i'm not ready to die.

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Nunca imaginou que estaria naquela situação, deitado na estrada vazia enquanto sangrava, e o causador de tudo isso ligando o motor de seu carro e fugindo dali como se nada houvesse acabado de acontecer, os segundos pareceram longas horas, não sabia se estava consciente ou prestes a morrer por perda excessiva de sangue, se bem que por um momento, a morte não parecia ser ruim. Não havia nenhuma sirene e as luzes pareciam fracas pela visão turva das lágrimas que insistiam em cair até agora.

As lágrimas quentes ainda estavam em suas bochechas, mas agora trilhavam o caminho para as orelhas pela posição que estava, era incômodo, porém não tinha força o suficiente para fazer algo. Como um filme, o tempo pareceu passar cada vez mais devagar para Serim, o fazendo lembrar de cada detalhe de sua vida até então; se lembrou de um dia da escola, quando o jogaram na piscina sem o garoto saber nadar, o primeiro dia que ficou perto da morte, mas também foi a primeira vez no qual teve um Salvador, que o tirou da piscina antes que morresse.

Momentos de alegria com esse tal Salvador também foram lembrados, como a primeira vez que eles se visitaram, onde fizeram uma noite de karaoke, a única parte ruim foi a bronca que Serim havia recebido dos pais após isso, e então apenas memórias tristes vieram, seus pais proibindo de que visse o amigo que havia feito, não entendia o porquê deles o quererem afastado de seu filho, sendo que era a primeira vez que Serim se sentia bem com alguém de sua idade; os encontros com ele passaram a serem escondidos, onde falavam besteira por horas seguidas e riam. Ele precisava urgente do seu Salvador, mas ao pensar nisso, também se lembrou das cruéis palavras que disse ao mesmo.

'Você só me atrapalha, Song Hyeongjun!', a cena passava em sua mente, ele gritando com o mais novo e o olhar do outro lentamente perdendo seu brilho natural. 'M-Mas Serim, eu só estou tentando te ajudar' foi a resposta que havia recebido, a voz embargada demonstrava que estava á um fio de desabar em um choro doloroso, 'Cala a sua boca! Você nunca me ajudou, só vem para minha casa e acaba atrapalhando ainda mais, eu não preciso de você!' e então o mais novo chorou, correndo para fora e batendo a porta principal com força, essa foi a pior lembrança que poderia ter naquele momento, e com certeza, se pudesse voltar no tempo, iria desdizer aquelas palavras e acolher o pequeno garoto - ou como chamava, Pequeno Junnie - em seus braços, mas agora não podia.

A cada lembrança que surgia em sua mente, seu corpo enfraquecia mais e mais, desfalecido na estrada e a esperança se esvaindo. Não estava preparado para morrer, ainda não, e naquele instante a morte já não era mais um bom destino, ele precisava viver mesmo que não estivesse conseguindo passar por todas as dificuldades familiares e de aceitação própria, ele realmente precisava viver para consertar o que foi quebrado, desdizer aquelas palavras, encontrar a esperança na falta dela, sair desse desastre... Mas como? Precisava se refugiar em si mesmo, ou algum Salvador novamente? Devia rezar? Como poderia reviver das cinzas e quebrar as correntes que o prendiam ao fracasso sem ao menos saber o que fazer para isso? Foi quando percebeu, por baixo de toda raiva que ele teve de Hyeongjun por um momento, tinha uma música triste que ecoava em sua mente, o fazendo se lembrar daquilo, mas tinha também um lar, aquele lar que sempre teve desde o dia do afogamento, o lar apenas dele.

— Hyeongjun... - A voz falha se fez presente. - Eu preciso de você.

— SERIM HYUNG! - O grito do mais novo encheu Serim de esperança por um instante. Ele tinha ido o procurar pelas ruas...

A visão turva dificultou, porém conseguia ver o garoto correndo pela calçada, e depois na sua direção. Ele se ajoelhou, segurando a mão de Park, ensanguentada e segurou o choro, olhando para o rosto atordoado e machucado.

— Serim, consegue me ouvir?

— Sim...

— Okay... Vou chamar uma ambulância para te ajudar. - Ele disse um tanto desesperado e tirou o celular do bolso, discando o número. - E desculpa te atrapalhar de novo.

— Você não atrapalha. - Serim praticamente sussurrou, sua voz estava tão rouca que talvez ele não tenha entendido direito o que falou. - Eu disse besteira naquele dia, mas não é tarde demais para construir nossa amizade novamente, porque ainda é uma chance, e eu quero aproveitá-la...

E o corpo fraquejou novamente, deixando Hyeongjun assustado. Serim sentiu a morte ao seu lado novamente ao revirar um pouco os olhos, mas o mais novo conseguiu com seu treinamento básico de primeiros socorros o reanimar por um tempo, e então passou a estancar o sangue do grande corte da barriga dele com seu casaco.

— V-Vai ficar tudo bem, eu juro. - Ele olhou para os lados, começando a dar as informações do local e do ferido para o telefone, e logo desligou. - Não deve demorar para chegar, você vai ficar bem, e...

— Você pode me dizer o que quiser, mas não diga que eu não morreria por isso. - A dor aguda no ferimento fez o garoto se mexer, e Song impediu. Serim logo começou a chorar, suplicando. - Por favor... Eu estou ajoelhado e eu preciso que você seja meu o Deus, seja minha ajuda, seja o meu Salvador de novo... Eu preciso consertar o que foi quebrado, desdizer aquelas palavras que eu te disse, encontrar esperança na falta dela, me tira desse desastre, por favor... Me tire... Me tire...

As palavras acertaram como facas o coração do pequeno Hyeongjun, que se pôs a chorar enquanto abraçava o amigo, não sabia o que fazer e não podia perder o amigo daquela maneira tão brutal. Ergueu a cabeça, procurando as sirenes e a luz vermelha, indicando a emergência da situação, e logo foram possíveis de serem escutadas.

Finalmente um sinal que precisava.

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