CAP. //1//

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Gwyn

-Sabe, eu não sou de vidro.- Eu disse, lançando um olhar para Azriel. -Minha pele pode até ser brilhante, mas eu não quebro.

Havia encontrado com ele no ringue de treinamento da casa por acaso.
Tinha acordado em um sobressalto. Sempre o mesmo pesadelo. A cabeça de Catrin sendo jogada em meus pés, meus gritos agudos e meu choro estridente. Ainda escuto a voz daquele comandante, "Podem se divertir com a ruiva, façam ela falar". Depois disso eu só me lembro das mãos em meu corpo.

Da voz da minha mãe, dizendo que falhei com minha irmã.

Da voz da Sacerdotisa chefe, dizendo o quanto eu fui irresponsável.

A voz da própria Catrin, repetindo a frase que me falava todo dia, "Eu posso até ser a mais bonita Gwyn, mas você tem o coração e a alma mais puros e cristalinos que eu já vi"

Tenho certeza de que ninguém mais pensa assim.

Subir no ringue foi a opção que encontrei para me manter acordada, já que estava com medo de dormir e os pesadelos voltarem.
Mas quando cheguei na porta Azriel já estava treinando.

Ele socava o tronco envolto de colchonetes que nós usávamos no treinamento. Não queria atrapalhar então, silenciando meus pés, fui andando de ré. Mas já era tarde de mais.

-Você sabe que eu sei que está aí, não?- Perguntou ele, com um sorriso torto no rosto.

-É claro que sei, se não iria considerar que perdeu o dom da espionagem!- Retruquei, espelhando no meu rosto aquele sorriso.

Esse sorriso causou uma sensação que, até agora, tinha sentido apenas lendo os livros indicados por Emerie e Nestha.

-Então porque silenciou seus passos?

Como ele sabia??

-Não queria atrapalhar você, quer dizer, mais do que já atrapalhei.

Ele solta uma risada abafada.
-Não tem problema, se quiser pode ficar e treinar comigo.

Isso não seria de todo mal. Eu poderia pedir ajuda, tem alguns truques que quero aprender.
-Pode ser.- Volto meu olhar para ele, reparando que estava sem camisa.

Apenas dois sifões azuis adornavam suas mãos, as mesmas enfaixadas com faixas e gazes pretas.
Meu olhar sobe para seus ombros e peitorais tatuados. Descendo mais um pouco vejo seu abdômen, extremamente definido.
Essa imagem, sejamos honestos, é mil vezes melhor do que qualquer fantasia que criei em minha mente.
Ele repara que estou olhando para ele. Correção, ele repara para ONDE exatamente eu estou olhando.

Ele levanta um sobrancelha, seus lábios formando uma curva para cima.
Sinto minhas bochechas corarem.

-Quer que eu vista minha camisa?- Sua voz rouca banhada em humor.- Ou gosta do que vê?

-Não precisa, a vista é ótima daqui.
Se ele quer brincar, brincaremos então.

Sua face apresenta surpresa, divertimento e mais uma coisa que não sei definir. Seria aquilo, orgulho?
Meio narcisista, não?

Azriel

- Desculpe, só não queria que se sentisse desconfortável.

Ela arqueia uma sobrancelha.
- Você me tocar não me deixa desconfortável, eu confio em você.

Essa frase, e o sorriso que ela deu após, amoleceram uma parte dele.
Ela confiava nele.
Gwyn, a sacerdotisa que ele salvou a pouco tempo, e a quem pouco conversou, confiava nele.
Não sei porque, mas isso aliviou algo dentro dele.

Gwyn&Azriel - Sombras e canções Where stories live. Discover now