Sob os jasmins

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O garoto de cabelos castanhos não parece entender que eu quero silêncio. Ele continua tentando falar comigo. Seu nome é Thiago. Meus pais vinham falando dele há muito tempo. No começo eu não prestava muita atenção: eles só citavam o nome dele em conversas casuais, em diálogos desnecessários sobre seus pais. Porém, de repente eles começaram a falar com certa frequência sobre como ele era educado, como tirava notas boas, como era bonzinho com seus irmãos, como incrível nisso e naquilo. Para mim ele era só um filho dos novos amigos dos meus pais, e que bom para ele se ele era tão bom.  Então, um belo dia, minha mãe disse que queria falar comigo, que seus amigos iam jantar em nossa casa e trazer o filho mais velho - e dá-lhe elogios ao bendito- e que eu devia ser educada com ele.

Me vi sem opções: o jantar seria no Sábado e eu estava proibida de sair. Meus planos eram comer, não olhar na cara dele, não trocar nenhuma palavra e me mandar para o meu quarto o quanto antes. Mas ele não vai embora tão cedo. Seus pais estão animadíssimos, conversando com os meus. Posso ouvir risadas vindas da varanda. 

- É ruim para mim também, Olívia. Ou você acha que eu queria estar aqui? Vai me ignorar o resto da noite? Tá bom. Mas saiba que eles não vão embora antes da meia-noite. Sua mãe te conhece muito bem, sabe como você é cabeça-dura. Quer dizer, não tem como discordar, olha pra você...

Eu apertava os punhos e respirava fundo. "Não ouve ele, Olívia, não dá bola..."- repetia para mim mesma, internamente.

Ele se levantou e começou a andar pela sala como se andasse por um museu. Cada badulaque era observado por longos segundos. Havia um pote plástico transparente na estante em que fica a TV. Ele pegou.

-Paçoca? Quem guarda comida na sala?- Ele pegou três, deixou o pote aberto, voltou para o sofá e comeu.

Droga. Se meus pais querem que eu me case, poderiam ter escolhido alguém minimamente educado.

-Você vai ajuntar essas migalhas, seu estrupício- quebrei meu silêncio. Que se exploda, também. 

-Hmmm, você resolveu falar- falou com a boca cheia de paçoca.