo o nascer do Sol e encarando a floresta escura por dentre os arbustos. Tão vazio. Tão obscuro.

Fiquei muitos minutos assim.

Tinha tantas perguntas na cabeça e pensar nelas acabou me fazendo tirar uma soneca ali mesmo. Sentado numa postura desconfortável.

Ao menos o cobertor me esquentava. Forks estava muito mais fria do que ontem, dessa vez sem chuva, os céus estavam cobertos de nuvens cinzas que tampavam quase toda a beleza do Sol.

Uma mistura formosa a olho nu.

Horas depois, nem imaginava o quanto consegui descansar naquela poltrona, mesmo numa posição ruim. Meu pescoço doeu quando acordei e tentei me mexer. Olhei o relógio.

11:30

A essa altura não sabia se Charlie havia chegado em casa ou saído para ir ao trabalho. Não vi nenhum rastro dele quando desci para a cozinha, nenhum copo sujo, nenhum sapato no chão ao lado de fora da casa, nem mesmo seu chapéu de xerife escorado atrás da porta.

— Que estranho, ele nunca ficou uma noite inteira fora de casa. — Refleti sozinho perto da porta da cozinha, parado de frente para a escada que levava ao andar de cima.

Voltei ao quarto. Vez ou outra tentando estalar o pescoço para ver se a dor passava. Ficava pior a cada minuto.

Me peguei indo direto pro banheiro tomar um banho quente para tirar as imagens da noite passada da cabeça, esquecer o sonho que tivera a pouco tempo atrás. Nada resolvia, nem mesmo a água mais quente do mundo.

Passei o shampoo preferido de morango da mamãe, que também era o meu. Ambos com o mesmo gosto. Gostava de ficar cheirando ele, a vontade mesmo era de comer.

Minhas mãos se encontravam cheias de espuma, aproveitei para brincar um pouco, não esquecendo de esfregar o corpo com a minha esponja vermelha. Deixava com que a água acalmasse meus músculos e aliviassem toda a região do meu pescoço, onde a dor já se fazia ausente.

Não tinha nenhum compromisso para hoje. Acho que passaria minha tarde inteira comendo besteira e lendo livros. A TV de Charlie não pega filmes e em dias como esse não passava nada de bom.

Coloquei qualquer peça que encontrei no guarda-roupa, hoje era meu dia de ficar em casa só de molho. Uma camisola rosa enorme que me deixava gordinho, uma calça de moletom preta e uma meia do Mickey. Nada combinava. Mas quem liga? Os quadros estranhos de Charlie?

Fiz pipoca e preparei um suco de laranja. Subi ao quarto e me enrolei na coberta, a ponta dos meus dedos dos pés estavam geladas e conforme eu ficava ali eles esquentavam.

Liguei o celular. Não foi fácil encontrar uma música boa para acompanhar minha leitura de A Revolução dos Bichos. Nenhuma era boa para o momento, optei então por ficar só na melodia das folhas das árvores se chocando umas com as outras com a ajuda da ventania lá fora.

Abri a primeira página. Não tinha saído dela. Mergulhei naquela história que de começo não me interessou tanto, mas com o passar do enredo minha curiosidade foi aumentando.

INNOCENCE • JIKOOK • (Em revisão)Where stories live. Discover now