Capítulo 07

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  — HOUSTON? — PERGUNTEI, ERGUENDO AS SOBRANCELHAS QUANDO chegamos ao portão em Seattle.

  — Só uma escala — garantiu-me jungkook com um sorriso.

Parecia-me que eu mal tinha dormido quando ele me acordou. Estava grogue enquanto ele me puxava pelos terminais, lutando para me lembrar de como abrir os olhos a cada vez que piscava. Precisei de alguns minutos para perceber o que estava acontecendo quando paramos no balcão internacional para fazer o check-in de nosso próximo voo.

— Rio de Janeiro? — perguntei com um leve tremor.

— Outra escala — disse-me ele.

O voo para a América do Sul foi longo, mas confortável, no amplo assento da primeira classe, com os braços de jungkook à minha volta. Dormi e acordei incomumente alerta enquanto fazíamos um contorno para o aeroporto com a luz do sol se pondo através das janelas do avião.

Não ficamos no aeroporto para pegar uma conexão, como eu esperava. Em vez disso, pegamos um táxi pelas ruas escuras, apinhadas e vivas do Rio. Incapaz de entender uma palavra das instruções em português que jungkook dava ao taxista, imaginei que eram para encontrar um hotel antes da próxima parte da viagem. Uma pontada aguda de alguma coisa muito parecida com o pânico da estreia contorceu a boca de meu estômago enquanto eu pensava nisso. O táxi prosseguiu em meio ao enxame de gente até que de algum modo este se tornou menos denso, e nos aproximamos do mar.

Paramos em uma marina.

Jungkook seguiu na frente pela longa fila de iates ancorados na água escurecida pela noite. O barco diante do qual ele havia parado era menor do que os outros, mais estreito, obviamente construído para ser veloz, e não espaçoso. Ele saltou para o barco com agilidade, apesar das malas pesadas que carregava. Largou-as no convés e virou-se para me ajudar a transpor a borda.

Observei em silêncio enquanto ele preparava o barco para a partida, surpresa com a habilidade que demonstrava, pois ele nunca mencionara qualquer interesse em barcos. No entanto, ele era bom em quase tudo.

Enquanto seguíamos para o leste em mar aberto, analisei a geografia básica e minha mente. Pelo que eu podia me lembrar, não havia muito a leste do Brasil...  até que se chegasse à África.

Mas jungkook acelerava enquanto as luzes do Rio diminuíam, e por fim sumiram atrás de nós. Em seu rosto havia um sorriso de extrema felicidade que eu conhecia, aquele produzido por qualquer forma de velocidade. O barco mergulhava nas ondas e eu era borrifada com a água do mar.

Por fim a curiosidade que reprimi por tanto tempo me venceu.

— Vamos muito mais longe? — perguntei.

Não era próprio dele se esquecer de que eu era humano, mas me perguntei se pretendia que morássemos naquele pequeno barco por algum tempo. — Mais quatro horas. — Seus olhos pousaram em minhas mãos, agarradas no banco, e ele sorriu.

Ah, bem, pensei comigo mesmo. Ele era um vampiro, afinal. Talvez estivéssemos indo para a Atlântida.

Algum tempo depois, ele chamou meu nome acima do rugido do motor.

— Jimin, olhe lá. - E apontou à frente.

De início, vi apenas escuridão e a trilha da lua branca na água. Mas procurei no espaço para onde ele apontava até que encontrei uma forma escura interrompendo o luar nas ondas. Enquanto eu semicerrava os olhos no escuro, a silhueta se tornava mais detalhada. A forma cresceu num triângulo irregular e achatado, com um lado estendendo-se mais do que o outro antes de mergulhar nas ondas. Chegamos mais perto e pude ver que o contorno oscilava na brisa leve.

Do crepúsculo ao amanhecer ( Jikook ) Onde histórias criam vida. Descubra agora